sábado, 21 de março de 2009

sábado, 14 de março de 2009

A POESIA NUM DUELO ENTRE ALMA E CORPO







Peça premiada no Edital da Secult chega ao palco. Espetáculo é alerta para a falta de memória cultural

Quando um poeta é esquecido, deixamos morrer a poesia que existe em todos nós. Este é o grande mote que inspira e move a trama do espetáculo “Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo”, que estreia hoje, às 21h, no Espaço Cuíra. Resultado de um dos projetos selecionados no Edital Estadual de Fomento às Artes Cênicas – Prêmio Cláudio Barradas, realizado pela Secretaria de Cultura do Pará (Secult) e Sistema Integrado de Teatros (SIT), a montagem, que conta com o apoio da fábrica Velas Cigana, também será apresentada amanhã (Dia do Poeta), às 21h, e no domingo, às 20h. Escrita e dirigida por Carlos Correia Santos e produzida por Márcio Mourão, a peça mergulha no universo lírico do poeta icoaraciense Antônio Tavernard, cujo centenário foi celebrado no ano passado.

“O projeto tinha sido estruturado para ser apresentado em 2008, precisamente no mês de nascimento do Tavernard. Mas tivemos que mudar os planos por conta do cronograma do Edital da Secult”, explica Márcio. E ele complementa: “Mas nem de longe o nosso gancho foi perdido. A proposta maior do espetáculo é questionar, provocar e instigar. Por que esquecemos tanto da nossa memória cultural, aqui no Pará? Por que um poeta como o Antônio Tavernard é tão pouco celebrado e totalmente ignorado pelo grande público. Essas são as perguntas que rondam toda a narrativa”.

ENREDO

A peça tem como enredo uma sugestiva metáfora. Tavernard e sua Alma se encontram em algum ponto do limbo. Interpretados por Luis Girard e Vaneza Oliveira, os dois personagens passam a travar um doloroso, longo e revelador embate. O poeta quer saber por qual motivo deixou de viver na memória das pessoas. A Alma se angustia. Tenta de todas as formas fugir de uma resposta. Mas é inevitável tentar escapar. A verdade é só uma: as pessoas andam matando, dia a dia, o lirismo que mora em todo espírito.

Márcio Mourão acredita que a trama tem potencial para sensibilizar a platéia com relação ao descaso geral que cerca o legado de Tavernard. “A alma é, na realidade, o alter ego do escritor. O que se vê em cena é a dramatização de uma conversa do poeta consigo mesmo. Tudo o que ele indaga para a Alma é dirigido às suas próprias dores. Tudo o que a Alma diz, é o sussurro da intimidade dele mesmo. E o público acompanha tudo isso, como quem presencia um diálogo íntimo. No final das contas, caberá a platéia assimilar e digerir todos os questionamentos”.

O produtor executivo do projeto aponta outras particularidades da montagem. “Muitas coisas tornam essa temporada especial. Primeiro que ela é resultado do trabalho de um coletivo. Não somos uma companhia, e sim um grupo que se uniu para essa proposta. Outro aspecto interessante é que essa é a primeira vez que o Carlos Correia assina uma direção. Outros diretores passaram pelo processo de estruturação da peça, mas o Carlos deu o desenho final da encenação, que é bem minimalista, aposta mais que tudo na palavra. Por fim, vamos nos apresentar no Dia do Poeta, comemorado no sábado. Para nós, essa coincidência foi um enorme presente”.

TONY

Conhecido na intimidade como Tony, o poeta Antônio de Nazareth Frazão Tavernard nasceu em Icoaraci, antiga Vila de Pinheiros, no dia 10 de outubro de 1908. Desde cedo interessado pela arte dos versos, Antônio Tavernard foi também contista, cronista, dramaturgo e letrista. É de sua autoria a letra do hino do Clube do Remo. Em parceria com o maestro Waldemar Henrique, compôs clássicos do cancioneiro nortista, como “Foi Boto Sinhá” e “Matinta Pereira”. Para o teatro, criou deliciosos vaudevilles, como a “Casa da Viúva Costa”.

Aos 18 anos, o escritor foi diagnosticado como portador de hanseníase, o que, na época, era uma sentença de morte. Mesmo fadado, o autor não sucumbiu à melancolia. Produziu uma obra que, até hoje, impressiona, fascina e perturba. Sua morte aconteceu no dia 02 de maio de 1936.

EDITAL

Instituído pelo Governo do Estado, via Secult e SIT, o “Edital Estadual de Fomento às Artes Cênicas” – “Prêmio Cláudio Barradas” tem o objetivo de apoiar a criação de projetos de pesquisa e produção de montagem de espetáculos, visando o desenvolvimento do teatro e o melhor acesso à população às artes cênicas no Pará.

Além do projeto de “Duelo do Poeta”, foram também selecionados “Tem gato no telhado” (In Bust / Belém), “Agora, A Mandrágra” (Usina Contemporânea / Belém), “O Uirapuru” (Cia. Teatral Nós Outros/Belém), “O Avarento” (Palhaços Trovadores/Belém), “Severa Romana” (Cia. Fato em Ato/Belém), “Do barro ao boneco” (Jeferson Cecim/Belém), “Theodoro” (Grupo Palha/Belém), “Uma flor para linda flora” (Bruno Leonardo Oliveira/Belém), “Mini teatro ambulante” (André Mardock/Belém), “Projeto Lambe-Lambyke” (Edson Fernando/Belém), “Conto dos quatro cantos” (Ester Sá/Belém), “Crendices da Amazônia” (Aline Cristina Dias/São Sebastião da Boa Vista), “O macaco que não é prego” (Cia. Teatro Mambembe/Santa Luzia do Pará), “Águas de Mariana” (Keila Andréa Cardoso/Belém) e “Hypno Vacivus” (Cia. Argonautas/Castanhal).

