Detalhe da arte gráfica do romance "Velas na Tapera"
Carlos Correia Santos (livro em terras lusitanas)
Com prefácio assinado por José Louzeiro e nota de orelha escrita por Olga Savary, obra traz como pano de fundo polêmico projeto da Cia. Ford Motors. Escritor também terá livro lançado na África
Registros e detalhes sobre uma marcante odisséia vivida pela Amazônia vão aportar em solo europeu graças à literatura. Emoldurado por referências sobre um dos mais polêmicos projetos industriais já realizados na História recente, o romance “Velas na Tapera”, do escritor Carlos Correia Santos, será lançado em Lisboa no próximo dia 06 de junho em um recital litero-musical promovido pela FNAC Chiado. O evento promete ser uma fusão cultural que contará com uma mostra de música brasileira e amazônica a cargo dos artistas Fercy Nery (na voz e violão) e Attila Argay (na bateria). A programação incluirá um bate-papo com o autor, além da sessão de autógrafos.
Resultado de seis anos de pesquisa, “Velas na Tapera” tem como pano de fundo a colossal história de Fordlândia, núcleo urbano erguido pela Cia Ford nos anos 20, em plena selva amazônica, para produção de látex destinado à fabricação de pneus que seriam utilizados pela poderosa empresa automobilística. O projeto acabou abandonado depois que a plantação de seringueiras foi atacada por uma praga. É pelo cenário da abandonada cidade americana, em meio ao ermo da mata, que transitam os personagens da narrativa. Em especial, Rita Flor.
Rita perde sua filha de seis anos. Após um misterioso incêndio em sua tapera, ela acredita que sua menina virou uma milagreira e decide construir uma capela em sua homenagem. A jovem não tem dinheiro para cumprir seu intento. O único caminho que lhe resta é prostituir-se. O sagrado e o profano deitam-se na mesma cama. Em meio ao vazio e ao desencanto que transformam Forlândia numa vila fantasmagórica, Rita vende seu corpo para santificar a filha.
PRÊMIO E AVAL
“Velas na Tapera” venceu em 2008 o Prêmio Dalcídio Jurandir, promovido pela Fundação Tancredo Neves (FCPTN), uma das mais importantes entidades culturais da região amazônica. A obra tem prefácio assinado pelo romancista José Louzeiro (autor de clássicos da literatura brasileira, como Pixote e Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia) e orelha assinada por Olga Savary (uma das mais importantes poetas brasileiras, considerada a introdutora do hai-kai nas letras nacionais.
“Sinto que é uma honra em todos os sentidos poder lançar esse trabalho em Portugal. Primeiro porque consigo provar que, mesmo sem a cobertura de mercado de uma grande editora, é possível fazer circular a produção literária. O romance chegou aos leitores graças a um prêmio. Foi editado por uma fundação amazônica e, ainda assim, está trilhando um caminho sólido”, ressalta Correia. E ele complementa: “Essa possibilidade de intercâmbio também é sempre fascinante. Para quem cria narrativas em língua portuguesa é uma experiência emocionante poder levar seus ditos ao país berço do idioma com o qual labuta”.
Em breve, o trabalho de Correia também chegará à África. Em 2009, o romancista e dramaturgo venceu o concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação do Brasil, com a peça infantil “Não Conte com o Número Um no Reino de Numesmópolis”. O trabalho está sendo editado numa coleção com tiragem de 300 mil exemplares que serão distribuídos em escolas brasileiras e africanas.
O AUTOR
Poeta, contista, cronista, dramaturgo, roteirista e romancista, Carlos Correia Santos tem feito da diversidade uma grande marca de sua carreira. É escritor vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir 2008, na categoria romance, com a obra "Velas na Tapera", concurso de vulto nacional criado para celebrar o centenário do romancista Dalcídio Jurandir. É autor do premiado livro de poemas “O Baile dos Versos”, obra que ganhou especial saudação da Academia Brasileira de Letras, em 1999. Também são de sua autoria as obras “Poeticário” (poemas), “No Último Desejo a Carne é Fria” (coletânea de contos), “Nu Nery” (teatro), Ópera Profano (teatro / Prêmio Cidade de Manaus) e “Batista” (teatro).
