sábado, 12 de dezembro de 2009

SOLO DE MARAJÓ - PRIMEIRA TEMPORADA


Resultado de quatro meses de pesquisas e ensaios, espetáculo aposta no minimalismo para retratar os dramas de seres ilhados pelo destino

Um livro com mais de uma centena de personagens transformado em um monólogo. Em cena, um só ator encarnando dramas e sonhos de vários seres que vivem nas margens da Amazônia, à margem da sociedade. Esse é o viés do trabalho que traz de volta aos palcos o ator e diretor Cláudio Barros. Livremente inspirado no romance “Marajó”, de Dalcídio Jurandir, o espetáculo “Solo de Marajó” estreia no próximo dia 17, às 21h, no Cine Teatro Líbero Luxardo, do Centur.

Dirigida por Alberto Silva Neto, com dramaturgia de Carlos Correia Santos, assistência de direção de Papi Nunes, cenografia de Nando Lima, iluminação de Tarik Coelho e produção executiva de Milton Boulhosa, a produção fica em cartaz até o dia 20. A montagem tem o patrocínio do Hangar Centro de Convenções da Amazônia, Secretaria de Estado de Cultura e Governo do Estado do Pará, com apoio da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, Teatro Waldemar Henrique e Meg Mestre Gráfica e Editora. O empreendimento conta com a parceria do Centro de Danças Ana Unger e da Fundação Ipiranga.

Resultado de quatro meses de pesquisas, leituras de mesa e ensaios, “Solo de Marajó” já tinha cumprido uma temporada experimental na programação paralela da última feira Pan-Amazônica do Livro. O espetáculo ainda estava em construção e foi apresentado ao público para que os criadores avaliassem as respostas que o trabalho obtinha junto à platéia. Além das sessões apresentadas na Feira do Livro, o projeto também realizou ensaios abertos para atores, pesquisadores e técnicos de teatro, igualmente com o intuito de avaliar as propostas cênicas desenvolvidas. A encenação que será apresentada a partir do dia 17 é a versão final de todo esse processo.

A CONSTRUÇÃO

A criação do monólogo teve como matéria prima o denso romance de Dalcídio. Claudio Barros, Alberto Silva e Carlos Correia se debruçaram sobre “Marajó” e elegeram trechos da obra que possuíam uma estrutura narrativa completa, personagens fortes e conflitos interessantes.

A partir daí, esses fragmentos foram rigorosamente dissecados e deles extraídas referências de espaços, sonoridades e ações físicas, que, depois, induziram a criação das cenas. Dessa forma, o texto encenado não foi construído previamente, e sim criado no dia a dia dos ensaios.

TÉCNICA E PROJETO

No auge da maturidade técnica, Claudio consegue dar vida aos vários personagens de Dalcídio sem o auxílio de grandes recursos cênicos. A encenação prima pela simplicidade. A cenografia e o figurino são neutros e buscam ressaltar a presença do ator. A luz é precisa e sem efeitos. Com isso, a platéia é convidada a construir intimamente as paisagens nas quais a trama vai se passando.

“Solo de Marajó” é o primeiro espetáculo de uma trilogia de monólogos que Cláudio Barros decidiu fazer a partir da obra de autores paraenses. A idéia é trabalhar, num segundo momento, com o acervo de Benedicto Monteiro e, num terceiro momento, adaptar a obra não teatral de Carlos Correia Santos.

O MESTRE

Criador do Ciclo do Extremo Norte, conjunto de romances que retratam a realidade social do homem da Amazônia, Dalcídio Jurandir nasceu na Vila de Ponta de Pedras, Ilha do Marajó (PA), em 10 de janeiro de 1909, filho de Alfredo Pereira e Margarida Ramos. Em 1927, viajou para o Rio de Janeiro, a bordo do navio Duque de Caxias. Na capital carioca, enfrentou várias dificuldades. Foi lavador de pratos no Café e Restaurante São Silvestre. Conseguiu, após um breve tempo, o lugar de revisor, sem remuneração, na revista "Fon-Fon". Voltou a Belém no mesmo navio, tendo aproveitado a viagem para ler livros de clássicos portugueses e de poetas nacionais.

Em 1940, foi agraciado com o Prêmio Dom Casmurro de Literatura, concedido pelo jornal de mesmo nome e pela Editora Vecchi, com o romance "Chove nos Campos de Cachoeira". Faziam parte do júri, entre outros, Oswald de Andrade, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Álvaro Moreira. Em 1945 e 1946, fez parte da redação do jornal “Tribuna Popular” e colaborou nos periódicos “O Jornal”, “A classe operária” e na revista “O Cruzeiro”. No ano seguinte, o livro “Marajó” foi editado pela Livraria José Olympio Editora. Em 1972, a Academia Brasileira de Letras concedeu ao autor o Prêmio Machado de Assis de Literatura, pelo conjunto de sua obra, que lhe foi entregue por Jorge Amado. No dia 16 de junho de 1979, o escritor faleceu na cidade do Rio de Janeiro.

Nenhum comentário: