segunda-feira, 24 de agosto de 2009

ESPETÁCULO INFANTIL MOSTRA IMPORTÂNCIA DE LER











Matéria publicada no jornal DIÁRIO DO PARÁ
Em 24 de agosto de 2009

Por Dominik Giusti

A memória é uma caixinha de lembranças, uma biblioteca de sentimentos. Basta sentir um cheiro, assistir a um filme, ouvir uma música, que arquivos mentais começam a ser revirados e trazem à tona os sentimentos mais profundos, como se os momentos da vida fossem capítulos de um livro. E foi sobre lembranças, morte e literatura que o dramaturgo paraense Carlos Correia Santos escreveu seu primeiro texto teatral voltado para o público infantil, “Biblioteca Mabu”.

Toninho, o personagem principal, está no enterro de seu avô Manuel, que era apaixonado por livros. O menino cochila em um banco, e em seus sonhos surgem personagens conhecidos da literatura paraense e nacional, por meio de Mabu, um ser encantado que leva o garoto ao mundo mágico dos livros e das histórias infantis. Mabu representa a figura do avô, que na lembrança do neto está vivo e que aparece para relembrar as histórias que costumava contar.

O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, o Menino Azul, de Cecília Meireles, e o Menino Maluquinho, de Ziraldo, são alguns dos personagens que permeiam os devaneios do menino.

A história foi criada não somente para falar de conhecidos ícones da literatura infantil, mas também para colocar em pauta questões familiares e estimular nas crianças o hábito da leitura.
“É um grande convite para mostrar que a literatura não é fechada como um livro. O espetáculo mostra que sem leitura as coisas morrem, ainda mais hoje em dia, em que as crianças passam muito tempo ligadas aos meios eletrônicos. Mostra também que um bom livro pode despertar um excelente encontro entre a infância e magia da leitura”, explica o autor da peça.

O texto foi contemplado em 2003 pelo Prêmio Funarte de Dramaturgia, na categoria Infância e Juventude, ficando em terceiro lugar. Segundo o autor, escrevê-lo foi um desafio pessoal, já que ele costumava escrever textos densos e eróticos, voltados para o público adulto. “Eu achava que não conseguiria dialogar com o público infantil, até mesmo pelas características do meu texto, mais adulto. Eu quis me desafiar e fiz esse texto”, diz Carlos, enfatizando que tem uma relação muito especial com esta sua produção. “Estou com muitos textos e peças agora sendo encenados em outros Estados, mas este é especial, porque foi o primeiro texto que fiz para teatro e a premiação me incentivou muito a escrever outras peças”, completa.

O espetáculo montado só chegou aos palcos este ano. “Biblioteca Mabu” foi encenado pela primeira vez em junho passado. A insegurança quanto à realização do espetáculo e à transformação do texto do papel para os diálogos dos personagens foi um dos motivos que levou o dramaturgo a adiar a encenação da peça.

“A gente faz o texto e entrega para o diretor. Depois a gente se pergunta: será que vai funcionar? A criança é um tipo de público muito autêntico. Se gosta, gosta. Se não, levanta e vai embora. Faltava testar esse meu primeiro texto em cena”, diz o autor.

A peça está em sua segunda temporada neste mês de agosto e Carlos Correia Santos diz que agora observa as crianças durante o espetáculo. “Agora eu observo a plateia. As crianças interagem muito com o espetáculo. Quando já conhecem algum personagem, elas levantam e dizem que conhecem, e isso é muito bom, porque a minha meta é comunicar”, diz.

Como outra experiência voltada para o público infantil, Carlos apresenta também a peça “Uma flor para linda flora”, que fala sobre a preservação ambiental. Segundo o autor, este espetáculo é uma espécie de “Romeu e Julieta” ambiental, com o amor impossível entre o Túlio, o menino de entulho, feito de restos, e a Linda Flora, filha da mãe natureza.