Como escritor na área de artes cênicas, coleciona importantes láureas nacionais, como o Prêmio Funarte de Dramaturgia por três anos consecutivos (2003, 2004 e 2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro (2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Circulação Nacional (2006) e o Edital Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil.
Incluídos no Catálogo da Dramaturgia Brasileira da renomada autora Maria Helena Kühner (iniciativa detentora do Prêmio Shell), seus textos teatrais já ganharam diversas montagens e já foram apresentados nas cidades brasileiras de Belém, São Luís, Natal, Recife, Camaçari, Piracicaba, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Suas peças já foram traduzidas para o francês e espanhol. Importantes artistas brasileiros, como Stella Miranda (que interpretou a síndica do humorístico "Toma La, Dá Cá", de Miguel Falabella, exibido na TV Globo), já assinaram direção de suas obras.
Em 2009, foi o autor vencedor da categoria dramaturgia do III Concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação. O texto premiado chama-se “Não Conte com o Numero Um No Reino de Numesmópolis”. No cinema, foi agraciado com o Prêmio do Edital Curta Criança do Ministério da Cultura. Assinou a seção Contando Um Conto, no jornal O Liberal (um dos maiores da região Norte) e Portal ORM. É colaborador, com seus contos, do jornal O Estado do Acre e dos sites BV News (Roraima), Amapá Digital (Amapá), Manaus On Line (Manaus), Madeira On Line (Rondônia) e Timor On Line (Timor Leste).
TRECHOS DO PREFÁCIO DE VELAS NA TAPERA
PERSONAGEM EMBLEMÁTICA
José Louzeiro*
“(...) Em boa hora, o nome do injustiçado Dalcídio vira prêmio literário em Belém, Pará, e o vencedor é o talentoso Carlos Correia Santos – “Velas na Tapera” – que prima pela criatividade, e eu até diria, pela singularidade na maneira de expressar-se.
Isso faz com que este “Velas na Tapera” seja uma obra cativante e originalíssima. O autor brinca com as frases sincopadas e a elas dá espírito novo, através de sugestivas e oportunas expressões metafóricas. A par desses recursos, de certa maneira cultivados por Guimarães Rosa, há que se destacar a preocupação do autor com a questão social, coisa essa imanente em todas as obras de Dalcídio.
A personagem trabalhada, dramaticamente por Carlos Correia é Rita Flor que, com suas vestes pretas, transforma-se numa espécie de estandarte vivo do sofrimento e da desesperança; da mulher diante de seus problemas pessoais, mas funcionando como figura emblemática neste livro que é a narrativa, também, do desastre de uma grande aventura industrial – a Fordlândia (Companhia Henry Ford Motores e Cia.) – que se instala em plena selva amazônica, mas pouco depois sobrevém a desilusão: o projeto naufraga no mar de folhas de todos os verdes, os prédios tornam-se taperas, as máquinas são esquecidas no matagal, como a pedir socorro pelo abandono a que foram entregues.
Mas ao autor, experiente teatrólogo, não basta contar a história do naufrágio do ambicioso projeto industrial numa região da mais absoluta carência; ele se esmera na técnica do dizer, do inventar, literariamente, coisa essa que o coloca no plano mais alto que um escritor poderia aspirar. Claro está que neste “Velas na Tapera” há muitos e bem traçados personagens, mas a figura que transcende é a de Rita Flor, forte e decidida como certas personagens da obra de Bertolt Brecht.
O enterro que Rita faz da filha equivale, nas entrelinhas, ao verdadeiro e definitivo funeral (ou pá de cal?...) do projeto norte-americano que se tornou esperança de vida para uma comunidade inteira, na floresta que guarda tanto viço e riquezas a serem descobertas.
