sábado, 27 de setembro de 2008

DUELO VOLTA À CENA


TONY (a voz tomada pela emoção): Quando um poeta é esquecido... o mundo se torna menos mundo... Menos vale o ser, menos vale o entender, menos vale o respirar... Quando um poeta é esquecido, a sensibilidade esquece-se das horas. Atrasa-se em chegar nos sorrisos, apressa-se em chegar nas lágrimas... Tamanho é o intempo!... Quando um poeta é esquecido, a angústia se lembra de como acordam os sonhos só para fazê-los voltar a dormir... Meu Deus, quando um poeta é esquecido as palavras começam a querer se deitar... E assim vão desfalecendo... DELICADEZA, INTESIDADE, CRENÇA, DISCERNIMENTO, ÓDIO... AMOR... As palavras todas começam a fenecer... As pessoas começam a não saber mais o que dizer umas para as outras... Quando um poeta é esquecido, todos esquecem que em todos há um poeta.


(Texto e foto da segunda montagem de DUELO DO POETA COM SUA ALMA DE BELO, de Carlos Correia Santos. Direção: Dionelpho Júnior. Com Vaneza Oliveira e Luiz Carlos Girard. Produção: Márcio Mourão. Espetáculo destacado com Menção Honrosa no Concurso da Academia Paraense de Letras de 2005. Espetáculo vencedor do Edital Estadual de Fomento às Artes Cênicas 2008. Espetáculo selecionado no Edital de Pautas da Secult 2008. Obra incluída no Catálogo da Dramaturgia Brasileira, de Maria Hellena Khurner, iniciativa vencedora do Prêmio Shell 2007)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

E-MAIL DIRA PAES


Carlos querido,

tenho acompanhado mesmo que de longe
sua trajetória, agora brindada com esse
lindo prêmio, e seu talento é inegável.
Vou ler o Velas com certeza.

Parabénsss!!!!

Bjsssss,

Dira

sábado, 20 de setembro de 2008

VELAS NA TAPERA - PRÊMIO DALCÍDIO JURANDIR

Aqui, partilho com todos um trecho do meu primeiro romance: "Velas na Tapera". A obra acaba de vencer o importantíssimo prêmio Dalcídio Jurandir. Concurso de nível nacional, criado para homenagear o centenário de um dos mais importantes nomes da Literatura Amazônica. O livro será editado e amplamente divulgado. Eis as minhas "Velas"...

PARTE SEGUNDA

Trecho XXIII


O sol. Aceso. Vela sazonal no céu azul. A acender memórias e sensações. Foi como se o sol mais forte ficasse quando Rita serenou seus passos descalços em frente ao grandioso prédio da antiga serraria. A luz do dia clareou distâncias nos olhos da mãe viúva-órfã. Distâncias no tempo. Antes de prosseguir com o que fora ali fazer, correu um demorado apreciar pela fachada do lugar. O silêncio da ruína. Era possível enxergar silêncios no lento desfazer-se exposto pelo prédio. E seu lento apreciar foi deslizando pelos detalhes todos. A estrutura ampla e alta, dona de contornos geométricos. Inteira fabricada em Michigan e transportada peça por peça para ser montada naquelas paragens... Tudo transformado em mutismo... Tudo... Deixou o esquadrinhar fluir para a ainda imponente caixa d´água que ficava a alguns metros. Trouxe-o de volta para a construção a sua frente...

Respirou fundo.

Por fim, iniciou o resgate que decidira dar a si mesma. Num mover-se quase imaginário, entrou na abandoada serraria. Primeiro aquilo. Naturalmente aquilo: o vazio de um interior estagnado. Caminhou, caminhou. Passou pelos restos de maquinário. Deslizou a ponta dos dedos por equipamentos inertes, a um triz da ferrugem. Esquivou-se languidamente de sobras de vigas e restos de tábuas. Caminhou e caminhou pelo mudo presente de um rico passado...

O passado... Um longo migrar de ar pelas narinas.... O passado...

Era hora de trazer para o presente o passado...

Fechou os olhos lentamente.

E quando os reabriu...

