quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CARLOS CORREIA SANTOS GANHA DESTAQUE NO MIX BRASIL, DO UOL


Canal nacional publica entrevista de duas páginas com o autor da peça "Ópera Profano"

Uma bela conquista. Pela segunda vez, um dos mais importantes canais brasileiros especializados em pautas sobre a diversidade abre espaço para a obra do dramaturgo paraense Carlos Correia Santos. Em novembro, o Mix Brasil, do UOL, publicou matéria sobre a estreia da peça “Ópera Profano”, criada pelo escritor e dirigida por Guál Dídimo e Haroldo França. O canal agora publica uma extensa entrevista com Correia. Na matéria, assinada pelo jornalista Neto Lucon, Carlos fala sobre “Ópera Profano”, sobre seu novo blog de contos e sobre o foco do canal: sexualidade.

Aqui, reprodução da entrevista. No post abaixo deste, o link para acessar a entrevista no site do UOL

21/12/2010 - 14h58
Por : Neto Lucon

Autor de peça sobre travestis religiosas diz que
Nossa Senhora é a face feminina de Deus
Dramaturgo Carlos Correia conversa com
o Mix sobre peça polêmica

Em 2010, Belém do Pará contou com um musical no mínimo polêmico: Ópera Profano. A premiada peça, escrita por Carlos Correia, traz travestis e garotos de programa aliados à religiosidade de Nossa Senhora de Nazaré. Ou seja, as travestis, ao contrário de qualquer estereótipo direcionado ao grupo, propagam o arquétipo da maternidade da santa.

Em entrevista ao Mix, o dramaturgo, poeta e romancista Carlos Correia fala sobre a peça, a relação de suas obras com a comunidade LGBT e sobre o blog Mesmo que Não Queiras Eu te Contos, em que reúne os melhores contos, muitos sobre o público gay. Para ele, Nossa Senhora é a face feminina de Deus. Veja:

Carlos, antes desse musical, você já abordou a comunidade LGBT nos seus textos e produções?
Sim, tenho vários trabalhos em que mergulho na temática LGBT. O início dessa relação literária foi com o prêmio que ganhei em 1999 no concurso de textos do gênero promovido por uma editora carioca, a Litteris. Mas ainda era um início tímido. Outro momento marcante é com a peça NU NERY, um texto no qual revisito a vida e a obra do célebre poete e artista plástico Ismael Nery. A dramaturgia investiga a relação artístico-afetiva que Ismael travou com sua esposa Adalgisa Nery e com o amigo do casal, o poeta mineiro Murilo Mendes. Há uma tensão homoafetiva na relação entre os dois.

Em Ópera Profano, os símbolos considerados marginais estão aliados a outros considerados divinos. Como surgiu essa ideia?
Nasceu da minha inquietação. Sou inquieto. Eu quero falar. Quero meter meu bedelho. E a dramaturgia é uma ferramenta sine qua non para isso. Desde adolescente, sempre me inquietou, por exemplo, o fato de que, aqui em Belém, existe um célebre cinema de filmes pornográficos que fica bem em frente à Basílica Santuário de onde sai e onde termina o famoso Círio de Nazaré. O cinema é um ponto de encontro de gays, garotos de programa, travestis, toda a fauna dos ditos excluídos, e também pais de família que escondem seus desejos homfoafetivos e os liberam no cinema. Seres que usam as sombras do cine Ópera para saciar seus prazeres, suas carnes. Tudo isso bem em frente ao símbolo do divino. Isso é super latino-americano!

Mas você não parou por aí. Trouxe a polêmica presença de Nossa Senhora...
É o eterno embate entre o sagrado e o profano. Então, pensei: e se tudo isso se misturasse? E se Nossa Senhora entrasse nesse cinema? Esses travestis, esses garotos de programas, todos esses gays são tão filhos de Deus quanto quaisquer outros que acompanham o Círio. Então nasceram as cenas, a obra, a dramaturgia que foi criada sob forma de musical para metaforizar o nome do cinema Ópera, Cine Ópera. Há cinemas como o Ópera em todo o Brasil e é, portanto, uma história brasileira.

Unir grupos tão discriminados como travestis e garotos de programa à religiosidade gerou polêmica. Houve rejeição do público de Belém?
A peça é um sucesso. Mas as manifestações de intolerância acontecem sempre. Pessoas que se levantam e se retiram, aviltadas. Pessoas que fazem comentários pesados na internet. Mas também pessoas que se comovem, que se encantam, que se permitem entender. Porque, no fundo, a questão é essa: permitir-se entender.

