domingo, 9 de agosto de 2009

JÚLIO PARTE PARA VOAR PELOS CÉUS DE BRASÍLIA


O palco resgatará, em nível nacional, a história de um dos maiores gênios da ciência brasileira. A Caixa Econômica Federal apresenta no teatro da CAIXA Cultural Brasília, anexo do edifício-sede do banco, a peça “Julio Irá Voar”, encenada pelo grupo Palha, de Belém (PA), nos dias 14, 15 e 16 de agosto, com sessões sexta-feira e sábado às 20h e domingo às 19h, entrada franca.

Vencedor do Edital Caixa Cultural, o espetáculo conta a trajetória do poeta, pesquisador e jornalista Júlio Cezar Ribeiro de Souza, grande descobridor dos princípios da aerodinâmica, um dos maiores heróis da Navegação Aérea Mundial. Escrito pelo dramaturgo Carlos Correia Santos, o texto já tinha conquistado o primeiro lugar no Prêmio Funarte de Dramaturgia em 2004. A montagem do espetáculo é do Grupo Palha com direção e encenação de Paulo Santana. Em 2006, a peça teve sua primeira temporada apresentada em Belém com o patrocínio do Programa Amazônia Arte Mix. Incluído no Catálogo da Dramaturgia Brasileira – acervo coordenado pela conceituada autora Maria Helena Kuhner, iniciativa vencedora do Prêmio Shell –, a obra de Correia também esteve na lista de trabalhos habilitados a disputar o Prêmio de Dramaturgia Antônio José da Silva, realizado pela Funarte e Instituto Camões. A peça também marcou o lançamento, em Belém (PA), da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. A montagem foi a grande atração do evento para convidados.

Além de todos esses destaques, “Júlio Irá Voar” conta com um aval de peso. O de Luis Carlos Bassalo Crispino, um dos maiores pesquisadores sobre o inventor nortista. Crispino já deu entrevista a Jô Soares sobre suas analises a respeito da trajetória de Ribeiro e, numa carta aberta, aponta a peça como uma importante ferramenta de divulgação dos feitos do navegador. “O Crispino foi minha grande fonte de pesquisa. Foi graças à paixão dele por Júlio Cezar que consegui coletar os dados que eu precisava para compor a trama. Ele guarda um acervo precioso sobre esse incrível personagem”, conta Carlos Correia Santos.

Crispino referenda: “Intensa foi a sucessão de emoções que vivi quando assisti ao ensaio geral da peça Julio Irá Voar, de Carlos Correia Santos. Vi a história de Júlio Cezar Ribeiro de Souza representada de maneira absolutamente poética, criativa e comovente. Senti-me como parte do espetáculo, imerso na atmosfera criada durante a peça, vivendo cada emoção, cada sentimento. Uma sensação de ser transportado até mesmo para além da própria história de Júlio, fazendo refletir sobre o sentido da existência humana, de como e quando, ao longo da vida, em nossos pensamentos, temos nossos diálogos com sonhos, idéias, verdade, loucura e eternidade”.

SINOPSE

Obra vencedora do Prêmio Funarte de Dramaturgia 2004, a peça “Júlio Irá Voar” conta de forma lírica a impressionante história do pesquisador amazônico Júlio Cezar Ribeiro de Souza. Em cena, o vulto histórico se transforma num tocante personagem guiado por seres fantásticos no rumo do grande intento de sua vida: descobrir o segredo da dirigibilidade aérea. Ao longo de sua jornada, o inventor é acompanhado pelo Anjo do Sonho, pelo Anjo das Idéias, pelo Anjo da Verdade e pelo Anjo Loucura. Também conduz o enredo a intrigante figura de um personagem chamado Hermes. Conselheiro e incentivador que, no final de toda a jornada do aviador nortista, provará o quanto a Eternidade busca voar com os ousados. A montagem do Grupo Palha traz para cena uma bela e emocionante atmosfera de sonho e pesadelo.