“Quero mostrar que, para que o romance aconteça, Túlio terá que se reciclar. É um tema muito atual para as crianças, e é muito importante aproximar a sociedade desses temas por meio do teatro, que originalmente significa ‘o lugar de ver’. É o papel do artista propor reflexão. É como dizia minha avó: ‘é de menino que se torce o pepino”, diz Carlos. “Uma flor...” também foi premiado: foi o vencedor do Prêmio Cláudio Barradas de Fomento às Artes Cênicas, da Secult.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

CENAS DE UMA CONQUISTA
































Imagens da temporada de JÚLIO IRÁ VOAR, em Brasília. Apresentações realizadas de 14 a 16 de agosto de 2009. No Teatro da Caixa. As sessões foram resultado da vitória no edital nacional Caixa Cultural. Na capital federal, grande público, aplausos intensos e sinceros.

domingo, 9 de agosto de 2009

JÚLIO PARTE PARA VOAR PELOS CÉUS DE BRASÍLIA


O palco resgatará, em nível nacional, a história de um dos maiores gênios da ciência brasileira. A Caixa Econômica Federal apresenta no teatro da CAIXA Cultural Brasília, anexo do edifício-sede do banco, a peça “Julio Irá Voar”, encenada pelo grupo Palha, de Belém (PA), nos dias 14, 15 e 16 de agosto, com sessões sexta-feira e sábado às 20h e domingo às 19h, entrada franca.

Vencedor do Edital Caixa Cultural, o espetáculo conta a trajetória do poeta, pesquisador e jornalista Júlio Cezar Ribeiro de Souza, grande descobridor dos princípios da aerodinâmica, um dos maiores heróis da Navegação Aérea Mundial. Escrito pelo dramaturgo Carlos Correia Santos, o texto já tinha conquistado o primeiro lugar no Prêmio Funarte de Dramaturgia em 2004. A montagem do espetáculo é do Grupo Palha com direção e encenação de Paulo Santana. Em 2006, a peça teve sua primeira temporada apresentada em Belém com o patrocínio do Programa Amazônia Arte Mix. Incluído no Catálogo da Dramaturgia Brasileira – acervo coordenado pela conceituada autora Maria Helena Kuhner, iniciativa vencedora do Prêmio Shell –, a obra de Correia também esteve na lista de trabalhos habilitados a disputar o Prêmio de Dramaturgia Antônio José da Silva, realizado pela Funarte e Instituto Camões. A peça também marcou o lançamento, em Belém (PA), da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. A montagem foi a grande atração do evento para convidados.

Além de todos esses destaques, “Júlio Irá Voar” conta com um aval de peso. O de Luis Carlos Bassalo Crispino, um dos maiores pesquisadores sobre o inventor nortista. Crispino já deu entrevista a Jô Soares sobre suas analises a respeito da trajetória de Ribeiro e, numa carta aberta, aponta a peça como uma importante ferramenta de divulgação dos feitos do navegador. “O Crispino foi minha grande fonte de pesquisa. Foi graças à paixão dele por Júlio Cezar que consegui coletar os dados que eu precisava para compor a trama. Ele guarda um acervo precioso sobre esse incrível personagem”, conta Carlos Correia Santos.

Crispino referenda: “Intensa foi a sucessão de emoções que vivi quando assisti ao ensaio geral da peça Julio Irá Voar, de Carlos Correia Santos. Vi a história de Júlio Cezar Ribeiro de Souza representada de maneira absolutamente poética, criativa e comovente. Senti-me como parte do espetáculo, imerso na atmosfera criada durante a peça, vivendo cada emoção, cada sentimento. Uma sensação de ser transportado até mesmo para além da própria história de Júlio, fazendo refletir sobre o sentido da existência humana, de como e quando, ao longo da vida, em nossos pensamentos, temos nossos diálogos com sonhos, idéias, verdade, loucura e eternidade”.

SINOPSE

Obra vencedora do Prêmio Funarte de Dramaturgia 2004, a peça “Júlio Irá Voar” conta de forma lírica a impressionante história do pesquisador amazônico Júlio Cezar Ribeiro de Souza. Em cena, o vulto histórico se transforma num tocante personagem guiado por seres fantásticos no rumo do grande intento de sua vida: descobrir o segredo da dirigibilidade aérea. Ao longo de sua jornada, o inventor é acompanhado pelo Anjo do Sonho, pelo Anjo das Idéias, pelo Anjo da Verdade e pelo Anjo Loucura. Também conduz o enredo a intrigante figura de um personagem chamado Hermes. Conselheiro e incentivador que, no final de toda a jornada do aviador nortista, provará o quanto a Eternidade busca voar com os ousados. A montagem do Grupo Palha traz para cena uma bela e emocionante atmosfera de sonho e pesadelo.