Neste “Velas na Tapera”, Rita me faz lembrar, de certa forma, “A Alma Boa de Setsuan” (Brecht), pois ela é, na verdade, uma “parábola teatral,” ao mesmo tempo em que pode ser o espírito da mata, da dor materializada no pólen das flores, da decadência, das malárias e pesadelos, dos que sonharam e acordaram perdedores, tremendo no frio da desesperança.
Com este primeiro romance, se Carlos Correia já era considerado versátil teatrólogo, agora estréia na condição de ficcionista que prima pelas inovações e capacidade narrativa. Depois de sepultar a filha Saninha, Rita “se deitaria para sempre sobre a solidão”, pois ela passa a ser a personificação do que, popularmente, chamamos de “alma penada”, sujeita a chuvas e trovoadas.
O autor traça de tal forma o desenho desta personagem que sua projeção estende-se sobre a narrativa, torna-se absoluta e por que não dizer, chocante, surpreendente, pois é clara a intenção do autor em revolucionar as velhas formas “do dizer e do sentir” no contar de uma história.
“Velas na Tapera” é o que se pode chamar de realismo mágico a envolver a pequena comunidade marcada pela ausência de caminhos. Apenas Rita trilha as picadas da ausência, na louca tentativa de resgatar Saninha, materialização da saudade, do que se foi, não é mais. Menos para Rita. Curioso: essa metáfora, criada com maestria pelo ficcionista, envolve todos os habitantes das taperas, inconscientes da realidade que é uma espécie de rio sem começo e sem fim.
Somente Rita Flor, com as pegadas que deixa pelos caminhos fundos, pulsa como sendo a dor e a oculta paixão de certos homens, que sabem não serem correspondidos, pois o coração de Rita foi sepultado com o corpo de Saninha.
No desvario dela própria e no dos outros é que Rita encontra forças para manter-se viva no seu “mudo prantear”. Mas na visão estreita dos vizinhos ela é apenas a desmemoriada, que tudo perdeu – o marido, a casa incendiada – e, agora, vive das luzes que recebe da filha sepultada, mas que, para ela, mantém-se “vela acesa” ou sonho que não se deixa mesclar pelas cores soturnas do seu desafiador existir.
No mundo especial em que Rita transita, além das folhas verdes da floresta, há velas acesas a iluminar sua passagem. Pena que ela já tivesse “um ver que não via nada”, nem seus ouvidos registravam os “sussurros do mato” e muito menos os “cochichos de reentrâncias”.
As dores transformaram Rita Flor em assombração no inconsciente dos humilhados e ofendidos. Com este livro, Carlos Correia demonstra ser um grande conhecedor do poder das metáforas e de como utilizá-las com sutileza e sabedoria.
* Um dos mais importantes nomes das letras nacionais, José Louzeiro é autor de 40 livros e criador, no Brasil, do gênero intitulado romance-reportagem. Atuou em célebres veículos de comunicação, como “Última Hora”, “Correio da Manhã” e Revista Manchete. No cinema já assinou, como roteirista, dez longas-metragens, dos quais pelo menos três se tornaram populares: “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, “Pixote” e “O Homem da Capa Preta”. Lançou pela Editora Francisco Alves o estudo biográfico intitulado O Anjo da Fidelidade, sobre Gregório Fortunato, o “anjo negro” de Getúlio Vargas. Em 2001, pela Editora do Brasil: "Isto não deu no jornal" (memórias de sua passagem por cinco jornais cariocas). E em 2002, “Ana Nery, a brasileira que venceu a guerra” (Editora Mondrian): biografia da heroína baiana, patrona dos enfermeiros brasileiros. O trabalho foi adaptado para a televisão, tendo Marília Pêra como protagonista. Ainda na TV, foi o autor de novelas como “Corpo Santo”.
