Projeto está intimamente atrelado ao compromisso de provar que teatro, História e preservação podem caminhar juntos
Após
uma jornada de aproximadamente nove meses de preparações, reestruturações,
apostas e ações de resgate memorialístico, teve sua estreia no Sesc Boulevard, na
quinta, dia 10, às 20h30, com entrada franca, o espetáculo teatral “Batista”,
de Carlos Correia Santos. Em cena, um dos grandes personagens da História
Amazônica: o famoso Cônego Batista Campos. A peça celebra os 230 anos do
sacerdote. O ator Hudson Andrade dá vida ao religioso e jornalista apontado com
um dos grandes mentores da Cabanagem. Andrade também dirige o espetáculo, que
tem consultoria de direção de Adriana Cruz e participação especial da cantora e
atriz Cacau Novais.
“Batista”
tem concepção de luz assinada por Sonia Lopes. Trilha sonora original criada
por Júnior Cabrali. Fotos de divulgação de Brends Nunes e Frederico Mendonça. A
execução de figurinos de Mariléia Aguiar e a preparação corporal de Cláudio
Temporal. Os apoios culturais são de Sesc Boulevard, Unipop, Pará Mais e
Gráfica Dmazon. Além desta quinta, as apresentações acontecerão nos dias 11,
17, 18, 24 e 25 de maio, sempre no mesmo horário e sempre com entrada franca.
Realização
da Companhia Teatral Nós Outros, a montagem chega à ribalta atrelada a uma
campanha que vem despertando grande atenção da mídia e dos internautas. Os
artistas ligados ao trabalho criaram o projeto “Ruínas da Memória” para exigir
do poder público iniciativas de revitalização, manutenção e maior divulgação
das Ruínas do Murutucu, sítio arqueológico intimamente ligado ao movimento
cabano. Os espectadores que forem às sessões serão convidados a assinar uma
petição pública que dará suporte a esse pleito.
DENÚNCIA
A
proposta de unir a peça à campanha surgiu depois que a trupe decidiu fazer as
fotos de divulgação no Murutucu. Os artistas encontram o lugar tomado por mato
alto, lama e dejetos. “Para nós do projeto, estamos hoje lidando com um
empreendimento que já não é somente um espetáculo teatral. É um ato cívico. A
peça é um disparador para discutirmos algo bem mais amplo: nosso patrimônio memorialístico,
nossos bens históricos, nossa herança. A partir de traços da história do Batista,
falamos sobre o movimento cabano, instigamos o público a pensar em nossa atual
inércia no que tange às contestações sociais e provocamos também a reflexão
sobre o que estamos fazendo com nosso passado tão exemplar”, afirma Carlos. O
autor revela ainda que o grupo decidiu criar a Associação dos Amigos das Ruínas
do Murutucu.
Para
todos os membros da equipe, “Batista” é uma grande aposta em diversos sentidos.
Além da mobilização paralela proposta, o fazer artístico encontra vias
especiais, como explica Hudson: “O texto é denso, difícil. Montá-lo tem sido um
exercício de me desafiar a representar um personagem tão grande, de me confiar
ao olhar múltiplo da equipe para dar suporte à minha direção”. Entregue ao
delicado compromisso de transitar entre a carreira musical e a cênica, Cacau
Novais também comemora o momento que vem experimentando: “Além de subir ao palco
para um trabalho diferente, o de teatro, é muito bom poder tratar de episódios
históricos e resgatar a pessoa além do mito, mostrar um pouco do ser humano, da
alma de Batista. Isso tudo nos faz lidar com o sentimento, com a dor, com a
tristeza, mas também com a força e a coragem”. A iluminadora Sônia Lopes
concorda: “Não conhecia
a história de Batista Campos. Ao longo do processo de montagem, eu me deparei
com informações sobre um homem guerreiro, forte e humano. Acabei me envolvendo
com sua biografia”.
CELEBRAÇÃO E
COMPROMISSO
O
mergulho na composição autoral da trilha do espetáculo exigiu de Junior Cabrali
pesquisa intensa e o uso de referências especiais. Uma delas é o som dos sinos.
Segundo relatos bibliográficos, no dia em que a morte do cônego foi anunciada,
os campanários de Belém soaram unanime e intensamente. “Mesmo
precisando de madrugadas e madrugadas para editar áudios, compor trechos,
gravar e criar coisas, sinto uma felicidade e segurança quase inexplicáveis com
esse trabalho”, conta o músico. Responsável
pelas fotos que expuseram o estado de abandono do Murutucu e subsidiaram a
campanha de conscientização, Brends Nunes enfatiza: “Esse projeto se
transformou numa grande celebração, um grande movimento de luta, dentro e fora
da sala de ensaio”.
“Desde a sua gênese, essa montagem de Batista está
de mãos dadas ao compromisso de chamar atenção para a relação entre teatro,
História e Patrimônio. Ficamos felizes quando o Sesc Boulevard acolheu a
estreia porque fisicamente o espaço está ao lado da Igreja das Mercês, que
também foi um palco importante para a Cabanagem. O alerta com relação ao
Murutucu aliou-se a nossa proposta. Vamos nos manter atentos a essa questão. De
forma irredutível”, pontua Carlos Correia Santos.
Serviço: Agradecimento especial a Cláudio Temporal pela preparação corporal.
Informações: 8167-3835 / 8822-4453 / 8199-1322
VIDEO RELEASE:
TEXTO COMPLEMENTAR
Sobre as Ruínas do Murutucu
Um dos mais importantes engenhos da região, o Murutucu foi destruído durante os episódios
da Cabanagem. De propriedade da família Rodrigues Martins, o engenho
ficou conhecido pela crueldade com que eram tratados os escravos. A capela foi
projetada por Antonio Landi, que nela imprimiu seu estilo. Ali foi realizado o
casamento da filha do arquiteto, nora do dono da propriedade. Embora tenha sido
construída ainda em 1711, pela congregação Carmelita, Landi modificou as
feições na segunda metade do século dezoito.
É interessante saber que naquele espaço em que hoje sobrevivem as ruínas, já estiveram funcionando uma casa de engenho, uma roda d'água, o barracão para negros, uma casa de moradia e todos os apetrechos para a produção de melado e da rapadura.
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