quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

MATÉRIA DO JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO


Reproduzo aqui interessante destaque nacional dado ao meu trabalho. O texto abaixo, assinado pela conceituada jornalista Beth Néspoli, foi capa do Caderno 2 do jornal Estado de São Paulo, matéria publicada em 13 de fevereiro de 2007

TEATRO DE VENCEDORES

Concursos mudam a vida dos dramaturgos premiados? Em busca de respostas, a reportagem do Estado entrevistou 14 autores de 8 Estados e 5 regiões do Brasil

Beth Néspoli

Quem são os premiados nos concursos de dramaturgia? Tal premiação influi na carreira do texto e/ou de seu autor? Em busca de respostas, a reportagem do Estado decidiu conversar com alguns desses escolhidos. Os entrevistados estão entre os vencedores dos prêmios Funarte (MinC) e Carlos Carvalho, este último promovido pela prefeitura de Porto Alegre (RS), selecionados por conta de sua abrangência nacional. Foram 14 autores premiados entre 1988 e 2005, de oito Estados das cinco regiões do País.

Vencer concurso leva uma peça ao palco? As respostas são tão diversas quanto os textos premiados. “Para mim, abriu caminho”, diz Carlos Correia Santos, de Belém (no destaque). “Em 2003, ter sido aprovado por um júri especializado serviu como selo de qualidade. Afinal, não existe crítica para um dramaturgo iniciante, não encenado”, argumenta. No seu caso, logo após o concurso, foi procurado por um grupo interessado em encenar Biblioteca Mabu. A partir daí, vieram outros prêmios, outras montagens, e ele não mais parou.

Mas até agora a história é outra para Edivaldo da Silva, de Brasília, 1º lugar na categoria adulto, região Centro-Oeste, no Concurso da Funarte de 2005, com Laura. “Para quem está iniciando ajuda, porque dá visibilidade e credibilidade, mas o principal é a montagem, senão é prêmio de literatura”, diz. “E aí não depende só de interesse, mas das dificuldades de produção impostas pelo texto. No meu caso, há quem queira encenar, mas não se conseguiu levantar a produção”, diz Edivaldo.

Com quatro peças encenadas, Sérgio Roveri, 1º lugar na Funarte em 2005 por Com Vista para dentro, pensa de forma semelhante. “Ter sido selecionado é um grande estímulo, mas a montagem (estréia dia 28 em São Paulo) depende de outros fatores que vão do elenco ao interesse de um diretor.”

A publicação do texto por si só - e isso os concursos fazem -, num país de dimensões continentais, não amplia o leque dos interessados? Mais uma vez, as respostas variam entre sim e não.“Há uma diferença entre impressão e publicação”, observa Marcos Barbosa, autor experiente e de sólida formação cultural (no destaque). “Os concursos imprimem as peças, mas a circulação e a divulgação são muito restritas”, diz ele, que tem vários textos encenados no Brasil e no exterior.

Mas há quem pense diferentemente dele, até dentro de casa. Sua mulher, Cláudia Barral, fala com entusiasmo das conseqüências de ter ficado em 3º lugar na Funarte, em 2003, com a peça Cordel do Amor sem fim. “Recebi propostas de trabalho e o texto teve leitura dramática na Bahia e no CCBB de São Paulo, sob direção de Francisco Medeiros.

Naldo Alves, gaúcho radicado no Rio, é médico, ator, diretor, e atualmente dedica-se a criar programas educativos institucionais. Foi o 1º colocado em 1988 no Concurso Carlos Carvalho com Tortura não É Brinquedo, peça encenada em Porto Alegre e no Paraguai, esta última porque o livro bateu nas mãos da diretora Erenia López em uma viagem por Porto Alegre. “Foi por acaso mesmo”, diz Naldo.

Ainda assim, há o outro lado dessa moeda. “A publicação é ótima, claro, mas já flagrei duas montagens no interior sem autorização e quase suspendi uma de Vestir o Pai feita numa escola de São Paulo”, diz o paulista Mário Viana (no destaque). “Não é pelo dinheiro, mas por respeito e ética”, diz.