ORELHA DE VELAS NA TAPERA
A VELA ACESA POR SAVARY
Olga Savary*
Da complexidade do ser, da própria solidão e solidariedade humana, da sua simplicidade e estranheza, são realizados os textos de Carlos Correia Santos, seja na poesia, nos contos, no teatro ou no romance. Sua dedicação à cultura e à Arte faz deste autor paraense, deste grande brasileiro, um candidato constante às premiações importantes nas áreas citadas: poesia, ficção, peças teatrais.
Assisti com orgulho a uma premiação obtida por ele no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, em 2006. Carlos Correia Santos destacou-se entre dezenas e dezenas de concorrentes. Seu talento impulsionou-o a sobrepujar os demais candidatos. Uma platéia seleta e atenta assistia a apresentação do trabalho de Correia e tinha o direito de votar no melhor participante.
A literatura e a arte foram os meios de expressão eleitos por Carlos Correia Santos, que bem poderia pertencer à Academia Paraense de Letras. Seria uma honra para a APL tê-lo junto aos Acadêmicos, que só teriam a ganhar.
Além de seus méritos pessoais, no trabalho em seus livros, em tudo o que faz, Carlos Correia Santos é um guerreiro, um lutador pela cultura geral e pela cultura paraense em particular, sem falar na sua esplêndida atitude como pessoa, em sua admirável postura diante da vida e dos outros.
Pela extrema elegância e gentileza, pela classe e nobreza com que se conduz em tudo, Carlos Correia Santos é um príncipe. Orgulho-me de ter o privilégio de ser sua fraterna amiga.
* Poeta, contista, tradutora e organizadora de antologias. Artista nacionalmente aclamada, é uma das introdutoras do hai-kai no Brasil.
CARLOS CORREIA SANTOS (CONTATOS)
Poeta, dramaturgo, romancista
E-MAIL: carloscorreia.santos@gmail.com
MSN: cacopoeta@hotmail.com
TWITTER: @cacopoeta
BLOG 01: http://nadasantostudoalma.blogspot.com
BLOG 02: http://mesmoquenaoqueiraseutecontos.blogspot.com
BLOG 03: http://graosparahistoria.blogspot.com
Com perfis no Orkut e Facebook
Registros e detalhes sobre uma marcante odisséia vivida pela Amazônia vão aportar em solo europeu graças à literatura. Emoldurado por referências sobre um dos mais polêmicos projetos industriais já realizados na História recente, o romance “Velas na Tapera”, do escritor Carlos Correia Santos, será lançado em Lisboa no próximo dia 06 de junho em um recital litero-musical promovido pela FNAC Chiado. O evento promete ser uma fusão cultural que contará com uma mostra de música brasileira e amazônica a cargo dos artistas Fercy Nery (na voz e violão) e Attila Argay (na bateria). A programação incluirá um bate-papo com o autor, além da sessão de autógrafos.
Resultado de seis anos de pesquisa, “Velas na Tapera” tem como pano de fundo a colossal história de Fordlândia, núcleo urbano erguido pela Cia Ford nos anos 20, em plena selva amazônica, para produção de látex destinado à fabricação de pneus que seriam utilizados pela poderosa empresa automobilística. O projeto acabou abandonado depois que a plantação de seringueiras foi atacada por uma praga. É pelo cenário da abandonada cidade americana, em meio ao ermo da mata, que transitam os personagens da narrativa. Em especial, Rita Flor.
Rita perde sua filha de seis anos. Após um misterioso incêndio em sua tapera, ela acredita que sua menina virou uma milagreira e decide construir uma capela em sua homenagem. A jovem não tem dinheiro para cumprir seu intento. O único caminho que lhe resta é prostituir-se. O sagrado e o profano deitam-se na mesma cama. Em meio ao vazio e ao desencanto que transformam Forlândia numa vila fantasmagórica, Rita vende seu corpo para santificar a filha.