Você procurou humanizar esses personagens marginais. Como se deu esse processo?
A peça discute, acima de tudo, o colossal arquétipo da mãe. As três travestis em cena são, falam, tratam ou explicitam aspectos da maternidade. E eu quis criar esse choque: quis fazer a platéia entender que o materno pode, sim, estar num travesti. Nossa Senhora é a grande representação do materno. O garoto de programa é a voz da ira. Foi violentado quando adolescente pelo padrasto. A cena mais dramática da peça se dá quando o garoto volta ao passado e conta como foi violentado. Sombras invadem o palco e copulam com ele a força. Sombras do padrasto

Além da questão maternal, elas também são religiosas...
As três travestis em cena são religiosas, profundamente religiosas. A que está morrendo, vítima de HIV, sonha em se aproximar da Santa porque foi rejeitada por sua mãe. Ela acredita que a Virgem, sim, é capaz de entendê-la. Tem a travesti que cuida de todos e que esconde um segredo: tem um filho.

Com tantos símbolos polêmicos, a peça não chega a cair no sensacionalismo?
Sempre tive muito receio disso. Nunca quis que a peça virasse um mote escandalizante, algo que chamasse a atenção meramente pelo jocoso. A minha grande alegria é ver que tenho conseguido isso. Primeiro quando o texto ganhou o Prêmio Cidade de Manaus. Talvez para o resto do país seja difícil entender isso, mas Belém e Manaus têm pelejas históricas. Dificilmente uma abaliza a outra. Quando ganhei o prêmio em Manaus, já pude perceber a força que o texto tinha para quebrar preconceitos. Depois ao ver as pessoas saírem emocionadas, mexidas, tocadas. Mais que buscar polêmica, a peça é um grito de humanização.

Você é religioso?
Sim, sou sim. E isso é que é bacana. Acredito em Deus, Nossa Senhora de Nazaré. Sou daqueles que acompanham o Círio, que se emocionam com a passagem da Santa na berlinda. Eu acredito em Deus, mas num Deus que é também Deusa. Acredito numa força criadora que é hibrida e entendo Nossa Senhora como a face feminina desse Deus.


Ópera e Profano não seria principalmente uma crítica? Uma crítica social ao cenário religioso e sexual de Belém?
Perfeitamente. Belém tem uma tradição cultural muito austera, pois ainda paira na cidade certo palco francês. É preciso profanar um pouco tudo isso. O que é o profano? Na origem da palavra, é o que esta fora do templo. Então, saiamos dos templos culturais e religiosos, permitamo-nos vir às ruas e ver que somos o mesmo grão. Diversos, mas fruto do mesmo grão. É uma crítica ao Brasil, na verdade. Ainda mistificamos muito a sexualidade, o que é uma grande tolice. Somos todos sagrados e profanos sem que isso deva causar ruído algum.

De qual maneira mistificamos a sexualidade?
Mistificamos tudo aquilo que não entendemos. Se está fora dos nossos padrões mais banais de entendimento, merece virar um quê a se estranhar. Falo mistificar no sentido de criar mistério. O travesti é exatamente isso: por não ser o óbvio para muitos, vira um mistério de entendimento. Então, o mais fácil é demonizar. Porque foi isso que a fé católica ensinou ao longo dos séculos: o que não está na esfera de entendimento e aceitação, tem que ser queimado na fogueira. Transformamos essa fogueira e talvez ela não seja mais feita com madeira e combustão, mas ainda existe. É a fogueira da intolerância. Quando um jovem quebra uma lâmpada fluorescente no rosto de outro só porque o julga mistério de entendimento, ele está lançando essa pessoa à fogueira.

Carlos, você fica ligado nas questões de militância LGBT? Acompanha noticiários envolvendo o tema gay?
O tempo inteiro. É minha obrigação. Claro que sim. Eu quero ver, quero saber. Tenho que manter meus olhos atentos. Eu penso que um escritor, que um artista é um catalisador do que acontece em seu tempo. Eu tenho que mergulhar nos ódios e amores do meu tempo. Todos eles. Porque isso é a minha matéria de criação. É para falar do meu hoje que sou um escritor. De algum modo, aquela lâmpada foi quebrada no meu rosto também.