Se há um ponto onde todos convergem é a lisura no processo de escolha. Nos dois concursos em foco, salta aos olhos a mistura extrema entre autores experientes e iniciantes. O paulista Dagomir Marquaze, de 53 anos, por exemplo, conseguiu a proeza de tirar o 1.º lugar no concurso da Funarte na categoria adulto em 2004, na concorrida região Sudeste, com a peça Intervalo. “Não tenho nenhum conhecimento nessa área de teatro, o que prova não ser um concurso viciado”, diz. “Eu estava cansado de fazer roteiros e projetos para cinema que não davam em nada e resolvi escrever uma peça sem muita esperança. Ganhei!” A trama transcorre durante as gravações de uma novela. “É entretenimento, sem outra ambição. Tem produtor interessado no Rio, mas ainda não há nada de concreto.”

O gaúcho Gabriel Camargo, 1º lugar na região Sul no concurso da Funarte de 2005, com a peça A Ufania do Pecado, é psiquiatra e aproveitou o prêmio para editar seu primeiro romance.

Paulista de Penápolis radicado em Florianópolis, Carlos Eduardo Silva, de 46 anos, tem um respeitável currículo como maquiador de teatro. E ainda três textos teatrais premiados, entre eles A Filha da..., selecionado pelo MinC em 2000 e dois anos depois encenado no Rio com Marília Pêra no elenco. Quem freqüenta o Centro Cultural São Paulo conhece o atento funcionário Paulo Jordão. Pois ele tem mais de um texto premiado, nenhum ainda encenado profissionalmente, entre eles Corrida ao Caos, 3º lugar no Carlos Carvalho em 2002. “Acho o concurso importante, porque alguém pode ler e se interessar, como Elis Regina fazia com novos compositores”, sugere Jordão.

Evidentemente, a dramaturgia não é feita só de gênios - eles são raros, um a cada século, e em geral são assim avaliados depois de sua morte. Nenhum país do mundo possui uma cena vital sem bons dramaturgos que a alimentem no dia-a-dia. No Brasil, eles existem e não apenas nos grandes centros, foi a feliz constatação desta reportagem. E suas obras circulam. O diretor carioca Amir Haddad já montou peças do cearense Mapurunga. Textos de Mário Viana foram montados em Fortaleza e no Recife.

Todos os autores em destaque nesta página têm peças de indubitável qualidade, como De Braços Cruzados, do cearense Emmanuel Nogueira, cuja poética remete a autores nordestinos de reconhecido talento, como Gero Camilo e Newton Moreno. Em conjunto, esses dramaturgos refletem a riqueza cultural deste País, com obras que mereciam intercâmbio mais intenso, e constante.De palco em palco, e não só no Brasil.

DESTAQUES

Carlos Correia Santos, 31 anos, Belém – PA: Cinco prêmios de dramaturgia, entre eles duas vezes 3º lugar nos concursos da Funarte de 2003 e 2005, na categoria infanto-juvenil, com Biblioteca Mabu e Ludique. E 1º lugar na categoria adulto, em 2004, com a peça Júlio Irá Voar. Nove textos escritos, cinco encenados em Belém e em outros Estados, entre eles, Amazonas e São Paulo. Nu Nery, drama baseado na vida pintor e poeta Ismael Nery, ganhou também o Prêmio Funarte Petrobrás de Fomento ao Teatro em 2005 e o Caravana Funarte Petrobrás de Circulação Nacional. A montagem do grupo Palha, de Belém, foi selecionada para participar do Festival Brasileiro de Teatro de Itajaí (SC), em 2007. Jornalista, produtor cultural, bacharel em Direito, poeta, contista, cronista e dramaturgo. (OBS: Informações da época em que a matéria foi publicada. Hoje, conto com mais prêmios em dramaturgia, mais espetáculos escritos e mais encenações)