PRÊMIO E AVAL
“Velas na Tapera” venceu em 2008 o Prêmio Dalcídio Jurandir, promovido pela Fundação Tancredo Neves (FCPTN), uma das mais importantes entidades culturais da região amazônica. A obra tem prefácio assinado pelo romancista José Louzeiro (autor de clássicos da literatura brasileira, como Pixote e Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia) e orelha assinada por Olga Savary (uma das mais importantes poetas brasileiras, considerada a introdutora do hai-kai nas letras nacionais.
“Sinto que é uma honra em todos os sentidos poder lançar esse trabalho em Portugal. Primeiro porque consigo provar que, mesmo sem a cobertura de mercado de uma grande editora, é possível fazer circular a produção literária. O romance chegou aos leitores graças a um prêmio. Foi editado por uma fundação amazônica e, ainda assim, está trilhando um caminho sólido”, ressalta Correia. E ele complementa: “Essa possibilidade de intercâmbio também é sempre fascinante. Para quem cria narrativas em língua portuguesa é uma experiência emocionante poder levar seus ditos ao país berço do idioma com o qual labuta”.
Em breve, o trabalho de Correia também chegará à África. Em 2009, o romancista e dramaturgo venceu o concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação do Brasil, com a peça infantil “Não Conte com o Número Um no Reino de Numesmópolis”. O trabalho está sendo editado numa coleção com tiragem de 300 mil exemplares que serão distribuídos em escolas brasileiras e africanas.
O AUTOR
Poeta, contista, cronista, dramaturgo, roteirista e romancista, Carlos Correia Santos tem feito da diversidade uma grande marca de sua carreira. É escritor vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir 2008, na categoria romance, com a obra "Velas na Tapera", concurso de vulto nacional criado para celebrar o centenário do romancista Dalcídio Jurandir. É autor do premiado livro de poemas “O Baile dos Versos”, obra que ganhou especial saudação da Academia Brasileira de Letras, em 1999. Também são de sua autoria as obras “Poeticário” (poemas), “No Último Desejo a Carne é Fria” (coletânea de contos), “Nu Nery” (teatro), Ópera Profano (teatro / Prêmio Cidade de Manaus) e “Batista” (teatro).
Como escritor na área de artes cênicas, coleciona importantes láureas nacionais, como o Prêmio Funarte de Dramaturgia por três anos consecutivos (2003, 2004 e 2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro (2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Circulação Nacional (2006) e o Edital Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil.
Incluídos no Catálogo da Dramaturgia Brasileira da renomada autora Maria Helena Kühner (iniciativa detentora do Prêmio Shell), seus textos teatrais já ganharam diversas montagens e já foram apresentados nas cidades brasileiras de Belém, São Luís, Natal, Recife, Camaçari, Piracicaba, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Suas peças já foram traduzidas para o francês e espanhol. Importantes artistas brasileiros, como Stella Miranda (que interpretou a síndica do humorístico "Toma La, Dá Cá", de Miguel Falabella, exibido na TV Globo), já assinaram direção de suas obras.
Em 2009, foi o autor vencedor da categoria dramaturgia do III Concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação. O texto premiado chama-se “Não Conte com o Numero Um No Reino de Numesmópolis”. No cinema, foi agraciado com o Prêmio do Edital Curta Criança do Ministério da Cultura. Assinou a seção Contando Um Conto, no jornal O Liberal (um dos maiores da região Norte) e Portal ORM. É colaborador, com seus contos, do jornal O Estado do Acre e dos sites BV News (Roraima), Amapá Digital (Amapá), Manaus On Line (Manaus), Madeira On Line (Rondônia) e Timor On Line (Timor Leste).
TRECHOS DO PREFÁCIO DE VELAS NA TAPERA
PERSONAGEM EMBLEMÁTICA
José Louzeiro*
“(...) Em boa hora, o nome do injustiçado Dalcídio vira prêmio literário em Belém, Pará, e o vencedor é o talentoso Carlos Correia Santos – “Velas na Tapera” – que prima pela criatividade, e eu até diria, pela singularidade na maneira de expressar-se.