A pleno pique funcionava a serraria do projeto Ford. Era preciso manter a produção de quarenta e cinco mil tábuas por mês. Era preciso. Talvez os homens todos que ali arrastavam horas e mais horas de trabalho sequer soubessem, mas suavam sua labuta na maior serraria da América Latina de então. A madeira gritando no corte preciso graças ao que parecia milagre: energia elétrica no meio da mata. Homens do mundo inteiro. Jornada intensa carregada nos ombros de homens do mundo inteiro. Entre eles, compenetrado, movimentos todos doados ao produzir... O texano Duncan Miller... As retinas de Rita cristalizaram-se... Era Duncan... Outra vez como sempre: inteiro perfeição para seus olhos... (...)

E-MAIL DE LAURO GÓES




Abaixo, e-mail enviado para mim pelo grande ator e diretor Lauro Góes sobre a premiação do meu romance “Velas na Tapera”:

Carlos,

Pela leitura do pequeno trecho do romance, assegurei-me do cabal merecimento do prêmio com que foi distinguido. Você não acha que estão faltando paraenses na atual Academia Brasileira de Letras? Orgulho-me do compatriota, e, hoje, posso expandir a alma com alegria, dizendo: orgulho-me por tê-lo como amigo!

Um grande abraço, Lauro Góes


SOBRE LAURO GÓES

Ator e diretor carioca. Começou a trabalhar como ator profissional em 1966, chamado por Gianni Ratto, para o seu primeiro papel, na peça “Rastro Atrás” ao lado de Leonardo Vilar, Iracema de Alencar, Rodolfo Arena, Vanda Lacerda, e do também jornalista Renato Machado. Em seguida, Lauro estudou Direito por dois anos e parou. Em 1971, interpretou Camões, no Teatro Municipal, por ocasião do Centenário da publicação dos Lusíadas, com direção de Paulo Afonso Grisoli. Em 1972, foi para a Europa, estudar teatro e cinema. Acabou optando pelo primeiro. Em Paris, faz o Cours Rene Simon e trabalhou em “As moscas” de Jean Paul Sartre, que assistiu a estréia e ficou impressionado com o seu desempenho. Posteriormente, foi o ator principal do dramatique “Ici, peteutre”, onde fez o papel de um português, que falava francês fluente.

Em Londres, foi locutor da BBC e na Itália, fez teatro de rua, na Piazza Navona, num espetáculo baseado em antropafogia, no verão de 75. Em 76, voltou ao Brasil e fez um teste para interpretar o Frei Virgilio em “Pecado Capital”. Foi aprovado pelo Daniel Filho e iniciou sua carreira no veículo, onde fez Casos Especiais, Casos Verdade, várias novelas “ O feijão e o sonho”, “A sombra dos laranjais”, “Gina”, “Nina”, “Coração de Estudante”, os seriados “ Chiquinha Gonzaga” na Globo e “A família Byte” na TVE. Também teve um programa com Lidia Brondi e gravou vários episódios do “Sítio do Picapau Amarelo”. Trabalhou ainda na TV Manchete e na Record.Em seu cartão de visitas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, está escrito assim: Prof. Dr. Antonio Lauro de O. Góes - Assessor para Eventos Especiais - Fórum de Ciência e Cultura, o que traduzindo, significa, Lauro Góes, um homem dedicado permanentemente a sabedoria e ao teatro. Fundador em 1980, na Faculdade de Letras, do 1º Grupo de Teatro Universitário. Bacharel em Letras, com mestrado em Comunicação e Doutorado, novamente, em Letras. Autor de teses sobre dramaturgia. A de mestrado, “Criação coletiva Tá na Rua/Amir Haddad”. A de doutorado, “A adaptação como fundamento de teatro”.

São vinte e três anos, trabalhando como professor em literatura dramática.Seus últimos trabalhos em TV foram o pai do personagem Danilo, do Murilio Benício em “Chocolate com Pimenta” e, em 2005, quando fez uma participação em "A Lua Me Disse". Em 2007, Lauro faz participação em "Paraíso Tropical", de Gilberto Braga e Ricardo Linhares.

