sábado, 30 de agosto de 2008

DADO AOS DEDOS


Meus cinco dedos da mão direita
são tempo, cor, violino, dor,
fantasia.

Aponto o hoje, anel de verde,
toco o amanhã, dedilho lágrima,
sorriria.

Mas meus dedos da mão esquerda
são pedra, breu, fogo, eu
e o que ninguém seria.

Furo o chão, apago o não, nego o teu,
escrevo o meu e, com a unha,
risco poesia.


(Carlos Correia Santos. Do Livro Delicare)

A FALA NUA NAS BOCAS DE ADALGISA, MURILO E ISMAEL




ADALGISA (vestindo as calças, o paletó e pondo o chapéu do figurino de ISMAEL, falando num tom firme): O ser humano é uma criação de sua própria mente e da mente do outro. É, na soma final dos sentimentos, um ente organicamente formado pelas emoções encerradas em si mesmo e pelas emoções que provêm do coletivo. Um ser humano, portanto, é igual ao pedaço do seu eu somado a um terço do vizinho, à metade de qualquer conterrâneo e ao inteiro de quem desconhece!...

MURILO (colocando o vestido e os sapatos de ADALGISA, falando num tom forte): Desta forma, somos todos nós um pouco da forma de tudo e de todos. A minha vontade é, já foi ou será a vontade do meu amor. O meu desejo é irmão gêmeo do desejo de quem odeio. Parte do meu riso é igual ao choro de quem está ao meu lado. E eu choro todas as gargalhadas de quem passa longe de mim...

ISMAEL (colocando em si as calças, o paletó e os óculos de MURILO, falando num tom vigoroso): E não adianta querer encontrar em nosso peito algo que não more no peito de mais ninguém. A humanidade é, toda ela, interligada pelas mesmas artérias: a cobiça, o afeto, a violência, a ternura, a resignação, a vaidade!... Irriga nosso espírito um só sangue universal, o plasma da diversidade única!... Dormimos todos num mesmo leito... Sonhamos, acima de tudo, em nos transformar... no outro!...


(Trecho do texto teatral NU NERY, de Carlos Correia Santos. Obra vencedora do Prêmio IAP de Literatura, do Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro, da Caravana Funarte Petrobras de Circulação Nacional, do Edital Caixa Cultural. Espetáculo montado pelo Grupo de Teatro Palha, com direção e encenação de Paulo Santana. Escolhido para o I Festival Brasileiro de Teatro de Itajaí, Santa Catarina)

ATÉ MEUS PÉS JÁ SABEM QUE DÓI ANDAR PELA IMENSIDÃO




Até meus pés já sabem que dói andar pela imensidão.
No trajeto até um companheiro,
há mais de mil cacos de vazio.
Como sangro por caminhar...

Até meus pés já sabem que dói andar pela imensidão.
Tomo atalhos de eu para chegar a outrem
e lá ninguém, lá ninguém.
Como sangro por caminhar...

Até meus pés já sabem que dói andar pela imensidão.
Só no fim da estrada desse nunca,
meus sapatos de tranquilidade.
Só no fim...
Como sangro por caminhar.

Até meus pés já sabem...
E só por isso imenso piso,
por isso imenso passo,
por isso imenso vou.

Como amo o que sangro por caminhar...


(Carlos Correia Santos)

EUSEMMIM.COM.BR




Em qualquer canal de TV, madrugada.
Até o último beijo do último filme dos anos 50.
Em qualquer @ roubo d’alma teclada,
em que “site” minha noite afora já entra?

Quem está ai que aqui não está?
Muito prazer! Que prazer há de haver?
Meu nome, na verdade, não é de verdade.
Mas talvez o poema que sou não chegue a te comover.

Na TV, chuva. Lá fora, chove. Dentro de mim: gotas.
Na outra tela, a espera por outra tela que o irreal erre.
Mas o virtual é um virtuoso tornar passado o presente
e eu aqui só fico nesse “eusemmim.com.br”.


