quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

SOU RIO DE LETRAS FAZ A LITERATURA NAVEGAR PELOS RIOS DA AMAZÔNIA


Projeto leva leituras para ribeirinhos que vivem nas ilhas nos arredores de Belém

Coordenada pelo estudante de jornalismo Gerlando Santana e pelo escritor Carlos Correia Santos, iniciativa democratiza acesso ao livro.








Os livros se transformando em barcos capazes de fazer navegar pelos sonhos e pelas descobertas leitores que não moram nos núcleos urbanos da Amazônia. Esse é o mote principal do PROJETO | SOU RIO DE LETRAS. Idealizada pelo estudante de jornalismo Gerlando Santana, a iniciativa conta com a participação do poeta, contista, romancista e dramaturgo Carlos Correia Santos. A ideia é simples, mas os efeitos potencialmente multiplicadores. “A proposta é levar o escritor para as localidades ribeirinhas com o intuito de fazê-lo ler seus livros, ao vivo e em cores, em eventos abertos ao grande público. Além das obras do escritor-leitor, arrecadamos também livros doados por outros autores que serão entregues nas comunidades com o intuito de criar ou fomentar bibliotecas locais”, explica Gerlando.

Escolhido para ser o escritor-leitor do projeto, Carlos Correia se diz honrado e positivamente provocado pelo desafio: “A ideia do Gerlando é simplesmente linda e eu me sinto muito feliz por ter sido escolhido por ele para seguir nessa jornada poética por nossos rios, furos, igarapés, levando leitura. Fico ainda mais feliz porque não vou sozinho. Estamos levando conosco a obra de outros colegas. A imagem que se desenha já é pura poesia. Imaginem só: nós, os livros, o público escutando as leituras e a paisagem amazônica a nossa volta. Fantástico”. O empreendimento conta com o apoio da Giostri Editora, que doará exemplares para serem lidos e doados às comunidades, Gran Cargo, que transportará os livros e de Parla Página – Produção de Conteúdos, que faz a assessoria de comunicação. 

ESTREIA

O primeiro pouso do SOU RIO DE LETRAS aconteceu no dia 19 de janeiro de 2013, na Ilha de São Mateus na divisa dos municípios de Mocajuba e Cametá na região do baixo Tocantins. A emoção provocada pela expedição marcou profundamente Carlos Correia Santos. O escritor relata: "Vivi aquela que certamente foi uma das mais colossais experiências sensoriais que já passei na vida. Saímos de Belém por volta das 13h. Foram mais ou menos cinco horas de carro até Mocajuba (passando por pontes, balsas, tudo). Chegamos a Mocajuba quando o dia já se despedia. Estávamos sendo esperados por um pequeno barco a motor, mas pequeno mesmo. A nossa frente, a imensidão do rio Tocantins. Um verdadeiro mar de ondulações doces. No que íamos entrando no barco, a luz em Mocajuba foi embora. Então, ali estávamos, seis pessoas no pleno escuro da Amazônia, num barquinho e o compromisso de atravessar a correnteza imensa até chegar ao braço de rio, entre a floresta, onde ficava a casa da tia Antônia, na qual faríamos pouso para realizar nosso empreendimento na manhã seguinte. Atravessar o mundo indomável de águas do Tocantins, num pequeno barco no meio do infinito da noite... uau... isso foi de fazer o fôlego voar. Colossal. Lindo. Comovedor. O mistério do negror das árvores nas margens, afastando-se mais e mais. O mundo virando água, água e só água. Acima de nós um céu furioso, nublado, o vento frio nos abraçando. Vivemos, meus caros conterrâneos amazônidas, num dos mais poderosos lugares do mundo. A vastidão da paisagem nos enverga, nos humilha de modo mágico, a nos fazer entender o quão mínimos somos. Um sopro a mais e todos nós éramos engolidos pela vastidão daquele rio. Que experiência bela. Sou muito, muito mais paraense depois disso. Obrigado, Gerlando".

A proposta é mesmo ousada. Segundo Santana, a meta é realizar as programações nas localidades mais afastadas dos núcleos urbanos. “Achamos isso importante porque são justamente esses lugares que mais precisam ver chegar ações assim. Regiões próximas das cidades, acabam, de algum modo, mantendo contato com ações culturais. Queremos chegar naqueles pontos, muitas vezes, até o acesso é difícil. É lá que o livro precisa estar também. Porque a boa leitura não tem fronteiras”. Os escritores que quiserem doar livros para serem entregues nas comunidades que receberão a iniciativa podem entrar em contato com a assessoria da ação através do email parlapagina@gmail.com


PROTAGONISTAS

Além das rodadas de leituras públicas, o projeto vai além. O SOU RIO DE LETRAS também conta com a participação ativa dos ribeirinhos. Os moradores são convidados a também se tornarem narradores públicos, contando durante a programação causos e lendas da região. A meta é celebrar e solidificar a tradição oral que marca e diferencia o imaginário amazônico.

Gerlando e Carlos fazem questão de frisar que toda a ação é realizada sem qualquer patrocínio oficial. “Decidi arregaçar as mangas e partir para o fazer. Convidei o Carlos, ele topou, estou produzindo as viagens e assim nós vamos”, frisa Santana. Correia completa: “Tenho deixado de esperar pelo poder público já há bastante tempo. Nunca fui o tipo de artista que só sai de casa para atuar com plena cobertura de patrocínios. Não. Enquanto a gente espera por editais, os dramas sociais se acirram. Se algum empresário quiser se somar ao projeto será evidentemente bem vindo. Mas não vamos esperar por nada. Não dá para esperar. Temos que ir encontrar os leitores agora, nesse momento”.

SOBRE O ESCRITOR-LEITOR

Um dos mais atuantes nomes da atual literatura amazônica, Carlos Correia Santos venceu o Prêmio Funarte de Dramaturgia por três anos consecutivos (2003, 2004 e 2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro (2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Circulação Nacional (2006) e duas vezes o Edital Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil (2007 e 2011). Incluídos no Catálogo da Dramaturgia Brasileira, de Maria Helena Kühner (iniciativa detentora do Prêmio Shell), seus textos já foram apresentados em Belém, São Luís, Natal, Recife, Camaçari, Piracicaba, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Teve espetáculos selecionados no Edital Caixa Cultural nos anos de 2008 e 2009. Em 2009, venceu a categoria dramaturgia, com o texto “Não Conte com o Numero Um No Reino de Numesmópolis”, do III Concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação.

Suas peças já foram traduzidas para o francês e espanhol. Importantes artistas brasileiros, como Stella Miranda (que interpretou a síndica do humorístico "Toma La, Dá Cá", de Miguel Falabella, exibido na TV Globo), já assinaram direção de suas obras. Carlos Correia Santos é também autor de “Velas na Tapera” (romance vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir), “Senhora de Todos os Passos” (romance vencedor do Prêmio IAP de Edições Culturais 2011), “Nu Nery” (dramaturgia vencedora do Prêmio IAP de Literatura), “Ópera Profano” (dramaturgia vencedora do Prêmio Literário Cidade de Manaus), “Batista” (dramaturgia vencedora do Prêmio IAP de Edições Culturais) e do livro de poemas “Poeticário”. Foi Secretário do Sistema de Bibliotecas do Estado do Pará, coordenador do programa de ações preparatórias para a Feira Pan-Amazônica do Livro e, ainda, o criador, coordenador e apresentador das programações de fomento à leitura “Café com Verso e Prosa”, “Café com Leituras” e “Estrada de Letras Sarau Viajante”.

SERVIÇO: Interessados em fazer doações de livros podem entrar em contato através do email: parlapagina@gmail.com

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