2006 Bicho do Mato-Rede Record-Adamastor
2005 A lua me disse - Inácio
2004 Começar de Novo - Romualdo
2004 Chocolate com Pimenta - Leonardo
1999 Chiquinha Gonzaga - Viton
1996 O Campeão (Bandeirantes) - Zé Eduardo
1978 Gina - Zeca
1978 O pulo do gato - Ricardo
1977 Nina - Clemente
1977 À sombra dos laranjais - Cláudio Lemos
1976 O feijão e o sonho - Rubinho
1975 Pecado Capital - Virgílio Lisboa

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

MANIFESTO PELA MORTALIDADE


Por favor, deixem-me morrer. Escritores de verdade morrem. Findam. Sabem que suas carnes terminam e se vão. Escritores de verdade deitam, dormem e viram lápide. Como qualquer outra criatura. Isso simplesmente pelo fato de que são humanos. Artistas reais são seres. E por isso sentem, sofrem, querem, criam, constroem, doem, fazem doer, incomodam e são incomodados. E por isso existem. E por isso morrem. Então, que se saiba: quero que o meu eu se esgote. Muito e quando tiver de ser. Pelo amor de Deus, deixem os poetas morrerem!

A razão desse manifesto incomum? O motivo desta súplica pela morte da minha matéria? Só um. O anseio de gritar: é fantasmagórico o título de imortalidade literária. Sim, sou réu confesso: já me candidatei a esse posto. E quase o fazia de novo nesses últimos tempos. Mas felizmente morreu em mim esse intento. Joguei coroas sobre sua tumba e aplaudi esse enterro.

Não quero bajular, não quero tomar chá, não quero mandar flores. Quero berrar para quebrar silêncios. Quero devorar a modernidade. Quero cortar meus pulsos com os espinhos da vida. Não quero patrono. Não quero fardão. Não quero discursos. Quero ser patrão da minha alma. Quero me vestir com absurdos ou ficar nu para me expor inteiro. Quero bater boca com quem me subestime ou me calar diante de quem eu não respeite. Porque tudo isso é a verdadeira Poesia. Porque Arte se faz com verdade. Mesmo que seja a Arte que melhor minta. E a verdade pede por existência. E toda existência morre. O mais é pedantismo puro.

O que não morre, porém, é a palavra. A palavra, sim, tem alma. A palavra, sim, é imortal. E só é realmente imortal o escritor que morre e se vai consolado pela certeza de que sua escrita sobrevive a qualquer túmulo. O contrário disso é se fazer zumbi. Envelhecer em mediocridades e se contentar com sonetos ditos para paredes surdas. Quero morrer. Mesmo que seja depois de ter comovido uma única pessoa com meu lirismo. Mesmo que seja depois de ter causado agonia em uma multidão com minhas letras. Quero morrer mesmo que seja no minuto seguinte que publicarem essa crônica. Mas morrer feliz porque ela terá sido lida. Pois escritores só servem para isso. Para dar inquietações a quem quer que seja. Escritores precisam revirar cadáveres.

Figuras distintas que nada causam, que nada comovem... Essas figuras nunca serão imortais. Por uma simples explicação: nunca realmente viveram para a eternidade. O eterno não é eleito em academias. Viva Benedicto, viva Waldemar, viva Bruno, viva Salomão e outros – bem poucos, diga-se – que, acima de tudo, receberam os votos do talento e independem das urnas da conveniência. Viva Tavernard, viva Faustino, viva Lima Barreto, viva Quintana. Todos liricamente falecidos. O eterno não se acomoda em cadeiras. O eterno está à mesa da vida para ser devorado por quem ama o fato de ser perecível. Por isso, por favor, deixem-me morrer. Esta é a paz que quero.


Carlos Correia Santos

Crônica publicada na revista Livre, nesta sexta, dia 12 de setembro de 2008.


terça-feira, 2 de setembro de 2008

RESULTADO CONCURSO DE POESIA CAL UFPA


A Diretoria de Cultura/ CAL/UFPA torna público o resultado da Comissão Julgadora do IV Concurso de Poesia (versão 2008). Tenho o prazer de estar nesta lista pontuada por colegas valorosos. São estes os selecionados:

ÁDAMO CASTILHO BRASIL
“Pedra Lascada”/ “Signos”/ “Transmutação”

ANA CAROLINE DO ESPÍRITO SANTO CHAVES
“Esto de Versos”/ “Iriante Liberdade”

ANDRÉ LUIZ VALADARES DE AQUINO
“A Glauco Matoso”/ “Meuverboévermelho”/ “Odorsodooco”