O HERÓI

Nascido em 1843, na vila do Acará, Júlio Cezar Ribeiro de Souza é o autor da primeira tentativa de desenvolver um projeto de um dirigível no Brasil. Em 1875, iniciou seus estudos aeronáuticos, impressionado com o vôo planado das grandes aves aquáticas da Amazônia. O seu grande invento, a forma assimétrica dos balões, representou uma revolução na navegação aérea mundial da segunda metade do século XIX. Ousado e perseverante, o paraense seguiu para o Rio de Janeiro e, com o apoio do barão de Teffé e de Dom Pedro II, conseguiu verbas que o permitiram viajar para França com o intuito de construir seus projetos de vôo. Entre muitas idas e vindas, o inventor firmou patentes de todas as suas descobertas, mas acabou sendo usurpado. Seu sistema serviu de base para o plágio empreendido pelos capitães franceses Charles Renard e Arthur Krebs, que construíram o dirigível "La France", em 1884, e entraram indevidamente para a História Oficial como grandes gênios da navegação aérea. Apesar de empreender vários protestos públicos, Julio Cezar morreu desacreditado e na mais completa penúria em outubro de 1887.

O DRAMATURGO

O jornalista e escritor Carlos Correia Santos, 33 anos, se propôs mergulhar no legado de personagens histórico-culturais relevantes para a Amazônia e para o Brasil, dentro da linha de trabalho batizada como Dramaturgia Histórico-Investigativa. Pertencem a ela seus textos inspirados no pintor Ismael Nery (Nu Nery, sua primeira parceria com o Grupo Palha, em 2006, obra também vencedora do Caixa Cultural e igualmente apresentada em Brasília), no inventor Júlio Cezar Ribeiro de Souza (Júlio Irá Voar, também de 2006) e no poeta Antonio Tavernard (Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo, estreada em 2008).

“São personagens que, graças a esse vício que temos de soterrar nossas fortunas artísticas, vinham sendo mais e mais esquecidos. Ver o público redescobrir, encantar-se e emocionar-se com esses artistas é, sem dúvida, o maior e melhor retorno que se pode ganhar. As peças têm feito a imprensa falar desses grandes vultos. Vários projetos pedagógicos nos Ensinos Médio e Superior têm surgido por conta dos espetáculos. No caso de Nu Nery, por exemplo, circulamos por diversas capitais brasileiras, como Brasília, São Luís, Recife e Natal, redespertando as pessoas para o legado de Ismael Nery. No final das contas, percebemos que o teatro tem mesmo um papel social e histórico”, afirma Correia.

Carlos Correia Santos estreou recentemente no romance, com a obra “Velas na Tapera”, que ganhou o Prêmio Dalcídio Jurandir na categoria nacional em concurso promovido pela Fundação Cultural Tancredo Neves. Inspirado na história da Fordlândia, uma unidade da empresa americana Companhia Henry Ford Motores e Cia. que foi instalada em plena selva amazônica no começo do século 20, Velas na Tapera tem prefácio do escritor José Louzeiro, autor de importantes romances como Pixote - A Infância dos Mortos e Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia (ambos adaptados para o cinema com grande sucesso). Sobre a obra teatral de Correia, Louzeiro escreveu: “Seu teatro prima pela criatividade e expressividade do texto. Sem nenhum exagero e muito menos bajulação, eu o considero um dos maiores talentos da nova dramaturgia brasileira.”

O GRUPO PALHA

Criada oficialmente na década de 1980, a companhia dirigida por Paulo Santana vem colecionando momentos marcantes no cenário teatral amazônico. Em sua primeira fase, o grupo tem em seu histórico as montagens Jurupari e a Guerra dos Sexos, Tatu da Terra Lenda ou Erosão, Ao Toque do Berrante, Iby Ey Mara – Terra Sem Males e O Mendigo Ou o Cachorro Morto. Após oito anos de pausa em suas atividades, a companhia retomou sua carreira em 2002 com a montagem de Eterno e Belo Há Apenas o Sonho, baseada na obra de Fernando Pessoa. A produção seguinte foi Van Gogh, inspirado no clássico de Antonin Artaud, Van Gogh – O Suicidado pela Sociedade. Logo depois, montaram a comédia besteirol Se Não Gostaram é Porque Não Entenderam ... A Revanche! A primeira montagem de “Nu Nery” teve sua estréia em maio de 2006. O Palha montou outros textos de Carlos Correia, como a fábula infantil Uma Flor para Linda Flora, apresentada em Tucuruí, e Júlio Irá Voar.


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