terça-feira, 29 de novembro de 2011

O DOCE SABOR DE UMA SALADA COM FILÉ DE FRANGO

A situação é adoravelmente curiosa. Lá estou eu, sentado a uma mesa da praça de alimentação do supermercado (concentrado na filosófica tarefa de comer salada com filé de frango) e a voz, tímida, indaga: “você me desculpa se eu perturbar um pouquinho?”. Ergo a cabeça e me deparo com aquele senhor desconhecido, cesta de compras em punho, ar notoriamente constrangido. Respondo, sorrindo: “Fique à vontade”. Ele prontamente se senta junto a mim e vai sapecando: “Olha, desculpa mesmo. Você é escritor, não é? Já te vi na televisão várias vezes. Quando percebi que era você que estava aqui, fiquei nervoso, mas disse para mim mesmo: não vou perder a oportunidade de falar com ele. Tem certeza que eu não incomodo?”. A salada e o frango para mim deixaram de existir totalmente. Tão tenso quanto meu interlocutor, afirmo com total alegria: “Você não me incomoda de forma alguma. Muito pelo contrário. É uma satisfação”. E o senhor me fala que sonha em se tornar escritor, que toda vez que vê ou lê alguma matéria comigo sente que podia ser ele também. Que ficaria enormemente feliz se eu pudesse ler os escritos dele e emitir uma opinião. Repasso meu email, afirmo que será um prazer ler o que ele escreve. Ele se ergue, animado, exultante. Diz que só de receber esse meu retorno já se sente bem mais confiante. E parte, garantindo que me mandará em breve seus parágrafos. E eu? Encabulado, feliz, eu fico ali, alma refeita. Pensando em como sempre valem a pena todas as lutas que travamos para sermos o que o nosso âmago nos manda ser. Penso em mim, lá atrás, vendo meus ídolos da arte de longe. Sonhando em conhecê-los. Hoje, quase todos são meus amigos. Salomão Larêdo, Alfredo Garcia, Nilson Chaves. A salada e o frango tornam-se, então, iguarias com sabor sem par.

domingo, 27 de novembro de 2011

OBRA DE CARLOS CORREIA CHEGA AO POVO DO TIMOR LESTE



Registro emocionante e marcante em minha carreira. Meu representante na Europa, Fercy Nery entrega meu romance “Velas na Tapera” e meu poema “O Mais Leste dos Timores” a embaixadora de Timor Leste, Dra. Natália Carrascalão. O evento aconteceu em Lisboa. Foi a culminância da campanha realizada pela ONG portuguesa EpDAH para arrecadar livros que serão doados ao povo timorense. Minha obra será uma das que chegarão aos nossos irmãos de tão longínquas paragens. Também participaram do encontro os engenheiros membros da EpDAH Rita Pestana, Pedro Carvas, Ana Fonseca, Ruth Vieira, Adorinda Lourenço, Nuno Pedro (representante parceiro da Associação Solidariedade Imigrante-Solim). Conforme conta Fercy Nery, a embaixadora já conhecia meu poema, o que faz a honra ser ainda maior. Os meus versos foram lidos pela engenheira Adorinda Lourenço , antecedendo a entrega da relação simbólica dos livros reunidos pela EpDAH. Foram 2.390 exemplares arrecadados para o povo timorense. Nery relata: “A embaixadora recebeu das minhas mãos o Velas na Tapera, exemplar que fará parte do acervo da embaixada. Seu poema mexeu com todos. Pude sentir uma emoção especial na embaixadora e no Adido da Educação da Embaixada, também escritor, o senhor João Aparício. Todos aplaudiram a leitura no final”.

POESIA-MIM



E assim me fita,
como quem desfia a fita
que uniu o belo à bonita,
que uniu o crer ao acredita,
que criou a união do não a todo sim.

E assim me espreita
com a desfeita mais que enfeita,
com a indimensão que mais estreita,
com a equivocada mais direita,
com o direito de ser não ser sem fim.

E assim e assim
assina-se viúva de minhas mortes,
um existido que me assassina os cortes
e me deixa vid’escrito em nanquim.