ANNA MARIA AVELINO AYRES
“Carro de Boi”

ANSELMO DE SOUSA GOMES
“A Chuva é Vampiro”/ “Estio”/ “Os Cadeados Trancam”

CARLOS CORREIA SANTOS
“Lunamorfose”

DANIEL DA ROCHA LEITE JÚNIOR
“Aquarela para um menino”/ Alfabeto de espelhos”

DANIELLE FONSECA DO NASCIMENTO
“A Invenção do Cais”/ “Cidade de Abreu”/“Horários de Práticas Poéticas”

JANICE NASCIMENTO FARIAS
“Outono”

JOSÉ ANTONIO DE SOUSA NETO
“Dia Morto”/ “Concepção”/ “Pomares”

JOSÉ FRANCISCO DE BRITO
“Vazio”

JOSETTE LASSANCE
“Deserto Cão”/ Fauna”/ “Tarde no Bolonha”

LUANA NOGUEIRA DE FARIAS MOURA
“Cão Dançando Parado”/ “Folhas”/ “Mãe”

NARJARA OLIVEIRA
“Frívola”/ “No Rito”

RAFAHEL JEAN PARINTINS LIMA
“Lá Vive um Desconhecido de Milanos”/ “30/11/2006”/ “Violador em Pé”

RODRIGO GUABIRABA BRITO
“Singelo”/ “Testamento Free-base”

TATIANA ALVES SOARES CALDAS
“Elegias e Epitáfios”/ “Tapeçaria”/

VITOR NINA DE LIMA
“Giraulua”/ “Verve”

Comissão Julgadora/ CAL/ UFPA

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

DIABO DELICADO




Quando um demônio beija um colibri,
todo meu ardor voa com penas de anjo.
Minha paz é um demônio beijando um colibri,
um delicado diabo tocando banjo.

Quando leio a partitura dos gritos dos meus demônios,
entendo todo esse enorme inferno de ser feliz.
A alegria toca violinos de fogo nos meus sonhos
e faz demônios beijar meus colibris.


(Carlos Correia Santos. Do livro Delicare)

O VÔO VÃO DA ETERNIDADE...


ANJO DA ETERNIDADE (olhando no rumo de um horizonte imaginário): É no sem fim que se guardam os sonhos, as idéias, a verdade e a loucura. É para além das nuvens do tempo que partem todas as fantasias da alma. É para além das vastidões do horizonte que se lança o olhar de quem almeja o desconhecido. É para o que há depois de todas as vagas que se dirigem as asas da ânsia por evolução...

(Repetindo a mesma manobra da CENA 01, os outros quatro anjos saem com a cama pelo lado direito do palco e rapidamente voltam à cena com a cama pelo lado esquerdo do cenário. Quem está dormindo no leito agora, trajando roupas de quarto, é o Pequeno Júlio. Deixando a cama na mesma marca em que estava antes, os quatro anjos se afastam do leito e sentam-se próximo à borda do canto direito do palco. Prosseguindo seu monólogo, o Anjo da Eternidade caminha até a cama e com extremo cuidado toma no colo o Pequeno Júlio, que permanece adormecido)

ANJO DA ETERNIDADE (sereno): Dorme no leito da eternidade, o lirismo de todo Ícaro. Repousa entre os lençóis do amanhã a beleza de quem nunca deixará de ser pássaro... Mas essa mesma beleza faz ficar amanhecida para sempre na terra a semente do inventar e do reinventar-se...

(Com o garoto no colo, o Anjo da Eternidade dirige-se para o fundo do palco e senta-se no trapézio de pano que lá se encontra. Enquanto continua sua fala, o trapézio começa a subir):

ANJO DA ETERNIDADE (um riso emocionado): E voa todo aquele que se dá às asas da ousadia. Voa todo aquele que se agarra às penas da coragem de ser humano... Porque o céu... Ah, o céu... O céu é a guarida dos encantados...

(Nessa deixa, os quatro anjos cantam a parte final da canção)

(Cena final do texto JÚLIO IRÁ VOAR, de Carlos Correia Santos. Obra vencedora do primeiro lugar no Prêmio Funarte de Dramaturgia 2004. Espetáculo montado pelo Grupo Palha, com direção e encenação de Paulo Santana)