Marcos Barbosa, 29 anos, Salvador, BA: Cinco textos premiados entre os quais se destacam Braseiro, Prêmio Lourdes Carvalho, em Campina Grande (PB), em 2000, e Avental Todo Sujo de Ovo, 1.º lugar no Concurso Carlos Carvalho, de Porto Alegre (RS), em 2005. Onze textos encenados em diversos Estados e no exterior. Braseiro já teve três encenações: Fortaleza, em 2000; São Paulo, em 2003, na Mostra de Dramaturgia do Sesi; Salvador, em 2005, e ainda leitura dramatizada no Royal Court. Quase Nada foi encenada sete vezes, no Brasil e no exterior. Montagem dirigida por Alain Brum reestréia em São Paulo, no dia 23, no Teatro Cacilda Becker. Doutorando e mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia, onde também é professor de dramaturgia e teoria teatral.

José Maria Mapurunga, 55 anos, Fortaleza – CE: Com dramaturgia que reflete sua pesquisa em cultura popular e literatura de cordel, ganhou em 1998 o Prêmio Carlos de Carvalho, com A Farsa do Panelada e, em 1999, o Prêmio Carlos Câmara, em Fortaleza, com o Auto de Leidiana.Tem 19 peças encenadas, em diversos Estados e no exterior, e três textos inéditos. A Farsa do Panelada foi encenada em Maputo (Moçambique) e nos Estados do Rio, Ceará, Pernambuco e Pará. Uma montagem de Porto Alegre foi apresentada na Argentina e no Uruguai. Só o grupo Mapati, de Brasília, tem no repertório seis peças de sua autoria já apresentadas em Estados como Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Rio, Minas, Goiás, Rondônia e Acre. Dramaturgo, poeta, escritor, roteirista, cordelista e criador de histórias em quadrinhos.Orlângelo Leal, 32 anos, Itapipoca – CE: Dois textos premiados no Concurso de Dramaturgia da Funarte: As Prosopopéias de Casimiro Côco (2004) e Noite Serena de Lua Cheia(2005).Oito peças encenadas - inclusive as premiadas - no Ceará e também em estados, como Acre, Goiânia e Rio. Musicou os espetáculos teatrais Bagaceira, Enquanto o Mundo Pega Fogo, Vaca Lelé e O Casamento de Tabarim. Para cinema, musicou o curta-metragem A Morte Prepara o Laço. Multiartista, pesquisador da cultura popular brasileira, é brincante, autor, diretor, ator e compositor. Integrante da Trupe Metamorfose e músico da banda Dona Zefinha, com a qual viajou para a Alemanha e lançou os discos Cantos e Causos e Zefinha Vai à Feira.

Mário Viana, 46 anos, São Paulo – SP: Seis premiações em dramaturgia, entre elas no Concurso Carlos Carvalho, nos anos de 2000 e 2001 por, respectivamente, Vamos?e Vestir o Pai. Em 2003, Galeria Metrópole ficou em 2º lugar, região Sudeste, no concurso da Funarte.Tem 20 peças escritas e 10 encenadas, entre elas Vestir o Pai, sob direção de Paulo Autran, e Galeria Metrópole. A primeira, com o título Vestiendo a Papá, foi encenada pelo grupo La Gaviota, no Uruguai, e valeu a Olga Olhagaray o prêmio de melhor atriz de 2006. Carro de Paulista, escrita com Alessandro Marson, está há quatro anos em cartaz.Dramaturgo, jornalista e co-autor de novelas.

Emmanuel Nogueira34 anos, Fortaleza – CE: Oito textos premiados, entre eles, 1º lugar em 2002 no Concurso Carlos Carvalho, com Os Cactos, e 1º lugar da região Nordeste no concurso da Funarte, em 2005, com De Braços Cruzados. Recebeu ainda auxílio de montagem do MinC, prêmio Encena Brasil, para A Serva.Onze peças escritas, 5 encenadas - Os Cactos e De Braços Cruzados estão em fase de ensaios em Fortaleza. Sua comédia Esperando Comadre Daiana, encenada por um grupo de Juazeiro do Norte, está há um ano e meio em cartaz, e foi vista por 6 mil espectadores em 17 cidades dos Estados de Piauí e do Ceará. Roteirista, dramaturgo e jornalista com especialização em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará.

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