(Carlos Correia Santos. Do livro Poeticário, RKE, 2005)

O OLHAR DE HELDER BENTES PARA IN DIVISÍVEL


Imagine um livro de poemas que é todo poesia desde o título, uma gradação de raízes verbais (poet- de poetar; poetic- de poeticar) arrematadas por um sufixo (-io) cuja idéia encerra um espaço onde a poesia jaz enclausurada em cheiro de livro sempre novo, senhora de um tempo incontável e de um espaço sem pontos extremos e sem limites. Assim é o livro Poeticário, de Carlos Correia Santos, que será lançado hoje em Belém.
Como o autor não é um poeta qualquer, posto que quaisquer jamais seriam poetas, sei que a mídia já está fazendo muito barulho em torno deste evento e, para não ser repetitivo, quero comentar mais um poema de Poeticário. Sim. Mais um. Pois já publiquei, no artigo 'Alicerce virtual para poesia real', comentário sobre o poema 'Eusemmim.com.br' (p.157).

Hoje apresento-lhes o poema IN DIVISÍVEL (p.17), uma obra marcada pela peculiaridade lúdica de quem tem no sangue o dom inato de decompor palavras para produzir significados.

Tenho prazer:Por ti 'pra'E por mim 'zer'. Dividido entre ti e você, Univido amor. Ah, o mor entre o bem e o querer.
Desde o título do poema, o autor serve-se da forma 'in' – que como expressão inglesa, preposição latina, abreviatura, símbolo ou prefixo já é plurissignificativa – e faz um trocadilho com a palavra 'divisível' apenas sugerindo que o 'in' seja um prefixo de negação.

No corpo do poema, o indivisível divide-se, para configurar a poesia, e a primeira sílaba de 'prazer' vira preposição que conecta um ponto de partida, o eu lírico (e por mim 'zer'), a um ponto de chegada (por ti 'pra'), não necessariamente nesta mesma ordem, como convém a um poema de verdade.

O eu é dividendo cujos divisores são desdobramentos de um amor unividido, para utilizar o particípio do verbo 'unividar' (criado pelo poeta de acordo com os padrões de formação de palavras portuguesas).
O amor aparece como o maior, mas o adjetivo que o qualifica aparece em forma sincopada, que e é também a mesma forma da segunda sílaba de 'a-mor' e está entre o bem e o querer.

Se o leitor seguir as pegadas sugestivas do poeta, ele supõe o significado de 'unividar' e o preenche concretamente com suas próprias experiências de amar.

Há um divisível em todo ser:Um quebrar-se só sem só-frer, Um subtrair-se só para só-mar.

E o divisível que há em todo ser revela-se no quebrar-se (dividir-se). Quebrar-se vira substantivo que apenas tenta descrever o fenômeno da divisão que é sem solidão e não apenas com sofrimento. Subtrair-se também vira verbo cuja ação é exclusiva e seu objetivo é também sua antítese.

Há um 'in' divisível em todo ter. Tenho no que te há o que ver: tenho há-ver. Tenho em ti meu você, meu mor ar, meu morar

A última estrofe refere-se ao 'in' de indivisível agora como toda afirmação que vem implícita em toda negação. E o que outrora fora dividido agora se recompõe no objeto da visão do eu lírico, que é o que acontece a seu amor – o que justifica a divisão de haver em 'há-ver'. E a posse do eu é o objeto de seu amor, seu você, seu maior ar, seu morar.
Não é lindo?

Quem disse que poesia feita por paraense tem de ter aqueles apelos regionais?Os outros significados sugeridos no poema deixo a critério da interpretação de vocês, leitores.


Helder Bentes - Professor e Crítico Literário.

domingo, 24 de agosto de 2008

PREFÁCIO DE PAES LOUREIRO PARA POETICÁRIO


NÃO HÁ CHAVE PARA O MISTÉRIO...


