terça-feira, 29 de novembro de 2011

O DOCE SABOR DE UMA SALADA COM FILÉ DE FRANGO

A situação é adoravelmente curiosa. Lá estou eu, sentado a uma mesa da praça de alimentação do supermercado (concentrado na filosófica tarefa de comer salada com filé de frango) e a voz, tímida, indaga: “você me desculpa se eu perturbar um pouquinho?”. Ergo a cabeça e me deparo com aquele senhor desconhecido, cesta de compras em punho, ar notoriamente constrangido. Respondo, sorrindo: “Fique à vontade”. Ele prontamente se senta junto a mim e vai sapecando: “Olha, desculpa mesmo. Você é escritor, não é? Já te vi na televisão várias vezes. Quando percebi que era você que estava aqui, fiquei nervoso, mas disse para mim mesmo: não vou perder a oportunidade de falar com ele. Tem certeza que eu não incomodo?”. A salada e o frango para mim deixaram de existir totalmente. Tão tenso quanto meu interlocutor, afirmo com total alegria: “Você não me incomoda de forma alguma. Muito pelo contrário. É uma satisfação”. E o senhor me fala que sonha em se tornar escritor, que toda vez que vê ou lê alguma matéria comigo sente que podia ser ele também. Que ficaria enormemente feliz se eu pudesse ler os escritos dele e emitir uma opinião. Repasso meu email, afirmo que será um prazer ler o que ele escreve. Ele se ergue, animado, exultante. Diz que só de receber esse meu retorno já se sente bem mais confiante. E parte, garantindo que me mandará em breve seus parágrafos. E eu? Encabulado, feliz, eu fico ali, alma refeita. Pensando em como sempre valem a pena todas as lutas que travamos para sermos o que o nosso âmago nos manda ser. Penso em mim, lá atrás, vendo meus ídolos da arte de longe. Sonhando em conhecê-los. Hoje, quase todos são meus amigos. Salomão Larêdo, Alfredo Garcia, Nilson Chaves. A salada e o frango tornam-se, então, iguarias com sabor sem par.

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