Vou falar de algo que me incomodou. Por que nos seus textos o artigo para travesti é sempre no masculino (o travesti)? E por que não selecionaram travestis de verdade para protagonizarem o musical?
Muito bom tocar nesse assunto. Uma das nossas primeiras vontades era ter de fato travestis em cena. Mas aí esbarramos numa dificuldade: o receio dos próprios travestis. Não conseguimos encontrar. Tínhamos outra dificuldade: por se tratar de um musical, precisávamos de atores-cantores. No final, fechamos um elenco que é de ouro, que vai para a cena com muita vontade de mostrar a alma do travesti. E penso que chegam lá. Quanto ao artigo, é algo a se discutir. “A” travesti ou “o” travesti, acho belo se isso pudesse gerar um debate. Uso “o” porque acho bonita a ambigüidade que causa.

Sei que você vai estrear o infanto-juvenil Ludique. Ele tem temática LGBT?
Não, ele não tem. Mas adianto que meu sonho é escrever um texto para a infância e juventude que mergulhe no tema LGBT. Acho perfeitamente possível e necessário. Mas tem algo que merece ser destacado ainda sobre a Ópera Profano. Ela também foi montada por um grupo de adolescentes da rede pública, jovens na faixa de 14 e 17 anos, incentivados por um mega professor de Belém, o mestre Helder Bentes. Foi uma polêmica. A sim, foi uma mega polêmica. Claro que houve inúmeros cortes e adaptações, mas a peça foi montada por esses jovens e apresentada na comunidade deles, no salão de uma igreja (risos).

Você lançou um blog de contos atualmente... O primeiro já traz a história de uma travesti? Pode adiantar algo?
Sim, o primeiro conto que fiz questão de postar é justamente uma narrativa protagonizada por um/uma travesti: Lady B. A ideia de criar o blog surgiu da necessidade de organizar em um só canal os meus contos. Eles estavam muito dispersos. Meu próximo romance é voltado à temática. Chama-se Príncipes. Uma história de amor ambientada no século XIX, conta a relação de um senhor de engenho com um ex-escravo. Foi fruto de uma pesquisa que tenho feito sobre a homossexualidade no Século XIX.

Ópera Profano volta no início de 2010. Pensa em encenar a outros Estados?
Com certeza! Aqui em Belém voltamos em maio. Mas já começamos a nos preparar para viajar. O grande desafio é o patrocínio. As empresas têm resistido em nos patrocinar aqui, e isso é uma prova de preconceito. Para você ter uma ideia, um dos nossos apoiadores não quer nem ser citado. Ele apóia, mas não quer a marca divulgada, pode? Decidimos não trabalhar mais com ele, queremos marcas que tenham coragem de ser o que são.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O CARINHO DE LUIZ ALHO PARA "LUDIQUE"


Partilho aqui as carinhosas palavras que o escritor Luiz Alho dedicou ao espetáculo LUDIQUE em seu blog

Confiram:

Raríssimas vezes atrevo-me a dar opinião sobre o trabalho de meus colegas: Jornalistas, escritores, teatrólogos, músicos, cantores, poetas... desta vez sinto-me tentado a descrever algo que além da grande emoção causada, chamou-me a atenção para os " Sentimentos Renegados" que a correria do dia a dia nos faz deixar de lado; valores preciosíssimos que deixamos de "viver" e nem estamos nos dando conta. A peça teatral "ludique" de Carlos Corrêa Santos, encenada pel grupo de teatro da fundação Curro Velho, num belíssimo espetáculo, nos joga de encontro a esses valores, que precisamos urgentemente resgatar. "Ludique" percorre o universo de dois autores que "afastados" de elementos fundamentais à criação de uma peça de teatro, esquecem de tudo que é necessário para a construção do espetáculo e que é pior... o público já está na platéia... A peça é excelente e existe a possibilidade do público tirar uma grande lição ou várias lições, isso sem contar com a peça em si, um espetáculo maravilhoso onde os "meninos do Curro Velho! dão um show que merece ser visto e revisto. Do meio da plateia, quatro jovens conseguem "iluminar" a "memória dos esquecidos", não só a dos autores da "peça sem peça", mas a de todos que estão na platéia. Aí entra a força do texto de Carlos Corrêa Santos e o talento do grupo: Sonho, imaginação, brilho no olhar , encanto, magia, ternura, alegria, sorriso, luzes, canto, música, dança, amor, paixão e vida... esses sentimentos são valores que precisam estar presentes no dia a dia de nossas vidas e a realidade nos mostra que estamos cada vez mais afastados disso. Portanto, que tal se nesse Natal que se aproxima e no Ano Novo que está chegando nós tentássemos rebuscar esses valores? a vida precisa de brilho, sonho, imaginação; precisa ser vivida verdadeiramente. Vamos todos passar na testa o brilho da sabedoria e construir um mundo melhor para todos. Eu, sinceramente, já estou fazendo a minha parte. Feliz Natal e um Ano Novo maravilhoso com muita paz, serenidade, luz, e tudo de bom. Ludique, ludique, ludique!