(...) O livro Poeticário de Carlos Correia Santos é um livro de poesia. Poeticário, já no seu nome, estimula jogar-se ao gosto do poeta, com os algorítimos da palavra título. Poeticário. Poe. Ética. Rio. Poética. Poético. Icário! Logo em seguida, oferecendo como chave ao cofre simbólico de seu procedimento poético, numa epígrafe explicativa, diz sonhar o significado das palavras do dicionário. Quer dizer, não é na lógica da razão da língua que ele vai buscar o sentido das palavras da tribo dos seus poemas. É na imaginação. No sonho.

A poesia de Carlos Correia Santos, neste livro, usa as palavras ou a linguagem, como quem faz dobraduras de papel. Uma espécie de "origame" de palavras, dobrando as sílabas, vincando fonemas, fazendo brotar de palavras imprevistas palavras. Cada palavra como um cofre de palavras. Espelhos paralelos de significações e formas. Sabe contornar o risco daí decorrente, isto é, deixar que o prazer do jogo verbal se torne artifício. Mesmo que fossem artifícios de um artífice. O poeta sabe muito bem evitar esse risco. E também sabe que poesia se faz com palavras, é verdade, mas palavras carregadas de significação.

(...) Penso que a poesia é a encantaria da linguagem. O poeta é um pescador com o anzol do imaginário, sentado na várzea do devaneio. No rio da linguagem padrão ele mergulha a sua linha e vai buscar essas entidades submersas na língua, na cultura, na memória para torná-las a própria superfície sensível do rio-poesia-linguagem. No anzol pode vir uma imagem, um pedaço de palavra, um submarino sonho naufragado.

Em Poeticário há bons exemplos desses mergulhos na encantaria da linguagem. "Nada, nada que se compreenda" é um deles. Outro é "Blues". Aqui há desconcerto do mundo, da língua, do verso. O verbo concebido com pecado. Há uma espécie de neo-romantismo pós-moderno, o prazer da ironia, uma discreta picardia da instigação delicada.

Há, também, o gosto de jogar com a expressão, de surpreendê-la, de surpreender com ela. Não propriamente com trocadilhos. Talvez, pelo gosto do paradoxo (Desatina!, diz a rotina). Não é uma poesia que busque o vasto campo das significações da cultura ou da tradição técnica. Quer a brevidade, a transitoriedade das coisas, o instante eterno que passa (Tod'Efêmero). Flexiona o verbo de modo inusitado e provocador de novas flexões. Violenta a língua padrão para enveredá-la no bosque do desvio da norma, a fim de poetizá-la. Busca o contraste, as inversões – da norma, da língua ou da significação (Familiário). Domina o ritmo e joga com ilusórias dissonâncias, quando se pensa que vai cair no esperado. Muitas vezes sugere um poema hermético. Pura ilusão. O poema quando lido, relido, lido, se vai abrindo como as portas de um mistério (Ecos de egos).

Todo poeta é um vidente da infância. Não como quem faz o caminho do retorno. Mas, aquele que leva a infância, instalando-a onde demarca seu reino de utopias. Ou então, buscando-a sempre no futuro. Não a infância como estado. A infância como liberdade de ser a de se incorporar no mundo como linguagem livre. Como afetividade aurática. Essa afetividade em plenitude da infância que enlaça o poeta ao mundo e que faz o estranhamento cativante do leitor com relação a ele. O poeta: um ser alado e leve, como queria Platão. Quer dizer: um homem adulto pesado e terrenal com a infância o tornando leve e alado.

Carlos Correia Santos é poeta. Preserva a dignidade viva e dinâmica da língua. Celebra sua energia sem a ela submeter-se. Como um amante a ela se submete enquanto a submete. Sabe acariciá-la no enlace devoto, mas, também, sabe dobrá-la quando a paixão de criar requer. Semelhante ao domador de uma égua selvagem, domina a língua pela cauda, para, ao mesmo tempo, cavalgá-la. Como poeta, já demonstra sua originalidade e quer ocupar o seu lugar distinto. O merecido lugar dos criadores, na mente e no coração dos que o lêem.



