domingo, 22 de novembro de 2009

CARLOS CORREIA GANHA PRÊMIO BINACIONAL DO MEC


Obra de Carlos Correia Santos será distribuída em todo o país . Dramaturgo participou de disputa também aberta a obras dos países africanos de língua oficial portuguesa

O escritor paraense Carlos Correia Santos foi o grande vencedor da categoria dramaturgia do concurso binacional “Literatura Para Todos”, promovido pelo Governo Federal, através do Ministério da Educação. Aberto a autores de todo o Brasil e dos países africanos que adotam a língua portuguesa, o edital tinha como proposta destacar obras inéditas destinadas aos chamados neoleitores (crianças, jovens e adultos recém alfabetizados). Também foram premiadas obras nas categorias prosa, poesia, tradição oral e perfil biográfico. O texto com que Carlos Correia venceu a disputa (uma peça para o público infanto-juvenil) se chama “Não Conte com Um Número Um no Reino de Numesmópolis”. Além de receber o valor de R$ 10.000, o nortista terá seu trabalho transformado em livro que será distribuído a centros educacionais de todo o país.

A entrega do prêmio deverá acontecer na capital paraense, no início do mês de dezembro, durante a VI Conferência Internacional de Adultos (CONFINTEA), importante iniciativa de mobilização educacional com repercussão mundial. Há vários anos o evento não era realizado no Brasil. Este ano, a capital paraense será o palco para a ação. O fato do concurso ter entre seus premiados um autor paraense foi uma feliz coincidência.

O CERTAME

A realização do Concurso Literatura para Todos é uma das estratégias da Política de Leitura do Ministério da Educação, que procura democratizar o acesso à leitura, constituir um acervo bibliográfico literário específico para jovens, adultos e idosos recém alfabetizados e criar uma comunidade de leitores. Esse novo público é chamado de neoleitores.

O MEC publica e distribui as obras vencedoras às entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado, às escolas públicas que oferecem a modalidade EJA, às universidades da Rede de Formação de Alfabetização de Jovens e Adultos, aos núcleos de EJA das instituições de ensino superior e às unidades prisionais.

Em 2009, em sua terceira edição, os candidatos concorreram nas categorias prosa (conto, novela ou crônica), poesia, texto de tradição oral (em prosa ou em verso), perfil biográfico e dramaturgia. Foram selecionadas duas obras das categorias: prosa, poesia e textos da tradição oral e apenas uma obra nas categorias perfil biográfico e dramaturgia. A disputa também esteve aberta para obras, de qualquer uma das modalidades do concurso, produzidas por autores naturais dos países africanos de língua oficial portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Os vencedores receberão prêmios no valor de R$ 10 mil.

Em 2008, 729 foram inscritas. Desse total, 129 obras foram desclassificadas por não atenderem às exigências do edital. Concorreram ao prêmio 608 obras inscritas , sendo 301 textos em prosa (contos, novelas, crônicas), 14 biografias, 30 textos de tradição oral, 246 poesias e 17 obras de países africanos.

O ENREDO

Uma fábula na qual os números viram personagens em um mundo impensável. Esse é o grande mote da obra com a qual Carlos Correia Santos venceu o III Concurso Literatura para Todos. Cansado de precisar tomar sempre a primeira iniciativa sobre todas as coisas, o Número Um, o grande soberano do reino dos algarismos (Numesmópolis), decide abandonar tudo. Quer ir embora, viver sozinho. Afinal, ele se basta. Os demais números, no entanto, ficam em polvorosa. O que será do mundo, o que será da vida sem o Número Um? Tudo nasce com ele, tudo parte dele. É impossível não contar com ele! O Zero, o Dois, o Três e o Quatro resolvem usar as operações numéricas para mostrar que subtrair certas emoções, somar forças, dividir belezas e multiplicar conquistas é algo fundamental para todo e qualquer... um.

PERFIL DO NEOLEITOR NO BRASIL

De acordo com a Mestre em Literatura Brasileira pela UFPR, Elisiani Vitória Tiepolo, o neoleitor é o jovem, adulto ou idoso que está iniciando sua caminhada de leitor. Para compreendê-lo melhor, é importante conhecer os dados brasileiros sobre a leitura e alfabetização entre os maiores de 15 anos. Segundo o INAF/2007 (Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional) a situação do alfabetismo entre pessoas entre 15 e 64 anos de idade, que estejam ou não estudando, residentes em todas as regiões do país em zonas urbanas e rurais, abrange quatro estágios: o analfabetismo, o alfabetismo nível rudimentar, o alfabetismo nível básico e o alfabetismo nível pleno.

Analfabetismo corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda que uma parcela destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços etc.). Nesse nível estão 7% da população pesquisada.

Alfabetismo nível rudimentar corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (com o um anúncio ou pequena carta), ler e escrever números usuais e realizar operações simples, com o manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita métrica. 25% da população pesquisada estão nesse nível.

Pessoas classificadas no segmento alfabetismo nível básico podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas, pois já lêem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências, lêem números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma seqüência simples de operações e têm noção de proporcionalidade. Mostram, no entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem maior número de elementos, etapas ou relações. Corresponde a 40% da população pesquisada.

No segmento alfabetismo nível pleno estão 29% das pessoas. Suas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar elementos usuais da sociedade letrada: lêem textos mais longos, relacionando suas partes, comparam e interpretam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto à matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de dupla entrada mapas e gráficos.

Além da pouca experiência em ler textos escritos, geralmente os neoleitores vêm dos estratos populares, e, mesmo morando no mundo urbano, trazem consigo uma história bastante vinculada ao mundo rural. Além disso, sobrevivem em subempregos em que os baixos salários e a subserviência prevalecem. Cada vez mais, os idosos têm buscado alfabetizar-se. As mulheres são, em maior número, muitas vezes motivadas pela necessidade de ajudar os filhos nas tarefas escolares. O processo de alfabetização pelo qual passam (ou passaram, pois a maioria freqüentou em algum momento da vida um tempo de escola) ainda se baseia, muitas vezes, em atividades de memorização, o que os leva à idéia de que ler é uma atividade mecânica.

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