SERVIÇO:
“Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo”, de Carlos Correia Santos. Com Luis Girard e Vaneza Oliveira. Prêmio Cláudio Barradas (Secult). Apoio: Velas Cigana. Produção Executiva: Márcio Mourão. Luz e sonoplastia: Nelson Borges. Hoje e amanhã, às 21h, e domingo, às 20h. No Espaço Cuíra, que fica na 1º de Março, nº 524. Ingressos: R$ 20,00, inteira, e R$10,00 meia.

UM LÍRICO DUELO NO PALCO DO CUÍRA



Um poeta em confronto com sua alma. Um criador de lirismos que decide travar um embate com sua verve porque exige voltar a viver. Mas o que está em questão não é um óbvio voltar a viver. O que esse criador quer não é a existência terrena, tão simples, tão banal. Em cena, um poeta que implora a sua alma para voltar a viver na memória das pessoas. Todo esse conflito e toda essa atmosfera é o enredo do espetáculo “Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo”, escrita pelo dramaturgo Carlos Correia Santos. A peça mergulha no legado poético do escritor paraense Antônio Tavernard, cujo centenário de nascimento foi comemorado no ano passado. Com produção executiva de Márcio Mourão e trazendo no elenco os atores Vaneza Oliveira e Luis Girard, a montagem estreia no Espaço Cuíra nesta sexta-feira, às 21h, será apresentada no mesmo horário no sábado, data em que se festeja o Dia do Poeta e da Poesia, e terá uma última apresentação no domingo, às 20h. A temporada tem o apoio das Velas Cigana. O projeto de “Duelo do Poeta” foi um dos vencedores do Edital Estadual de Fomento às Artes Cênicas – Prêmio Cláudio Barradas, promovido pela Secult.

No lugar de contar com a assinatura de um grupo, o trabalho é resultado da pesquisa de um coletivo de profissionais do teatro. “A montagem nasceu de uma união de forças, da soma de amigos que se empenharam para trazer a trama para o palco. Não temos o selo de uma companhia. Não somos uma companhia. Para essa montagem, decidimos não ter essa proposta nem quisemos apostar nela. Trata-se de uma reunião de pessoas que resolveram, com muita coragem, prestar esse tributo ao grande Tavernard”, explica Carlos Correia que, junto com Márcio Mourão, também atuou na produção e responde pelo esboço final de encenação e direção da peça.

“Como se trata de um coletivo, desde o início do processo de montagem tivemos a colaboração de mais de um diretor. Vamos apresentar, a partir da sexta, o resultado de toda a intensa e incomum trajetória que teve a produção e montagem desse espetáculo”, explica Márcio Mourão. Uma primeira versão de encenação foi apresentada ao público durante a última Feira Pan-Amazônica do Livro, edição que teve como patrono justamente o poeta que inspira a trama. “Como a Feira do Livro homenageava o Tavernard, pensamos que seria imperdoável não apresentar o espetáculo naquele grande evento. Uma versão da peça foi estruturada e mostrada ao público em duas sessões”, complementa Mourão.

Enredo – Uma incomum e pungente batalha metafórica é o centro da trama criada por Carlos Correia Santos, texto que, em 2005, ganhou menção honrosa no Concurso Literário da Academia Paraense de Letras. Em “Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo”, Antônio Tavernard, vivido por Luis Girad, encontra-se, no palco, com sua Alma. O escritor exige que seu alter ego, interpretado por Vaneza Oliveira, explique a razão pela qual ele foi tão sumariamente esquecido pelos leitores. A partir dessa inquietação, surge um embate lírico que busca revelar a dor que o descaso provoca a toda memória artística. “O centro do espetáculo é a palavra. Essa versão final de encenação a que chegamos, mais que tudo, privilegia a palavra. Bem maior de um poeta”, indica Márcio Mourão.

“Antônio Tavernard é um dos mais importantes autores do nosso acervo literário. Um poeta único, genial, atemporal. E, no entanto, o senso comum pouco ou nada o conhece. A casa em que ele nasceu, em Icoaraci, está em ruínas, abandonada. Bandidos moram no que resta do lugar. As ruínas da casa desse artista representam as ruínas da nossa memória cultural. É o que está acontecendo também com os restos do Teatro São Cristóvão”, desabafa Carlos Correia. E ele arremata: “No texto, tomo a liberdade de colocar na boca do Tony a seguinte frase: quando um poeta morre e é esquecido, esquecemos e deixamos morrer o poeta que pode existir em todos nós”.

Serviço: “Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo”, de Carlos Correia Santos. Com Luis Girard e Vaneza Oliveira. Prêmio Cláudio Barradas (Secult). Apoio: Velas Cigana. Produção Executiva: Márcio Mourão. Luz e sonoplastia: Nelson Borges. Dias 13 e 14, às 21h, e dia 14, às 20h. No Espaço Cuíra, que fica na 1º de Março, nº 524. Ingressos: R$ 20,00, inteira, e R$10,00 meia.