QUER SABER O QUE É LUDIQUE?

VÁ ASSISTIR ESPETÁCULO

HOJE 15.12 e AMANHÃ 16.12.10, ANFITEATRO DA PRAÇA DA REPÚBLICA, ÁS 20h

DIA 17.12.10- APRESENTAÇÃO ESPECIAL NA SEDE DA FUNDAÇÃO CURRO VELHO- RUA PROF NELSON RIBEIRO 287- TELÉGRAFO- ENTRADA FRANCA

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

LUDIQUE FAZ ÚLTIMAS APRESENTAÇÕES DE SUA PRIMEIRA TEMPORADA





Espectadores partilham suas impressões sobre peça montada pelo Grupo Cênico da Fundação Curro Velho

“Adoro espetáculos que me fazem sonhar. Tenho 40 anos e gosto de me sentir novamente um menino diante de trabalhos que falem de magia e encanto”. Com essas palavras quase mágicas o funcionário público Emerson Ferreira define suas impressões sobre “Ludique”, montagem que o Grupo Cênico do Curro Velho volta a apresentar esta semana. Criada por Carlos Correia Santos e vencedora do Prêmio Funarte de Dramaturgia, a peça cumpre as últimas sessões de sua primeira temporada em Belém nesta quarta e quinta, às 20h, no anfiteatro da Praça da República, e nesta sexta, no mesmo horário, só que na sede da Fundação Curro Velho, no Telégrafo. A encenação tem direção de Soraia Pinheiro com assessoria artística de Marluce Oliveira. A produção é assinada por Ester de Souza e a coordenação geral é de Maridete Daibes.

Jean Lucas, estudante secundarista de 17 anos, prestigiou o espetáculo na primeira semana da temporada e afirma ter se surpreendido: “Eu estava passando pela praça e resolvi parar. O que me chamou a atenção, primeiro, foi o colorido, o clima circense. Quando comecei a ouvir a mensagem que estava sendo passada, fiquei vidrado. Achei muito bacana”. O enredo de Correia mistura circo e teatro para tentar explicar ao público, de forma metaforizada, como nascem as montagens teatrais. Luana Silva, também estudante, de 22 anos, reforça: “Os atores, em cena, falam sobre como são feitos e para que servem os figurinos, as maquiagens e os cenários das peças. É muito bonito”.

Universitário, Otoniel Azevedo, 23 anos, exalta a iniciativa de ofertar entretenimento de qualidade de forma gratuita. “Também fui surpreendido pela apresentação. Eu estava seguindo para pegar meu ônibus quando vi a movimentação da peça. Fiquei e assisti até o fim. Dou parabéns a idéia de apresentar trabalhos assim, de graça, em um espaço público tão importante como a Praça da República”. A primeira temporada está sendo encerrada, mas outros estudantes terão a oportunidade de conferir um pouco do trabalho. No próximo dia 20, cenas da peça serão apresentadas durante uma homenagem que o escritor Carlos Correia Santos receberá num evento cultural da Escola Ulisses Guimarães.

A TRAMA

No enredo da montagem feita pelo Curro Velho para “Ludique”, dois Autores Confusos precisam criar uma peça infantil. Mas eles estão em apuros, pois o público já chegou e nada está pronto. Eles simplesmente perderam a memória, esqueceram de como se mostra, na ribalta, uma bela história. Na platéia, duas Meninas e dois Meninos misteriosos decidem ajudar o autor usando uma encantada palavra: Ludique! Coisas surpreendentes passam a acontecer e a peça vai nascendo. Surgem criaturas fantásticas como as Luzes Acrobáticas, os Magos do Figurino, os Malabaristas de Coração, o Senhor Cena Cenário e seus Construtores.