Isso faz com que este “Velas na Tapera” seja uma obra cativante e originalíssima. O autor brinca com as frases sincopadas e a elas dá espírito novo, através de sugestivas e oportunas expressões metafóricas. A par desses recursos, de certa maneira cultivados por Guimarães Rosa, há que se destacar a preocupação do autor com a questão social, coisa essa imanente em todas as obras de Dalcídio.
A personagem trabalhada, dramaticamente por Carlos Correia é Rita Flor que, com suas vestes pretas, transforma-se numa espécie de estandarte vivo do sofrimento e da desesperança; da mulher diante de seus problemas pessoais, mas funcionando como figura emblemática neste livro que é a narrativa, também, do desastre de uma grande aventura industrial – a Fordlândia (Companhia Henry Ford Motores e Cia.) – que se instala em plena selva amazônica, mas pouco depois sobrevém a desilusão: o projeto naufraga no mar de folhas de todos os verdes, os prédios tornam-se taperas, as máquinas são esquecidas no matagal, como a pedir socorro pelo abandono a que foram entregues.
Mas ao autor, experiente teatrólogo, não basta contar a história do naufrágio do ambicioso projeto industrial numa região da mais absoluta carência; ele se esmera na técnica do dizer, do inventar, literariamente, coisa essa que o coloca no plano mais alto que um escritor poderia aspirar. Claro está que neste “Velas na Tapera” há muitos e bem traçados personagens, mas a figura que transcende é a de Rita Flor, forte e decidida como certas personagens da obra de Bertolt Brecht.
O enterro que Rita faz da filha equivale, nas entrelinhas, ao verdadeiro e definitivo funeral (ou pá de cal?...) do projeto norte-americano que se tornou esperança de vida para uma comunidade inteira, na floresta que guarda tanto viço e riquezas a serem descobertas.
Neste “Velas na Tapera”, Rita me faz lembrar, de certa forma, “A Alma Boa de Setsuan” (Brecht), pois ela é, na verdade, uma “parábola teatral,” ao mesmo tempo em que pode ser o espírito da mata, da dor materializada no pólen das flores, da decadência, das malárias e pesadelos, dos que sonharam e acordaram perdedores, tremendo no frio da desesperança.
Com este primeiro romance, se Carlos Correia já era considerado versátil teatrólogo, agora estréia na condição de ficcionista que prima pelas inovações e capacidade narrativa. Depois de sepultar a filha Saninha, Rita “se deitaria para sempre sobre a solidão”, pois ela passa a ser a personificação do que, popularmente, chamamos de “alma penada”, sujeita a chuvas e trovoadas.
O autor traça de tal forma o desenho desta personagem que sua projeção estende-se sobre a narrativa, torna-se absoluta e por que não dizer, chocante, surpreendente, pois é clara a intenção do autor em revolucionar as velhas formas “do dizer e do sentir” no contar de uma história.
“Velas na Tapera” é o que se pode chamar de realismo mágico a envolver a pequena comunidade marcada pela ausência de caminhos. Apenas Rita trilha as picadas da ausência, na louca tentativa de resgatar Saninha, materialização da saudade, do que se foi, não é mais. Menos para Rita. Curioso: essa metáfora, criada com maestria pelo ficcionista, envolve todos os habitantes das taperas, inconscientes da realidade que é uma espécie de rio sem começo e sem fim.
Somente Rita Flor, com as pegadas que deixa pelos caminhos fundos, pulsa como sendo a dor e a oculta paixão de certos homens, que sabem não serem correspondidos, pois o coração de Rita foi sepultado com o corpo de Saninha.
No desvario dela própria e no dos outros é que Rita encontra forças para manter-se viva no seu “mudo prantear”. Mas na visão estreita dos vizinhos ela é apenas a desmemoriada, que tudo perdeu – o marido, a casa incendiada – e, agora, vive das luzes que recebe da filha sepultada, mas que, para ela, mantém-se “vela acesa” ou sonho que não se deixa mesclar pelas cores soturnas do seu desafiador existir.
