sábado, 14 de março de 2009

A POESIA NUM DUELO ENTRE ALMA E CORPO







Peça premiada no Edital da Secult chega ao palco. Espetáculo é alerta para a falta de memória cultural

Quando um poeta é esquecido, deixamos morrer a poesia que existe em todos nós. Este é o grande mote que inspira e move a trama do espetáculo “Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo”, que estreia hoje, às 21h, no Espaço Cuíra. Resultado de um dos projetos selecionados no Edital Estadual de Fomento às Artes Cênicas – Prêmio Cláudio Barradas, realizado pela Secretaria de Cultura do Pará (Secult) e Sistema Integrado de Teatros (SIT), a montagem, que conta com o apoio da fábrica Velas Cigana, também será apresentada amanhã (Dia do Poeta), às 21h, e no domingo, às 20h. Escrita e dirigida por Carlos Correia Santos e produzida por Márcio Mourão, a peça mergulha no universo lírico do poeta icoaraciense Antônio Tavernard, cujo centenário foi celebrado no ano passado.

“O projeto tinha sido estruturado para ser apresentado em 2008, precisamente no mês de nascimento do Tavernard. Mas tivemos que mudar os planos por conta do cronograma do Edital da Secult”, explica Márcio. E ele complementa: “Mas nem de longe o nosso gancho foi perdido. A proposta maior do espetáculo é questionar, provocar e instigar. Por que esquecemos tanto da nossa memória cultural, aqui no Pará? Por que um poeta como o Antônio Tavernard é tão pouco celebrado e totalmente ignorado pelo grande público. Essas são as perguntas que rondam toda a narrativa”.

ENREDO

A peça tem como enredo uma sugestiva metáfora. Tavernard e sua Alma se encontram em algum ponto do limbo. Interpretados por Luis Girard e Vaneza Oliveira, os dois personagens passam a travar um doloroso, longo e revelador embate. O poeta quer saber por qual motivo deixou de viver na memória das pessoas. A Alma se angustia. Tenta de todas as formas fugir de uma resposta. Mas é inevitável tentar escapar. A verdade é só uma: as pessoas andam matando, dia a dia, o lirismo que mora em todo espírito.

Márcio Mourão acredita que a trama tem potencial para sensibilizar a platéia com relação ao descaso geral que cerca o legado de Tavernard. “A alma é, na realidade, o alter ego do escritor. O que se vê em cena é a dramatização de uma conversa do poeta consigo mesmo. Tudo o que ele indaga para a Alma é dirigido às suas próprias dores. Tudo o que a Alma diz, é o sussurro da intimidade dele mesmo. E o público acompanha tudo isso, como quem presencia um diálogo íntimo. No final das contas, caberá a platéia assimilar e digerir todos os questionamentos”.

O produtor executivo do projeto aponta outras particularidades da montagem. “Muitas coisas tornam essa temporada especial. Primeiro que ela é resultado do trabalho de um coletivo. Não somos uma companhia, e sim um grupo que se uniu para essa proposta. Outro aspecto interessante é que essa é a primeira vez que o Carlos Correia assina uma direção. Outros diretores passaram pelo processo de estruturação da peça, mas o Carlos deu o desenho final da encenação, que é bem minimalista, aposta mais que tudo na palavra. Por fim, vamos nos apresentar no Dia do Poeta, comemorado no sábado. Para nós, essa coincidência foi um enorme presente”.

TONY

Conhecido na intimidade como Tony, o poeta Antônio de Nazareth Frazão Tavernard nasceu em Icoaraci, antiga Vila de Pinheiros, no dia 10 de outubro de 1908. Desde cedo interessado pela arte dos versos, Antônio Tavernard foi também contista, cronista, dramaturgo e letrista. É de sua autoria a letra do hino do Clube do Remo. Em parceria com o maestro Waldemar Henrique, compôs clássicos do cancioneiro nortista, como “Foi Boto Sinhá” e “Matinta Pereira”. Para o teatro, criou deliciosos vaudevilles, como a “Casa da Viúva Costa”.

Aos 18 anos, o escritor foi diagnosticado como portador de hanseníase, o que, na época, era uma sentença de morte. Mesmo fadado, o autor não sucumbiu à melancolia. Produziu uma obra que, até hoje, impressiona, fascina e perturba. Sua morte aconteceu no dia 02 de maio de 1936.

EDITAL

Instituído pelo Governo do Estado, via Secult e SIT, o “Edital Estadual de Fomento às Artes Cênicas” – “Prêmio Cláudio Barradas” tem o objetivo de apoiar a criação de projetos de pesquisa e produção de montagem de espetáculos, visando o desenvolvimento do teatro e o melhor acesso à população às artes cênicas no Pará.

Além do projeto de “Duelo do Poeta”, foram também selecionados “Tem gato no telhado” (In Bust / Belém), “Agora, A Mandrágra” (Usina Contemporânea / Belém), “O Uirapuru” (Cia. Teatral Nós Outros/Belém), “O Avarento” (Palhaços Trovadores/Belém), “Severa Romana” (Cia. Fato em Ato/Belém), “Do barro ao boneco” (Jeferson Cecim/Belém), “Theodoro” (Grupo Palha/Belém), “Uma flor para linda flora” (Bruno Leonardo Oliveira/Belém), “Mini teatro ambulante” (André Mardock/Belém), “Projeto Lambe-Lambyke” (Edson Fernando/Belém), “Conto dos quatro cantos” (Ester Sá/Belém), “Crendices da Amazônia” (Aline Cristina Dias/São Sebastião da Boa Vista), “O macaco que não é prego” (Cia. Teatro Mambembe/Santa Luzia do Pará), “Águas de Mariana” (Keila Andréa Cardoso/Belém) e “Hypno Vacivus” (Cia. Argonautas/Castanhal).

SERVIÇO:
“Duelo do Poeta com Sua Alma de Belo”, de Carlos Correia Santos. Com Luis Girard e Vaneza Oliveira. Prêmio Cláudio Barradas (Secult). Apoio: Velas Cigana. Produção Executiva: Márcio Mourão. Luz e sonoplastia: Nelson Borges. Hoje e amanhã, às 21h, e domingo, às 20h. No Espaço Cuíra, que fica na 1º de Março, nº 524. Ingressos: R$ 20,00, inteira, e R$10,00 meia.

Um comentário:

Claudia disse...

Eu queria ir, mas esse fim de semana tá complicado...
Vai ter remontagem? Estive no palco do Cuíra sexta e fiquei doida pra ver a peça...