domingo, 13 de maio de 2012

ESPETÁCULO SOBRE BATISTA CAMPOS ESTREIA EM BELÉM


Projeto está intimamente atrelado ao compromisso de provar que teatro, História e preservação podem caminhar juntos

Após uma jornada de aproximadamente nove meses de preparações, reestruturações, apostas e ações de resgate memorialístico, teve sua estreia no Sesc Boulevard, na quinta, dia 10, às 20h30, com entrada franca, o espetáculo teatral “Batista”, de Carlos Correia Santos. Em cena, um dos grandes personagens da História Amazônica: o famoso Cônego Batista Campos. A peça celebra os 230 anos do sacerdote. O ator Hudson Andrade dá vida ao religioso e jornalista apontado com um dos grandes mentores da Cabanagem. Andrade também dirige o espetáculo, que tem consultoria de direção de Adriana Cruz e participação especial da cantora e atriz Cacau Novais.

“Batista” tem concepção de luz assinada por Sonia Lopes. Trilha sonora original criada por Júnior Cabrali. Fotos de divulgação de Brends Nunes e Frederico Mendonça. A execução de figurinos de Mariléia Aguiar e a preparação corporal de Cláudio Temporal. Os apoios culturais são de Sesc Boulevard, Unipop, Pará Mais e Gráfica Dmazon. Além desta quinta, as apresentações acontecerão nos dias 11, 17, 18, 24 e 25 de maio, sempre no mesmo horário e sempre com entrada franca.

Realização da Companhia Teatral Nós Outros, a montagem chega à ribalta atrelada a uma campanha que vem despertando grande atenção da mídia e dos internautas. Os artistas ligados ao trabalho criaram o projeto “Ruínas da Memória” para exigir do poder público iniciativas de revitalização, manutenção e maior divulgação das Ruínas do Murutucu, sítio arqueológico intimamente ligado ao movimento cabano. Os espectadores que forem às sessões serão convidados a assinar uma petição pública que dará suporte a esse pleito.

DENÚNCIA

A proposta de unir a peça à campanha surgiu depois que a trupe decidiu fazer as fotos de divulgação no Murutucu. Os artistas encontram o lugar tomado por mato alto, lama e dejetos. “Para nós do projeto, estamos hoje lidando com um empreendimento que já não é somente um espetáculo teatral. É um ato cívico. A peça é um disparador para discutirmos algo bem mais amplo: nosso patrimônio memorialístico, nossos bens históricos, nossa herança. A partir de traços da história do Batista, falamos sobre o movimento cabano, instigamos o público a pensar em nossa atual inércia no que tange às contestações sociais e provocamos também a reflexão sobre o que estamos fazendo com nosso passado tão exemplar”, afirma Carlos. O autor revela ainda que o grupo decidiu criar a Associação dos Amigos das Ruínas do Murutucu.

Para todos os membros da equipe, “Batista” é uma grande aposta em diversos sentidos. Além da mobilização paralela proposta, o fazer artístico encontra vias especiais, como explica Hudson: “O texto é denso, difícil. Montá-lo tem sido um exercício de me desafiar a representar um personagem tão grande, de me confiar ao olhar múltiplo da equipe para dar suporte à minha direção”. Entregue ao delicado compromisso de transitar entre a carreira musical e a cênica, Cacau Novais também comemora o momento que vem experimentando: “Além de subir ao palco para um trabalho diferente, o de teatro, é muito bom poder tratar de episódios históricos e resgatar a pessoa além do mito, mostrar um pouco do ser humano, da alma de Batista. Isso tudo nos faz lidar com o sentimento, com a dor, com a tristeza, mas também com a força e a coragem”. A iluminadora Sônia Lopes concorda: “Não conhecia a história de Batista Campos. Ao longo do processo de montagem, eu me deparei com informações sobre um homem guerreiro, forte e humano. Acabei me envolvendo com sua biografia”.

CELEBRAÇÃO E COMPROMISSO

O mergulho na composição autoral da trilha do espetáculo exigiu de Junior Cabrali pesquisa intensa e o uso de referências especiais. Uma delas é o som dos sinos. Segundo relatos bibliográficos, no dia em que a morte do cônego foi anunciada, os campanários de Belém soaram unanime e intensamente. “Mesmo precisando de madrugadas e madrugadas para editar áudios, compor trechos, gravar e criar coisas, sinto uma felicidade e segurança quase inexplicáveis com esse trabalho”, conta o músico. Responsável pelas fotos que expuseram o estado de abandono do Murutucu e subsidiaram a campanha de conscientização, Brends Nunes enfatiza: “Esse projeto se transformou numa grande celebração, um grande movimento de luta, dentro e fora da sala de ensaio”.

“Desde a sua gênese, essa montagem de Batista está de mãos dadas ao compromisso de chamar atenção para a relação entre teatro, História e Patrimônio. Ficamos felizes quando o Sesc Boulevard acolheu a estreia porque fisicamente o espaço está ao lado da Igreja das Mercês, que também foi um palco importante para a Cabanagem. O alerta com relação ao Murutucu aliou-se a nossa proposta. Vamos nos manter atentos a essa questão. De forma irredutível”, pontua Carlos Correia Santos.

Serviço: “Batista” é uma obra de Carlos Correia Santos. Texto vencedor do Prêmio IAP de Edições Culturais. Publicado pela Giostri Editora (SP). Essa montagem é uma realização da Companhia Teatral Nós Outros em homenagem aos 230 anos de Batista Campos. Espetáculo protagonizado e dirigido por Hudson Andrade. Participação especial: Cacau Novais. Consultoria de direção: Adriana Cruz. Concepção de luz: Sonia Lopes. Trilha sonora original: Júnior Cabrali. Demais fotos promocionais: Frederico Mendonça e Iara Correia Santos. Primeira temporada: dias 10, 11, 17, 18, 24 e 25 de maio, sempre às 20h30, no Sesc Boulevard. Entrada franca. Apoio cultural: Sesc Boulevard, Unipop, Revista Pará Mais e Gráfica Dmazon. Agradecimento especial a Cláudio Temporal pela preparação corporal. Informações: 8167-3835 / 8822-4453 / 8199-1322

VIDEO RELEASE:


TEXTO COMPLEMENTAR

Sobre as Ruínas do Murutucu

Um dos mais importantes engenhos da região, o Murutucu foi destruído durante os episódios da Cabanagem. De propriedade da família Rodrigues Martins, o engenho ficou conhecido pela crueldade com que eram tratados os escravos. A capela foi projetada por Antonio Landi, que nela imprimiu seu estilo. Ali foi realizado o casamento da filha do arquiteto, nora do dono da propriedade. Embora tenha sido construída ainda em 1711, pela congregação Carmelita, Landi modificou as feições na segunda metade do século dezoito.



É interessante saber que naquele espaço em que hoje sobrevivem as ruínas, já estiveram funcionando uma casa de engenho, uma roda d'água, o barracão para negros, uma casa de moradia e todos os apetrechos para a produção de melado e da rapadura.

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