JORNAL O LIBERAL
CADERNO MAGAZINE
Edição de 04/10/2008
EXCLUSIVO
Atriz lança seu
primeiro livro
e revela a emoção
da experiência
Atriz lança seu
primeiro livro
e revela a emoção
da experiência
CARLOS CORREIA SANTOS
Da Editoria
Era precisamente nove horas da noite quando a reportagem entrou em contato com Dira Paes, na última quinta-feira. Inevitável o receio. Abordar a esta hora uma artista com uma agenda tão agitada? Enquanto os números do celular eram discados, um pensamento insistente: ela deve estar exausta. Basta fazer um rápido balanço: a paraense está filmando a nova película de Tizuka Yamasaki; está vivendo todas as polêmicas e apaixonadas repercussões de “A festa da menina morta” (primeiro filme dirigido por Mateus Nachtergaele, no qual faz uma especialíssima participação); está se preparando para voltar às telas da Globo depois do sucesso com a inesquecível Solineuza (o retorno acontecerá com a personagem Norma, na próxima novela das oito, Caminho das Índias, escrita por Glória Perez); está envolvida, ao lado do produtor Emanoel Freitas, com a realização da nova edição do Festival de Belém do Cinema Brasileiro (que acontecerá na capital paraense de 27 de outubro a 02 de novembro), é mãe recentíssima de Inácio, acabou de reformar a casa e ainda decidiu se lançar como escritora infanto-juvenil.
Não é pouca coisa. Mas, enfim, alguém com tantas ocupações talvez nem durma. Nove horas da noite pode ser apenas mais um momento essencial na jornada. E Dira atende ao telefone como quem realmente ultrapassa os tempos. É possível sentir na voz a doçura do riso. A vontade de partilhar suas vivências. Sim, ela quer contar. Quer dizer tudo sobre o lançamento de “Menina flor e o boto”, sua corajosa investida no mundo das letras. A obra será lançada hoje, na capital carioca, das 16h às 20h, no Pólo de Pensamento Contemporâneo. No dia 7, os autógrafos acontecem em São Paulo. No final das contas, uma conclusão: Dira não dorme e faz sonhar. Nessa entrevista exclusiva que ela concedeu ao Magazine é possível entender isso:
Um livro infanto-juvenil, Dira? Como é isso? Por que a decisão de se tornar escritora a essa altura da tua carreira?
DIRA PAES: Bem, esse é um trabalho da Língua Geral. Em março, essa editora lançou o projeto Mama África. Quatro escritores e quatro artistas plásticos africanos foram convidados a se unirem para criar livros sobre as lendas de seu país. Obras voltadas para o público infanto-juvenil. A editora decidiu lançar aqui entre nós a segunda versão da iniciativa, batizada de Mãe Brasil. Uma série para reavivar nossas lendas indígenas. Tive a honra de ser escolhida para escrever uma das histórias, com ilustrações do PP Condurú. Quando recebi o convite, logo me lembrei de algo relatado por minha mãe, dona Flor: ela dizia que minha avó tinha visto o boto transformado em homem. E eu sempre achei isso muito próximo da realidade. Nunca contestei. Então, aceitei o desafio de escrever. Sabendo que era rigorosamente um desafio. Eu precisava disso. Tomei a lenda do boto como pano de fundo e decidiu recontar o universo da infância da minha mãe. Um ambiente fascinante de criança que teve o rio como sua rua.
E como foi esse enlace com o PP Condurú?
DIRA PAES: Foi maravilhoso. O resultado muito me honra. É uma experiência única poder dialogar com o universo infanto-juvenil ao lado de um artista da importância e representatividade do PP.
Mas afinal o que as páginas do livro têm a sussurrar para as crianças e jovens que vão ler?
DIRA PAES: Elas vão se encontrar com a floresta amazônica. Sinto que essa obra representa um novo caminho para mim. Uma nova porta que se abre. A Amazônia ainda precisa ser desbravada pelos brasileiros. A Amazônia é imensamente rica e as crianças precisam descobrir isso.