João de Jesus Paes Loureiro (Poeta e Professor de Estética)

sábado, 23 de agosto de 2008

E-MAIL DE JOSÉ LOUZEIRO PARA CARLOS CORREIA SANTOS


Seu teatro prima pela criatividade e expressividade do texto. Sem nenhum exagero e muito menos bajulação eu o considero um dos maiores talentos da nova dramaturgia brasileira. Desculpe se nos correspondemos pouco. Sou mal de cartas e ruim de e-mails, o que não significa que menospreze seu talento. Muito sucesso e muita saúde pois você, estou certo, tem pela frente um largo caminho a percorrer.


José Louzeiro, célebre romancista brasileiro, autor de obras como “Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia” (21/08/2008)

OLGA SAVARY: SOBRE CARLOS CORREIA SANTOS


Da complexidade do ser, da própria solidão e solidariedade do ser humano, da sua simplicidade e estranheza, são realizados os textos de Carlos Correia Santos, seja na poesia, nos contos ou no teatro. Sua dedicação à cultura e à Arte faz deste autor paraense, deste grande brasileiro, um candidato constante às premiações importantes nas áreas citadas: poesia, ficção, peças teatrais. Assisti com orgulho à premiação obtida por ele no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, em 2006. Carlos Correia Santos destacou-se entre dezenas e dezenas de concorrentes. Seu talento impulsionou-o a sobrepujar os demais candidatos ao Prêmio CCBB. Uma platéia seleta e atenta assistia e tinha o direito de votar no melhor participante. A literatura e a arte foram os meios de expressão eleitos por Carlos Correia Santos, que bem poderia pertencer à Academia Paraense de Letras. Seria uma honra para a APL tê-lo junto aos Acadêmicos, que só teriam a ganhar. Além de seus méritos pessoais no trabalho em seus livros, em tudo o que faz, Carlos Correia Santos é um guerreiro, um lutador pela cultura geral e pela cultura paraense em particular, sem falar na sua esplêndida atitude como pessoa, em sua admirável postura da vida e dos outros. Pela extrema elegância e gentileza, pela classe e nobreza com que se conduz em tudo, Carlos Correia Santos é um príncipe. Orgulho-me de ter o privilégio de ser sua fraterna amiga.
Olga Savary, poeta, contista, tradutora e organizadora de antologias, uma das introdutoras do hai-kai no Brasil.

NOVO LIVRO... NOVAS PÁGINAS PARA A EMOÇÃO...


"Poeticário" revela o Ludicismo de Carlos Correia Santos, que afirma abrir suas páginas para o jogo com os sons e significados das palavras.

Palavras que se quebram e se reconstroem. Pedaços de fonemas que namoram com restos de sílabas somente para tentar reescrever o poético. Essa é a especial gramática de "Poeticário", novo livro de poemas do escritor paraense Carlos Correia Santos. Editado pela RKE, com projeto gráfico da artista plástica Roberta Carvalho, prefácio de João de Jesus Paes Loureiro, contracapa assinada por Salomão Larêdo e orelhas de Alfredo Garcia, a publicação será lançada numa especial sessão de autógrafos no próximo dia 26, a partir das 18h, no Espaço Edyr Proença, no quarto andar da Fundação Cultural Tancredo Neves (Centur). Produzido pela também poeta Adina Bezerra, com assistência de produção do ator e professor Márcio Mourão, o evento contará com a participação especial de Nilson Chaves (parceiro do poeta em várias canções) e dos escritores do Movimento Literário Extremo Norte.

Já no título, a obra é um convite para que o leitor mergulhe no instigante quebra-cabeça lírico que o autor propõe. "Exercito nesse livro o que eu batizo de Ludicismo, o direito poético de brincar com a escrita. Assumo o risco e o prazer de jogar com os léxicos sem o menor pudor", afirma Correia, que levou três anos para lançar o trabalho. "O livro está editado, prontinho, desde 2005. Como o teatro tem me seqüestrado nesses últimos tempos, decidi esperar o momento certo para apresentar essa nova produção. Senti finalmente que o momento tinha chegado".

