Imagine um livro de poemas que é todo poesia desde o título, uma gradação de raízes verbais (poet- de poetar; poetic- de poeticar) arrematadas por um sufixo (-io) cuja idéia encerra um espaço onde a poesia jaz enclausurada em cheiro de livro sempre novo, senhora de um tempo incontável e de um espaço sem pontos extremos e sem limites. Assim é o livro Poeticário, de Carlos Correia Santos, que será lançado hoje em Belém.
Como o autor não é um poeta qualquer, posto que quaisquer jamais seriam poetas, sei que a mídia já está fazendo muito barulho em torno deste evento e, para não ser repetitivo, quero comentar mais um poema de Poeticário. Sim. Mais um. Pois já publiquei, no artigo 'Alicerce virtual para poesia real', comentário sobre o poema 'Eusemmim.com.br' (p.157).
Hoje apresento-lhes o poema IN DIVISÍVEL (p.17), uma obra marcada pela peculiaridade lúdica de quem tem no sangue o dom inato de decompor palavras para produzir significados.
Tenho prazer:Por ti 'pra'E por mim 'zer'. Dividido entre ti e você, Univido amor. Ah, o mor entre o bem e o querer.
Desde o título do poema, o autor serve-se da forma 'in' – que como expressão inglesa, preposição latina, abreviatura, símbolo ou prefixo já é plurissignificativa – e faz um trocadilho com a palavra 'divisível' apenas sugerindo que o 'in' seja um prefixo de negação.
No corpo do poema, o indivisível divide-se, para configurar a poesia, e a primeira sílaba de 'prazer' vira preposição que conecta um ponto de partida, o eu lírico (e por mim 'zer'), a um ponto de chegada (por ti 'pra'), não necessariamente nesta mesma ordem, como convém a um poema de verdade.
O eu é dividendo cujos divisores são desdobramentos de um amor unividido, para utilizar o particípio do verbo 'unividar' (criado pelo poeta de acordo com os padrões de formação de palavras portuguesas).
O amor aparece como o maior, mas o adjetivo que o qualifica aparece em forma sincopada, que e é também a mesma forma da segunda sílaba de 'a-mor' e está entre o bem e o querer.
Se o leitor seguir as pegadas sugestivas do poeta, ele supõe o significado de 'unividar' e o preenche concretamente com suas próprias experiências de amar.
Há um divisível em todo ser:Um quebrar-se só sem só-frer, Um subtrair-se só para só-mar.
E o divisível que há em todo ser revela-se no quebrar-se (dividir-se). Quebrar-se vira substantivo que apenas tenta descrever o fenômeno da divisão que é sem solidão e não apenas com sofrimento. Subtrair-se também vira verbo cuja ação é exclusiva e seu objetivo é também sua antítese.
Há um 'in' divisível em todo ter. Tenho no que te há o que ver: tenho há-ver. Tenho em ti meu você, meu mor ar, meu morar
A última estrofe refere-se ao 'in' de indivisível agora como toda afirmação que vem implícita em toda negação. E o que outrora fora dividido agora se recompõe no objeto da visão do eu lírico, que é o que acontece a seu amor – o que justifica a divisão de haver em 'há-ver'. E a posse do eu é o objeto de seu amor, seu você, seu maior ar, seu morar.
Não é lindo?
Quem disse que poesia feita por paraense tem de ter aqueles apelos regionais?Os outros significados sugeridos no poema deixo a critério da interpretação de vocês, leitores.
Como o autor não é um poeta qualquer, posto que quaisquer jamais seriam poetas, sei que a mídia já está fazendo muito barulho em torno deste evento e, para não ser repetitivo, quero comentar mais um poema de Poeticário. Sim. Mais um. Pois já publiquei, no artigo 'Alicerce virtual para poesia real', comentário sobre o poema 'Eusemmim.com.br' (p.157).
Hoje apresento-lhes o poema IN DIVISÍVEL (p.17), uma obra marcada pela peculiaridade lúdica de quem tem no sangue o dom inato de decompor palavras para produzir significados.
Tenho prazer:Por ti 'pra'E por mim 'zer'. Dividido entre ti e você, Univido amor. Ah, o mor entre o bem e o querer.
Desde o título do poema, o autor serve-se da forma 'in' – que como expressão inglesa, preposição latina, abreviatura, símbolo ou prefixo já é plurissignificativa – e faz um trocadilho com a palavra 'divisível' apenas sugerindo que o 'in' seja um prefixo de negação.
No corpo do poema, o indivisível divide-se, para configurar a poesia, e a primeira sílaba de 'prazer' vira preposição que conecta um ponto de partida, o eu lírico (e por mim 'zer'), a um ponto de chegada (por ti 'pra'), não necessariamente nesta mesma ordem, como convém a um poema de verdade.
O eu é dividendo cujos divisores são desdobramentos de um amor unividido, para utilizar o particípio do verbo 'unividar' (criado pelo poeta de acordo com os padrões de formação de palavras portuguesas).
O amor aparece como o maior, mas o adjetivo que o qualifica aparece em forma sincopada, que e é também a mesma forma da segunda sílaba de 'a-mor' e está entre o bem e o querer.
Se o leitor seguir as pegadas sugestivas do poeta, ele supõe o significado de 'unividar' e o preenche concretamente com suas próprias experiências de amar.
Há um divisível em todo ser:Um quebrar-se só sem só-frer, Um subtrair-se só para só-mar.
E o divisível que há em todo ser revela-se no quebrar-se (dividir-se). Quebrar-se vira substantivo que apenas tenta descrever o fenômeno da divisão que é sem solidão e não apenas com sofrimento. Subtrair-se também vira verbo cuja ação é exclusiva e seu objetivo é também sua antítese.
Há um 'in' divisível em todo ter. Tenho no que te há o que ver: tenho há-ver. Tenho em ti meu você, meu mor ar, meu morar
A última estrofe refere-se ao 'in' de indivisível agora como toda afirmação que vem implícita em toda negação. E o que outrora fora dividido agora se recompõe no objeto da visão do eu lírico, que é o que acontece a seu amor – o que justifica a divisão de haver em 'há-ver'. E a posse do eu é o objeto de seu amor, seu você, seu maior ar, seu morar.
Não é lindo?
Quem disse que poesia feita por paraense tem de ter aqueles apelos regionais?Os outros significados sugeridos no poema deixo a critério da interpretação de vocês, leitores.
Helder Bentes - Professor e Crítico Literário.
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