Pois é, por que tanto persiste essa impressão de que o Brasil não nos conhece? Por que ainda há tanta resistência em se entender melhor a cultura da região Norte? O que falta para...
DIRA PAES (A vontade de responder é tanta, que a atriz interrompe, pede mil desculpas e, sempre com o traço de sorriso na voz, vai dizendo): Falta intercâmbio. As informações divulgadas sobre a região são muito superficiais. Falta mais vivência amazônica para os brasileiros. Qualquer pessoa que respire às margens de um rio da Amazônia... qualquer pessoa que tenha essa vivência muda para sempre. “Menina Flor e o boto” é um livro que tenta traduzir isso que é tão difícil de traduzir. Costumo dizer que a única experiência que deve se comparar a conhecer a Amazônia é conhecer a lua.
Então, não há como negar: a menina de Abaetetuba se manifesta vivamente na escritora Dira Paes...
DIRA PAES: Na verdade, ao contrário do que se pensa e se divulga, eu tive uma infância bastante urbana. Mas também vivi muito a magia do interior. Passei muitas férias em Abaetetuba, Capanema. Minhas raízes são muito evidentes. E isso sempre me trouxe muita felicidade. Tenho orgulho de ser quem sou. De ter as origens que tenho.
E a maternidade? Ela deu algum colorido a mais a tua alma de artista?
DIRA PAES (breve silêncio, mesmo a impessoalidade da ligação telefônica deixa escapar a emoção. Vem, por fim, a resposta): A maternidade justificou todo o tempo que vivi até hoje. Penso que da mesma forma que as pessoas precisam conhecer a Amazônia para entender a Mãe Natureza, há mulheres, como eu, que precisam viver a maternidade para se entenderem melhor.
Uma mudança brusca de assunto: o filme “A festa da menina morta” está repercutindo bastante. Causou alvoroço em Cannes. Gerou críticas apaixonadas no Festival de Cinema do Rio. Qual a importância desse trabalho para ti?
DIRA PAES: O Mateus (Nachtergaele) é um artista único, em carne viva, daqueles que rompem com as fronteiras. É uma sorte imensa tê-lo entre nós. Quando soube do projeto, pedi imediatamente para fazer um papel. E estou muito feliz. O filme encanta pela riqueza, pelo requinte. A sinergia é ímpar. O filme é duro. E mostra nossa Amazônia com uma grandeza sem igual.
Bem, seria imperdoável não perguntar: e a novela das oito? Quando seguir por Caminhos da Índia, que trilhas novas vai tomar a tua carreira?
DIRA PAES: A novela deve começar em novembro. Farei uma personagem chamada Norma, que só aparece mais para frente. Bem, estou há oito anos longe das novelas. Tenho que confessar: estou ansiosa. Uma ansiedade boa. Quero reviver a experiência. A novela é um formato com características próprias. Não é fácil. Quero fazer esse trabalho com muita dedicação para que o público mate a saudade. Especialmente o público infantil que tanto me acarinhou através da Solineuza. Público que também abraço através do lançamento de “Menina flor e o boto”.
UM POUCO MAIS
A autora
Dira Paes nasceu em Abaetetuba, no Pará. É notável atriz de cinema, minisséries, telenovelas e teatro. Menina Flor e o Boto marca sua estréia na literatura e o início de uma promissora aventura artística.
O ilustrador
P.P. Condurú nasceu em Belém. É uma das principais referências artísticas do Norte do Brasil. Participou de várias exposições coletivas e mostras, expondo telas que dialogam com a cultura e as riquezas naturais da região Amazônica.
A coleção
A coleção Mãe Brasil pretende resgatar lendas indígenas, recriadas por alguns dos mais importantes artistas brasileiros. Livros que juntam as artes plásticas à literatura e a tradição à modernidade. Livros para as crianças, mas também para os seus pais. Livros para colecionar.
Era precisamente nove horas da noite quando a reportagem entrou em contato com Dira Paes, na última quinta-feira. Inevitável o receio. Abordar a esta hora uma artista com uma agenda tão agitada? Enquanto os números do celular eram discados, um pensamento insistente: ela deve estar exausta. Basta fazer um rápido balanço: a paraense está filmando a nova película de Tizuka Yamasaki; está vivendo todas as polêmicas e apaixonadas repercussões de “A festa da menina morta” (primeiro filme dirigido por Mateus Nachtergaele, no qual faz uma especialíssima participação); está se preparando para voltar às telas da Globo depois do sucesso com a inesquecível Solineuza (o retorno acontecerá com a personagem Norma, na próxima novela das oito, Caminho das Índias, escrita por Glória Perez); está envolvida, ao lado do produtor Emanoel Freitas, com a realização da nova edição do Festival de Belém do Cinema Brasileiro (que acontecerá na capital paraense de 27 de outubro a 02 de novembro), é mãe recentíssima de Inácio, acabou de reformar a casa e ainda decidiu se lançar como escritora infanto-juvenil.
Não é pouca coisa. Mas, enfim, alguém com tantas ocupações talvez nem durma. Nove horas da noite pode ser apenas mais um momento essencial na jornada. E Dira atende ao telefone como quem realmente ultrapassa os tempos. É possível sentir na voz a doçura do riso. A vontade de partilhar suas vivências. Sim, ela quer contar. Quer dizer tudo sobre o lançamento de “Menina flor e o boto”, sua corajosa investida no mundo das letras. A obra será lançada hoje, na capital carioca, das 16h às 20h, no Pólo de Pensamento Contemporâneo. No dia 7, os autógrafos acontecem em São Paulo. No final das contas, uma conclusão: Dira não dorme e faz sonhar. Nessa entrevista exclusiva que ela concedeu ao Magazine é possível entender isso:
Um livro infanto-juvenil, Dira? Como é isso? Por que a decisão de se tornar escritora a essa altura da tua carreira?
DIRA PAES: Bem, esse é um trabalho da Língua Geral. Em março, essa editora lançou o projeto Mama África. Quatro escritores e quatro artistas plásticos africanos foram convidados a se unirem para criar livros sobre as lendas de seu país. Obras voltadas para o público infanto-juvenil. A editora decidiu lançar aqui entre nós a segunda versão da iniciativa, batizada de Mãe Brasil. Uma série para reavivar nossas lendas indígenas. Tive a honra de ser escolhida para escrever uma das histórias, com ilustrações do PP Condurú. Quando recebi o convite, logo me lembrei de algo relatado por minha mãe, dona Flor: ela dizia que minha avó tinha visto o boto transformado em homem. E eu sempre achei isso muito próximo da realidade. Nunca contestei. Então, aceitei o desafio de escrever. Sabendo que era rigorosamente um desafio. Eu precisava disso. Tomei a lenda do boto como pano de fundo e decidiu recontar o universo da infância da minha mãe. Um ambiente fascinante de criança que teve o rio como sua rua.
E como foi esse enlace com o PP Condurú?
DIRA PAES: Foi maravilhoso. O resultado muito me honra. É uma experiência única poder dialogar com o universo infanto-juvenil ao lado de um artista da importância e representatividade do PP.
Mas afinal o que as páginas do livro têm a sussurrar para as crianças e jovens que vão ler?
DIRA PAES: Elas vão se encontrar com a floresta amazônica. Sinto que essa obra representa um novo caminho para mim. Uma nova porta que se abre. A Amazônia ainda precisa ser desbravada pelos brasileiros. A Amazônia é imensamente rica e as crianças precisam descobrir isso.
Pois é, por que tanto persiste essa impressão de que o Brasil não nos conhece? Por que ainda há tanta resistência em se entender melhor a cultura da região Norte? O que falta para...