E assim, assim
gesta-me anjo na madrugada,
ala-me com pétala delicada
e me torna rosa-querubim.

E assim, por fim, me versa
com uma conversa de quem não vai nem ia,
fita-me com o afã de um tal sorria,
deita-me na boca um não choraria
e se confessa poesia-mim.


Carlos Correia Santos

in POETICÁRIO (RKE, 2005)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

TRINOS TITÃS



Aqui, a capa de TRINOS TITÃS, livro que reúne meus textos teatrais em torno das figuras de Ismael Nery, Adalgisa Nery e Murilo Mendes. A edição é um compêndio com as dramaturgias Nu Nery, Alma Imaginária, Uno Diverso e Ismael em Três Traços. O prefácio é assinado pela musa Dira Paes. Uma publicação da Giostri Editores, de São Paulo. Série Dramaturgia Brasileira.

terça-feira, 22 de novembro de 2011



Em dezembro, estreia a primeira peça de Carlos Correia Santos e Hudson Andrade. Montagem da Unipop.

domingo, 13 de novembro de 2011

VERSOS PARA A GAROA FRIA DE SÃO PAULO


EUSEMMIM.COM.BR
(Carlos Correia Santos, in Poeticário)

Em qualquer canal de TV, madrugada.
Até o último beijo do último filme dos anos 50.
Em qualquer @ roubo d'alma teclada,
em que site minha noite afora entra?

Quem está aí que aqui não está?
Muito prazer! Que prazer há de haver?
Meu nome, na verdade, não é de verdade.
Mas talvez o poema que sou não chegue a te comover.

Na TV, chuva. Lá fora, chove. Dentro de mim: gotas
Na outra tela, a espera por outra tela que o irreal erre.
Mas o virtual é um virtuoso tornar passado o presente
e eu aqui só fico nesse eusemmim.com.br

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

REESTREIA EM SÃO PAULO PERFÍDIA QUASE PERFEITA



Volta ao cartaz de 11 de novembro a 03 de dezembro o espetáculo PERFÍDIA QUASE PERFEITA, de Carlos Correia Santos. A montagem poderá agora ser vista na Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363, Bom Retiro. São Paulo-SP). Uma realização da Cia Fé Cênica. Direção: Cláudio Marinho. Com Geraldo Machado, Viviane Bernard e Cláudio Marinho. Trilha sonora original: Cláudio Hodnik. Iluminação: Sônia Lopes. Cenário e figurinos: Geraldo Machado e Viviane Bernard. Fotos: Lenise Pinheiro. Design gráfico: Reinaldo Elias. Produção: Geraldo Machado e Cláudio Marinho.

SOLO DE MARAJÓ VOLTA AO CARTAZ NO SESC BOULEVARD



terça-feira, 8 de novembro de 2011

DIRA PAES ESCREVE SOBRE OBRA DE CARLOS CORREIA SANTOS



Queridos amigos,

Como eu já havia divulgado aqui, a querida Dira Paes me deu a honra de aceitar escrever o prefácio para o meu livro TRINOS TITÃS, que será publicado pela editora Giostri, de São Paulo. TRINOS TITÃS reúne os meus quatro textos teatrais resultantes da extensa pesquisa que, durante anos, fiz sobre as figuras de Ismael Nery, Adalgisa Nery e Murilo Mendes. São quatro espetáculos teatrais independentes, mas interligados. Obras que já me renderam muitas alegrias. Já recebi vários prêmios regionais e nacionais com essas dramaturgias. TRINOS TITÃS será lançado dentro da série DRAMATURGIA BRASILEIRA, em que dramaturgos são apresentados ao grande público nacional sob as bênçãos de relevantes nomes da arte cênica. Ganho agora mais um prêmio com esse trabalho. Quem me dá essa benção, portanto, é essa pessoa iluminada e que tanto orgulho traz para nós os nortistas. Com vocês, então, a joia de texto que a tão querida Dira compôs sobre meus escritos...

Carlos Correia Santos

O PREFÁCIO

A PRECIOSA TINTA DE UMA MUSA DAS CENAS

O que inspira um poeta?

Qual a sua fonte primeira?

Um mergulho na própria existência?

Trino Titãs convoca Carlos Correia Santos à carpintaria de dramatizar a paixão e a poesia das biografias dessa trinca de artistas que marcaram a História com a sua arte e seu poético, intenso e excitante caso de amor.

O paraense Ismael Nery, a carioca Adalgisa Nery e o mineiro Murilo Mendes são personagens reais e irresistíveis para quem busca uma prática de montagem teatral que penetre profundamente na questão do amor a três. As angústias, os ideais, seus afetos, vão além do que o comum dos mortais vive. São deuses de carne e osso e genialidade.

Cabe dizer que poderíamos reconhecê-los na sociedade contemporânea, pois eram pessoas a frente de seu tempo. Talvez aí morasse a fragilidade destes personagens, que não cabiam dentro de si e de sua época. O autor revolve a desconstrução da estrutura do humano de cada personagem, revelando o convívio angustiante e silencioso com as suas dores e amores.

Em "Nu Nery", Ismael, senhor de seu tempo e da sua inquietude artística, instiga a uma interpretação de um personagem vigoroso. Mesmo em seus últimos suspiros, esbraveja contra os céus: " Meu Deus, para que pusestes tantas almas em um só corpo?... Dai-me, como vós tendes, o poder de criar corpos para as minhas almas... Ou levai-me deste mundo que já estou exausto...", dada a multiplicidade de sua personalidade e a dificuldade de reconhecer-se entre tantas facetas. Ao contrário de sua magnífica obra e de sua impecável formação intelectual.

A estrutura cênica proposta sabiamente pelo autor, na troca de figurinos dos atores em cena, faz com que cada personagem experiencie o jogo cênico da também troca de interpretações. Como se cada ator pudesse se vestir do objeto e sujeito de seus estímulos dramáticos. Desafiando os atores a se apropriarem de todos os personagens com a mesma entrega.

Em "Alma Imaginária", Adalgisa contracena consigo mesma. Ela selou o seu destino. Condenada a conviver com as suas lembranças até a sua maturidade. Isolou-se para que pudesse vivenciá-las sem dispersão: "O que fiz?... Fiz daquela dor meu poema de mortalha... Envolvi com tamanha morte o meu corpo de fêmea eterno luto... E segui..." Sua exuberância física e intelectual eram tão imponentes que não a deixavam passar despercebida. Marcada pela perda de muitos filhos, ela traduz a oca sensação de ser uma mulher maculada pela volúpia e suas perdas irreparáveis.

No monólogo "Uno Diverso", Murilo Mendes se revela: "...Às vezes, penso que conheci Ismael e Adalgisa mesmo antes de me conhecer..." O mineiro é a memória e a consciência de quem se apaixonou por um amor que já existia. E foi fiel a ele. Deixando o legado que permitiu esta pesquisa.

Em "Ismael em três traços", Carlos aproveita para exercitar a alta qualidade dos diálogos entre os vários "Ismaéis", permitindo a falta de linearidade do pensamento. O resultado é um jogo dinâmico do universo dos nossos musos modernistas.

A obra de Carlos Correia Santos ousa para além do exímio jogo cênico proposto aos atores e direção. Sem dúvida, proporciona a possibilidade de grandes voos de interpretação e montagem, dada a riqueza e singularidade em que se deram os fatos e o texto teatral em si.

É impossível desassociar essa tríade como o nosso dramaturgo nos prova. Sua inspirada busca em desvendar cada ponta desse irresistível triângulo de gênios resulta em textos irretocáveis na sua plenitude de prosa e verso. Percebe-se que o nosso premiado autor foi incansável na pesquisa que transcende o papel e que só se enriquece nas entrelinhas. Poeta também, desatou cada nó dessa trama, para depois enlaçar-nos nas redes de uma primazia teatral só encontrada nos textos de grandes dramaturgos.

DIRA PAES
Atriz
Rio de Janeiro, 7 de novembro de 2011