Conquistas – Correia afirma que a sessão de autógrafos será, acima de tudo, um momento de celebração. "Quero comemorar uma fase extremamente feliz da minha carreira. Além dos prêmios e das edições, fico honrado em ver o que tenho colhido a partir da escrita. Hoje tenho como amigos e cúmplices de sonhos artistas para os quais eu era um fã na multidão. Para mim é um presente poder contar com a parceria e o bem-querer de nomes como Nilson Chaves, Lucinnha Bastos, Paulo Santana, Cláudio Barradas, Cláudio Barros. Enfim, sinto-me privilegiado".

Carreira – Este é o sexto livro individual de Correia. São também de sua autoria as obras "O Baile dos Versos" (poemas, 1999), "Nu Nery" (teatro, 2003), "Livreto das Preces Poéticas" (poemas, 2003), "Ópera Profano" (teatro, 2006) e "Batista" (teatro, 2008), obra ainda a ser lançada pelo Instituto de Artes do Pará. Além destas publicações solo, o paraense participa de mais de quinze antologias nacionais e internacionais. Seus textos fazem parte de coletâneas lançadas na Europa e no Timor Leste

Poeta, contista, cronista, dramaturgo e roteirista, Carlos tem feito da diversidade uma grande marca de sua carreira. É autor do premiado livro de poemas "O Baile dos Versos", obra que ganhou especial saudação da Academia Brasileira de Letras, em 1999. Também são de sua autoria as obras "Poeticário" (poemas), "No Último Desejo a Carne é Fria" (coletânea de contos), "Nu Nery" (teatro), Ópera Profano (teatro / Prêmio Cidade de Manaus) e "Batista" (teatro). Como escritor na área de artes cênicas, coleciona importantes láureas regionais e nacionais, como a tripla classificação no Edital Estadual de Fomento às Artes Cênicas 2008, da Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Prêmio Cláudio Barradas) com os espetáculos "Adoro Theodoro", "Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo" e "Uma Flor Para Linda Flora", o Prêmio IAP de Edições Culturais Categoria Dramaturgia (2008), o Prêmio IAP de Literatura Categoria Teatro (2004), o Prêmio Funarte de Dramaturgia por três anos consecutivos (2003, 2004 e 2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro (2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Circulação Nacional (2006) e o Edital Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil.

Incluídos no Catálogo da Dramaturgia Brasileira da renomada autora Maria Helena Kühner (iniciativa detentora do Prêmio Shell), seus textos teatrais já ganharam diversas montagens e já foram apresentados em Belém, São Luís, Natal, Recife, Camaçari, Piracicaba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Suas peças já foram traduzidas para o francês e espanhol. Importantes artistas brasileiros, como Stella Miranda (que interpreta a síndica do humorístico "Toma La, Dá Cá", de Miguel Falabella, exibido na TV Globo), já assinaram direção de suas obras. No cinema, foi agraciado com o Prêmio do Edital Curta Criança do Ministério da Cultura. Também violinista e letrista, Correia é parceiro de importantes nomes da música nortista, como Nilson Chaves e Lucinha Bastos. MBA em Jornalismo e Gestor e Produtor de Eventos Culturais, formado pela Universidade da Amazônia, já coordenou diversos e bem sucedidos projetos de fomento à leitura na região Norte, como o "Café com Verso e Prosa" e o "Estrada de Letras". É presidente da ONG Companhia Amazônica do Livro. Assina a seção Contando Um Conto, no jornal paraense O Liberal (um dos maiores da região Norte) e Portal ORM. É colaborador, com seus contos, do jornal O Estado do Acre e dos sites BV News (Roraima), Amapá Digital (Amapá), Ver-O-Poema (Pará) e Timor Online (Timor Leste).


ALGUNS TESTEMUNHOS SOBRE SEU TRABALHO:

“Seu teatro prima pela criatividade e expressividade do texto. Sem nenhum exagero e muito menos bajulação, eu o considero um dos maiores talentos da nova dramaturgia brasileira” (José Louzeiro, célebre romancista brasileiro, autor de obras como “Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia”)


“Carlos Correia Santos é pombo correio da poesia. Por isso tem a palavra poeta tatuada na palma da mão”. (Mano Melo, ator e poeta, fez parte do projeto Ver o Verso, ao lado de Pedro Bial).

