quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O TOM CARINHOSO DE JOANA VIEIRA











Abaixo, artigo publicado por Joana Vieira, professora de um dos maiores centros educacionais do Pará, sobre ÓPERA PROFANO.

TEATRO DE QUALIDADE AQUI EMBAIXO DAS ÁRVORES DE MANGAS...

Fui ao teatro na maior expectativa do mundo depois de ter lido e ouvido tantas “críticas” e comentários sobre a peça teatral “ÓPERA PROFANO”. Gosto de teatro e desde sempre sou apaixonada pela cultura de palco paraense, pena que tão poucas peças sejam divulgadas e tantos lugares fiquem vazios, deixando o trabalho dos artistas locais perderem um pouco do seu brio. Já conheço todos os palcos e cortinas da capital, assisti a uma dezena de peças e nunca sai de uma tão chocada e pensativa. Quem é esse menino que escreveu este texto tão ousado e desafiador? De onde surgiram aqueles atores todos tão certos e perfeitos em seus papéis? Que grupo era aquele que entoava ao vivo e tão belo em sua sintonia com a voz cortante e doce dos atores cantores da peça? Que teatro é esse no seio da capital paraense que, de tão profissional, faz a gente ir às lágrimas num êxtase tão humano e irreal?

ÓPERA PROFANO mexeu comigo. Me fez tremer por dentro. Uma catarse geral. Um clímax extremo... uma ânsia de vômito danada! ÓPERA PROFANO foi a peça mais sinestésica que já assisti – é uma encenação com gosto – de ira – com cheiro – de dor - e provocou em mim uma sensação terrível de que eu havia perdido tempo – por que não estive aqui antes? Como eu consegui perder a primeira temporada? A peça – sinceramente – IMPERDÍVEL! SURPREENDENTE e ABSURDAMENTE ENGRAÇADA!!! Dá orgulho em saber que aquele trabalho é papa chibé. Causa uma felicidade extrema saber que os participantes são nossos e que vivem aqui entre nós por entre galhos de mangueiras. Estou sem palavras e quando algo cala uma professora de língua portuguesa é porque realmente valeu a pena.

Sem contar que fui muito bem recebida por lá. Cheguei ao Schivasappa às sete para tentar fazer as entrevistas e os atores e diretores já estavam todos com a mão na massa. A peça tem um cenário simples, mas uma maquiagem impecável. Tive acesso ao processo todo e conversei com todo mundo lá no camarim.

ÓPERA PROFANO conseguiu selecionar um conjunto de nomes jovens e bons da dramaturgia paraense como Tiago de Pinho, Fábio Tavares, Dário Jaime e Cacau Novais e outros mais conhecidos e experientes como Marlene Silva, Leonardo Bahia e o meu querido amigo Léo Meneses, que, além de ator, é cantor competentíssimo da noite belenense.

A direção geral tem a assinatura do Guál Dídimo, um menino muito jovem e com um currículo abarrotado de boas críticas e excelentes trabalhos e a assinatura da criação do texto – que por sinal é impressionante, metafórico e ambíguo – é de autoria do Carlos Correia Santos, um jovem dramaturgo que coleciona elogios até da mídia nacional e que atualmente está com duas peças em cartaz – esta e outra encenada no CCBBEU – É mole?!

O texto, cantado em forma de ópera popular, é de uma sutileza e criatividade absurda. A começar pela ambigüidade do termo ÓPERA PROFANO, que gera um duplo sentido de pura intencionalidade – não se sabe se é ópera porque é cantado, porque é trágico, porque é cômico ou porque, de forma criativa e paradoxal – o termo faz uma referência direta ao Cine Ópera – uma alusão à pura cultura paraense e à história patrimonial e predial do nosso Estado. É preciso ser paraense pra se encantar, mas é necessário também ter pulso pra engolir que o texto é fictício, porém adentra as nossas entranhas particulares – quer pelo sentimento de repulsa aos que são contrários ao culto da Virgem de Nazaré, quer seja por esse nó engasgado na garganta daqueles que sofrem a lástima da homofobia. O profano, metaforizado pelo cinema que se tornou famoso pelas sessões de filmes pornográficos, foi contrastado pelo religioso metaforizado na imagem da Virgem, que foi roubada em pleno momento do Círio, e outras vezes pela citação da Basílica retomada várias vezes na voz de guilhotina afiada dos atores-cantores. UM ESPETÁCULO aos nossos olhos, um recado certeiro aos que têm ou não fé na Santa e na vida – na salvação do corpo na excelência da carne. ÓPERA PROFANO é revoltante e ao mesmo tempo estimulante – um jogo de imagens entre a vida real e a inventada nos palcos que faz a gente, no mínimo, sair do teatro com aquela sensação de que o texto por si só já disse absolutamente tudo.
Aí, meu DEUS!!!

Uma observação que preciso fazer, porque realmente também mexeu muito comigo foi a participação do cantor, ator, funcionário público e amigo Léo Meneses. Gente, pelo amor de Deus, o que foi aquilo? O Léozito arrasou na sua atuação na pele do travesti Baby – aidético em fase terminal e que é o centro das peripécias da trama. O Léo se entregou ao papel com um afinco de orgulhar qualquer pessoa que o conhece...

FICOU LINDO! Espetacular, irreconhecível... Aquilo não era uma personagem era um grito de realidade, um exemplo de que a vida se confunde com a arte e que a vida é a própria arte!!! Já acompanho o Léo desde muito tempo e fiquei super feliz em vê-lo ali tão doado, tão gigante tão abrilhantado... TE AMO, meu anjo, e não é puxasaquismo, não, é só uma consideração de uma das pessoas que estava na plateia e viu que você fez a diferença!

MUITO LINDO!!!Parabéns, gente! Só agora entendo porque quando pus o nome da obra no Google vieram tantos comentários...

SEM MAIS... O resto? Só indo ao teatro hoje que é o dia da última sessão dessa segunda temporada em cartaz.

Valeu, gente. Obrigada, Guál. Parabéns, Carlos! E um forte abraço aos demais...

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