O HERÓI

Nascido em 1843, na vila do Acará, Júlio Cezar Ribeiro de Souza é o autor da primeira tentativa de desenvolver um projeto de um dirigível no Brasil. Em 1875, iniciou seus estudos aeronáuticos, impressionado com o vôo planado das grandes aves aquáticas da Amazônia. O seu grande invento, a forma assimétrica dos balões, representou uma revolução na navegação aérea mundial da segunda metade do século XIX. Ousado e perseverante, o paraense seguiu para o Rio de Janeiro e, com o apoio do barão de Teffé e de Dom Pedro II, conseguiu verbas que o permitiram viajar para França com o intuito de construir seus projetos de vôo. Entre muitas idas e vindas, o inventor firmou patentes de todas as suas descobertas, mas acabou sendo usurpado. Seu sistema serviu de base para o plágio empreendido pelos capitães franceses Charles Renard e Arthur Krebs, que construíram o dirigível "La France", em 1884, e entraram indevidamente para a História Oficial como grandes gênios da navegação aérea. Apesar de empreender vários protestos públicos, Julio Cezar morreu desacreditado e na mais completa penúria em outubro de 1887.

O DRAMATURGO

O jornalista e escritor Carlos Correia Santos, 33 anos, se propôs mergulhar no legado de personagens histórico-culturais relevantes para a Amazônia e para o Brasil, dentro da linha de trabalho batizada como Dramaturgia Histórico-Investigativa. Pertencem a ela seus textos inspirados no pintor Ismael Nery (Nu Nery, sua primeira parceria com o Grupo Palha, em 2006, obra também vencedora do Caixa Cultural e igualmente apresentada em Brasília), no inventor Júlio Cezar Ribeiro de Souza (Júlio Irá Voar, também de 2006) e no poeta Antonio Tavernard (Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo, estreada em 2008).

“São personagens que, graças a esse vício que temos de soterrar nossas fortunas artísticas, vinham sendo mais e mais esquecidos. Ver o público redescobrir, encantar-se e emocionar-se com esses artistas é, sem dúvida, o maior e melhor retorno que se pode ganhar. As peças têm feito a imprensa falar desses grandes vultos. Vários projetos pedagógicos nos Ensinos Médio e Superior têm surgido por conta dos espetáculos. No caso de Nu Nery, por exemplo, circulamos por diversas capitais brasileiras, como Brasília, São Luís, Recife e Natal, redespertando as pessoas para o legado de Ismael Nery. No final das contas, percebemos que o teatro tem mesmo um papel social e histórico”, afirma Correia.

Carlos Correia Santos estreou recentemente no romance, com a obra “Velas na Tapera”, que ganhou o Prêmio Dalcídio Jurandir na categoria nacional em concurso promovido pela Fundação Cultural Tancredo Neves. Inspirado na história da Fordlândia, uma unidade da empresa americana Companhia Henry Ford Motores e Cia. que foi instalada em plena selva amazônica no começo do século 20, Velas na Tapera tem prefácio do escritor José Louzeiro, autor de importantes romances como Pixote - A Infância dos Mortos e Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia (ambos adaptados para o cinema com grande sucesso). Sobre a obra teatral de Correia, Louzeiro escreveu: “Seu teatro prima pela criatividade e expressividade do texto. Sem nenhum exagero e muito menos bajulação, eu o considero um dos maiores talentos da nova dramaturgia brasileira.”

O GRUPO PALHA

Criada oficialmente na década de 1980, a companhia dirigida por Paulo Santana vem colecionando momentos marcantes no cenário teatral amazônico. Em sua primeira fase, o grupo tem em seu histórico as montagens Jurupari e a Guerra dos Sexos, Tatu da Terra Lenda ou Erosão, Ao Toque do Berrante, Iby Ey Mara – Terra Sem Males e O Mendigo Ou o Cachorro Morto. Após oito anos de pausa em suas atividades, a companhia retomou sua carreira em 2002 com a montagem de Eterno e Belo Há Apenas o Sonho, baseada na obra de Fernando Pessoa. A produção seguinte foi Van Gogh, inspirado no clássico de Antonin Artaud, Van Gogh – O Suicidado pela Sociedade. Logo depois, montaram a comédia besteirol Se Não Gostaram é Porque Não Entenderam ... A Revanche! A primeira montagem de “Nu Nery” teve sua estréia em maio de 2006. O Palha montou outros textos de Carlos Correia, como a fábula infantil Uma Flor para Linda Flora, apresentada em Tucuruí, e Júlio Irá Voar.