“Um criador profundo, com forte, rara e inegável vocação para a dramaturgia (...) merece todo o apoio que lhe possa ser dado pelas entidades e pessoas interessadas na arte e na cultura do Brasil”. (Joaquim Assis, roteirista dos filmes “O Toque do Oboé” com Paulo Betti, “For All – O Trampolim da Vitória”, com Betty Faria e José Wilker e “Villa-Lobos: Uma Vida de Paixão”, com Antônio Fagundes e Marcos Palmeira)

“Da complexidade do ser, da própria solidão e solidariedade do ser humano, da sua simplicidade e estranheza, são realizados os textos de Carlos Correia Santos, seja na poesia, nos contos ou no teatro. Sua dedicação à cultura e à Arte faz deste autor paraense, deste grande brasileiro, um candidato constante às premiações importantes nas áreas citadas: poesia, ficção, peças teatrais. Assisti com orgulho à premiação obtida por ele no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, em 2006. Carlos Correia Santos destacou-se entre dezenas e dezenas de concorrentes”. (Olga Savary, poeta, contista, tradutora e organizadora de antologias, uma das introdutoras do hai-kai no Brasil)

“Dentre nossos novos autores, há um que, surgido há bem dizer ontem, a meu ver já nasceu adulto, sobrelevando-se aos demais, quer pelo número de peças escritas, quer, sobretudo, por suas qualidades, por seu alto nível. (...) Seu nome: Carlos Correia Santos, um nome a se guardar com todo o carinho e com o maior respeito, a se aplaudir estrepitosamente”. (Cláudio Barradas, ator e diretor, um dos nomes mais basilares do Teatro nortista. Formou gerações de artistas atualmente fundamentais para a cena cultural amazônica)

LEIA A SEGUIR O QUE GRANDES AUTORES PARAENSES ESCREVERAM SOBRE A NOVA OBRA DE CORREIA:

NÃO HÁ CHAVE PARA O MISTÉRIO...

João de Jesus Paes Loureiro

(...) O livro Poeticário de Carlos Correia Santos é um livro de poesia. Poeticário, já no seu nome, estimula jogar-se ao gosto do poeta, com os algorítimos da palavra título. Poeticário. Poe. Ética. Rio. Poética. Poético. Icário! Logo em seguida, oferecendo como chave ao cofre simbólico de seu procedimento poético, numa epígrafe explicativa, diz sonhar o significado das palavras do dicionário. Quer dizer, não é na lógica da razão da língua que ele vai buscar o sentido das palavras da tribo dos seus poemas. É na imaginação. No sonho.

A poesia de Carlos Correia Santos, neste livro, usa as palavras ou a linguagem, como quem faz dobraduras de papel. Uma espécie de "origame" de palavras, dobrando as sílabas, vincando fonemas, fazendo brotar de palavras imprevistas palavras. Cada palavra como um cofre de palavras. Espelhos paralelos de significações e formas. Sabe contornar o risco daí decorrente, isto é, deixar que o prazer do jogo verbal se torne artifício. Mesmo que fossem artifícios de um artífice. O poeta sabe muito bem evitar esse risco. E também sabe que poesia se faz com palavras, é verdade, mas palavras carregadas de significação.

(...) Penso que a poesia é a encantaria da linguagem. O poeta é um pescador com o anzol do imaginário, sentado na várzea do devaneio. No rio da linguagem padrão ele mergulha a sua linha e vai buscar essas entidades submersas na língua, na cultura, na memória para torná-las a própria superfície sensível do rio-poesia-linguagem. No anzol pode vir uma imagem, um pedaço de palavra, um submarino sonho naufragado.

Em Poeticário há bons exemplos desses mergulhos na encantaria da linguagem. "Nada, nada que se compreenda" é um deles. Outro é "Blues". Aqui há desconcerto do mundo, da língua, do verso. O verbo concebido com pecado. Há uma espécie de neo-romantismo pós-moderno, o prazer da ironia, uma discreta picardia da instigação delicada.