DIRA PAES (A vontade de responder é tanta, que a atriz interrompe, pede mil desculpas e, sempre com o traço de sorriso na voz, vai dizendo): Falta intercâmbio. As informações divulgadas sobre a região são muito superficiais. Falta mais vivência amazônica para os brasileiros. Qualquer pessoa que respire às margens de um rio da Amazônia... qualquer pessoa que tenha essa vivência muda para sempre. “Menina Flor e o boto” é um livro que tenta traduzir isso que é tão difícil de traduzir. Costumo dizer que a única experiência que deve se comparar a conhecer a Amazônia é conhecer a lua.
Então, não há como negar: a menina de Abaetetuba se manifesta vivamente na escritora Dira Paes...
DIRA PAES: Na verdade, ao contrário do que se pensa e se divulga, eu tive uma infância bastante urbana. Mas também vivi muito a magia do interior. Passei muitas férias em Abaetetuba, Capanema. Minhas raízes são muito evidentes. E isso sempre me trouxe muita felicidade. Tenho orgulho de ser quem sou. De ter as origens que tenho.
E a maternidade? Ela deu algum colorido a mais a tua alma de artista?
DIRA PAES (breve silêncio, mesmo a impessoalidade da ligação telefônica deixa escapar a emoção. Vem, por fim, a resposta): A maternidade justificou todo o tempo que vivi até hoje. Penso que da mesma forma que as pessoas precisam conhecer a Amazônia para entender a Mãe Natureza, há mulheres, como eu, que precisam viver a maternidade para se entenderem melhor.
Uma mudança brusca de assunto: o filme “A festa da menina morta” está repercutindo bastante. Causou alvoroço em Cannes. Gerou críticas apaixonadas no Festival de Cinema do Rio. Qual a importância desse trabalho para ti?
DIRA PAES: O Mateus (Nachtergaele) é um artista único, em carne viva, daqueles que rompem com as fronteiras. É uma sorte imensa tê-lo entre nós. Quando soube do projeto, pedi imediatamente para fazer um papel. E estou muito feliz. O filme encanta pela riqueza, pelo requinte. A sinergia é ímpar. O filme é duro. E mostra nossa Amazônia com uma grandeza sem igual.
Bem, seria imperdoável não perguntar: e a novela das oito? Quando seguir por Caminhos da Índia, que trilhas novas vai tomar a tua carreira?
DIRA PAES: A novela deve começar em novembro. Farei uma personagem chamada Norma, que só aparece mais para frente. Bem, estou há oito anos longe das novelas. Tenho que confessar: estou ansiosa. Uma ansiedade boa. Quero reviver a experiência. A novela é um formato com características próprias. Não é fácil. Quero fazer esse trabalho com muita dedicação para que o público mate a saudade. Especialmente o público infantil que tanto me acarinhou através da Solineuza. Público que também abraço através do lançamento de “Menina flor e o boto”.
UM POUCO MAIS
A autora
Dira Paes nasceu em Abaetetuba, no Pará. É notável atriz de cinema, minisséries, telenovelas e teatro. Menina Flor e o Boto marca sua estréia na literatura e o início de uma promissora aventura artística.
O ilustrador
P.P. Condurú nasceu em Belém. É uma das principais referências artísticas do Norte do Brasil. Participou de várias exposições coletivas e mostras, expondo telas que dialogam com a cultura e as riquezas naturais da região Amazônica.
A coleção
A coleção Mãe Brasil pretende resgatar lendas indígenas, recriadas por alguns dos mais importantes artistas brasileiros. Livros que juntam as artes plásticas à literatura e a tradição à modernidade. Livros para as crianças, mas também para os seus pais. Livros para colecionar.
Um comentário:
eu quero ler esse livro.
deve ser legal até.
beijos
adorei teu blog.
posso por o link dele no meu?
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