No mundo especial em que Rita transita, além das folhas verdes da floresta, há velas acesas a iluminar sua passagem. Pena que ela já tivesse “um ver que não via nada”, nem seus ouvidos registravam os “sussurros do mato” e muito menos os “cochichos de reentrâncias”.
As dores transformaram Rita Flor em assombração no inconsciente dos humilhados e ofendidos. Com este livro, Carlos Correia demonstra ser um grande conhecedor do poder das metáforas e de como utilizá-las com sutileza e sabedoria.
* Um dos mais importantes nomes das letras nacionais, José Louzeiro é autor de 40 livros e criador, no Brasil, do gênero intitulado romance-reportagem. Atuou em célebres veículos de comunicação, como “Última Hora”, “Correio da Manhã” e Revista Manchete. No cinema já assinou, como roteirista, dez longas-metragens, dos quais pelo menos três se tornaram populares: “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, “Pixote” e “O Homem da Capa Preta”. Lançou pela Editora Francisco Alves o estudo biográfico intitulado O Anjo da Fidelidade, sobre Gregório Fortunato, o “anjo negro” de Getúlio Vargas. Em 2001, pela Editora do Brasil: "Isto não deu no jornal" (memórias de sua passagem por cinco jornais cariocas). E em 2002, “Ana Nery, a brasileira que venceu a guerra” (Editora Mondrian): biografia da heroína baiana, patrona dos enfermeiros brasileiros. O trabalho foi adaptado para a televisão, tendo Marília Pêra como protagonista. Ainda na TV, foi o autor de novelas como “Corpo Santo”.
ORELHA DE VELAS NA TAPERA
A VELA ACESA POR SAVARY
Olga Savary*
Da complexidade do ser, da própria solidão e solidariedade humana, da sua simplicidade e estranheza, são realizados os textos de Carlos Correia Santos, seja na poesia, nos contos, no teatro ou no romance. Sua dedicação à cultura e à Arte faz deste autor paraense, deste grande brasileiro, um candidato constante às premiações importantes nas áreas citadas: poesia, ficção, peças teatrais.
Assisti com orgulho a uma premiação obtida por ele no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, em 2006. Carlos Correia Santos destacou-se entre dezenas e dezenas de concorrentes. Seu talento impulsionou-o a sobrepujar os demais candidatos. Uma platéia seleta e atenta assistia a apresentação do trabalho de Correia e tinha o direito de votar no melhor participante.
A literatura e a arte foram os meios de expressão eleitos por Carlos Correia Santos, que bem poderia pertencer à Academia Paraense de Letras. Seria uma honra para a APL tê-lo junto aos Acadêmicos, que só teriam a ganhar.
Além de seus méritos pessoais, no trabalho em seus livros, em tudo o que faz, Carlos Correia Santos é um guerreiro, um lutador pela cultura geral e pela cultura paraense em particular, sem falar na sua esplêndida atitude como pessoa, em sua admirável postura diante da vida e dos outros.
Pela extrema elegância e gentileza, pela classe e nobreza com que se conduz em tudo, Carlos Correia Santos é um príncipe. Orgulho-me de ter o privilégio de ser sua fraterna amiga.
* Poeta, contista, tradutora e organizadora de antologias. Artista nacionalmente aclamada, é uma das introdutoras do hai-kai no Brasil.
CARLOS CORREIA SANTOS (CONTATOS)
Poeta, dramaturgo, romancista
E-MAIL: carloscorreia.santos@gmail.com
MSN: cacopoeta@hotmail.com
TWITTER: @cacopoeta
BLOG 01: http://nadasantostudoalma.blogspot.com
BLOG 02: http://mesmoquenaoqueiraseutecontos.blogspot.com
BLOG 03: http://graosparahistoria.blogspot.com
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