Há, também, o gosto de jogar com a expressão, de surpreendê-la, de surpreender com ela. Não propriamente com trocadilhos. Talvez, pelo gosto do paradoxo (Desatina!, diz a rotina). Não é uma poesia que busque o vasto campo das significações da cultura ou da tradição técnica. Quer a brevidade, a transitoriedade das coisas, o instante eterno que passa (Tod'Efêmero). Flexiona o verbo de modo inusitado e provocador de novas flexões. Violenta a língua padrão para enveredá-la no bosque do desvio da norma, a fim de poetizá-la. Busca o contraste, as inversões – da norma, da língua ou da significação (Familiário). Domina o ritmo e joga com ilusórias dissonâncias, quando se pensa que vai cair no esperado. Muitas vezes sugere um poema hermético. Pura ilusão. O poema quando lido, relido, lido, se vai abrindo como as portas de um mistério (Ecos de egos).

Todo poeta é um vidente da infância. Não como quem faz o caminho do retorno. Mas, aquele que leva a infância, instalando-a onde demarca seu reino de utopias. Ou então, buscando-a sempre no futuro. Não a infância como estado. A infância como liberdade de ser a de se incorporar no mundo como linguagem livre. Como afetividade aurática. Essa afetividade em plenitude da infância que enlaça o poeta ao mundo e que faz o estranhamento cativante do leitor com relação a ele. O poeta: um ser alado e leve, como queria Platão. Quer dizer: um homem adulto pesado e terrenal com a infância o tornando leve e alado.

Carlos Correia Santos é poeta. Preserva a dignidade viva e dinâmica da língua. Celebra sua energia sem a ela submeter-se. Como um amante a ela se submete enquanto a submete. Sabe acariciá-la no enlace devoto, mas, também, sabe dobrá-la quando a paixão de criar requer. Semelhante ao domador de uma égua selvagem, domina a língua pela cauda, para, ao mesmo tempo, cavalgá-la. Como poeta, já demonstra sua originalidade e quer ocupar o seu lugar distinto. O merecido lugar dos criadores, na mente e no coração dos que o lêem.


NAS DOBRADURAS DO POEMA
Alfredo Garcia

A chave para o entendimento deste livro de Carlos Correia Santos, Poeticário é dada, acertadamente a meu ver, pelo poeta João de Jesus Paes Loureiro: "A poesia de Carlos Correia Santos (...) usa as palavras ou a linguagem, como quem faz dobraduras de papel". Nesta linguagem-origami, o poeta paraense desdobra o vocabulário, recria formas e dá voz a outras: (...) Na verdade, usando de forma lúdica estas re-invenções da linguagem, Carlos Correia Santos propõe re-leituras do que já é fato e linguagem consumada, numa poematização do texto que se fazia cânone. É o poeta se utilizando da sua ferramenta-base, a palavra, para estruturar poemas que assemelham-se a jogos verbais (aliás, o que é a Poesia senão essa performance do lidar com o Verbo, na intransitividade da Vida?) (...) No fundo um tema único em toda a obra: a expressão do Ser pela palavra, a redenção deste em busca do que não sabe.

O LAR DO POETA

Salomão Larêdo

O lar do poeta é o povo. Carlos Correia Santos, poeta, sabe onde buscar a poesia para fazer o poema e versa-vice e trabalha com ferramenta de boa têmpera. Surge então "Poeticário" para o leitor apreciar nas horas da tarde, nas manhãs ensolaradas ou plúmbeas e se encantar com a liberdade que o texto inspira e fazer a necessária viagem imaginária, no ócio de que o homem e a mulher dos tempos pós modernos tanto precisam para alegrar a vida e distribuir amor e paz na contemplação do mundo novo de felicidade que os aguarda em cada esquina dos versos e anversos do artista das palavras, inventor de novas paisagens e de renovado momento, sempre profético, como deve ser todo poeta confessadamente poeta, como é o Carlos, que, com competência sagra e consagra este livro e seus poemas com a unção da própria poesia e que ela faça todo o bem que o sacramento propicia e a humanidade clama.