Para a Fundação Curro Velho, o texto de Correia propicia mergulhos em dois níveis, conforme explica Maridete Daibes. “O primeiro é a aposta numa obra criada para estimular a preservação da encantaria que gira em torno do próprio teatro. Ludique é um espetáculo metalingüístico que explica como nascem as peças teatrais. E os personagens que conduzem a trama são inspirados no universo surreal. Um hibridismo de linguagem que resulta em encantamento”. O segundo nível no qual o espetáculo investe é também estratégico. “Trata-se do interesse em oferecer empreendimentos culturais de qualidade para o público infantil. A arte-educação é premissa que precisa ser defendida. Cumprir esse papel junto às crianças e adolescentes significa formação socialmente responsável de platéias futuras”, conclui Maridete.

Serviço: “Ludique”, de Carlos Correia Santos. Obra vencedora do Prêmio Funarte de Dramaturgia 2005. Com Grupo Cênico da Fundação Curro Velho. Anfiteatro da Praça da República. Dias 15 e 16 (quarta e quinta), às 20h. Apresentação especial no prédio sede da Fundação Curro Velho, no dia 17(sexta), às 20h.

domingo, 12 de dezembro de 2010

MAIS UM PRESENTE DE JOANA VIEIRA

Abaixo, mais um carinho da lindeza de pessoa que é Joana Vieira. Professores como ela (ao lado de outros mestres como Helder Bentes, como João Marcelo, Rose, tantos) formam almas mais belas para o mundo. Leiam:


LUDIQUE: CURRO VELHO E CARLOS CORREIA – IMPERDÍVEL!

Por Joana Vieira – Texto publicado no blog http://joanavieirapontocom.blogspot.com

Ainda na sexta-feira, antes de todos esses acontecimentos e shows, eu estive numa outra programação, fora dos bares e casas de shows,mas ainda em cima dos palcos - e aqui, diga-se de passagem, ao ar livre.

É que eu resolvi novamente seguir os passos do Carlos Correia, dramaturgo que assinou o texto da peça ÓPERA PROFANO e que ainda hoje me emociona só em pensar.

Gente, alguém aqui no Pará tem que encontrar esse menino rápido antes que outra capital ou outro estado assim o faça. O Carlos é visivelmente talentoso, um rapaz que só de a gente olhar sabe que é especial - ESPECIAL, essa é a palavra chave. especial por que eu não acredito que uma pessoa que escreve e pensa as coisas que ele escreve não podem ter nascido normal. Há algo ou nos neurônios, ou na genética como um todo, muito diferente nesse menino. Um brilho, uma luz, um gen especialmente diferente.




Ele escreve com uma leveza tão gigantesca que transforma a bic em pena, pena encharcada da mais nobre tinta. Desde que assisti ÓPERA PROFANO eu tenho me encantado com os seus textos, o seu jeito penetrante e forte de envolver a gente. Suas ideias, grandes e impressionantes, seus truques metafóricos e seus versos em pura prosa. É possível isso? Tem talento, brilho e brio! É uma figura única e que deve ser nosso pra sempre, pelo talento e pela contribuição aos feitos teatrais deste estado.

Vi em cartaz sua mais nova peça "LUDIQUE" - devo dizer nova pra nós porque ela já foi encenada em outros dois estados antes do nosso e até ganhou prêmios lá fora. Aliás, esse menino vive ganhando prêmios em outros estados, pra se ter uma ideia de como são as coisas, o ÓPERA PROFANO, foi montado aqui e fez um sucesso enorme,mas quem premiou o texto foi Manaus. Manaus? Isso mesmo...é só uma comprovação de que falta muito ainda ao poder público deste estado no que tange ao incentivo à cultura.

Temos poucos patrocínios, pouco incentivo e isso é triste. e se isso é uma crítica? Claro que sim. Já está mais do que na hora de o nosso governo amadurecer nesse aspecto e parar de achar que só se deve investir em cultura aqui às véspera do círio que é para impressionar aos turistas. E o resto do ano?






Estive no anfiteatro da Praça da República e fiquei surpresa novamente com o talento do Carlos e mais ainda quando vi que a companhia do Curro Velho era que encenava o texto. Teatro de qualidade no centro da cidade e ao ar livre para quem quiser ver,mas o estado, a prefeitura ou sei lá quem sequer dá apoio policial aos interessados. Uma praça linda, uma peça teatral indescritível literalmente dada à população mas ela tem medo de ir assistir por conta da violência tão gritante e a olho nu.

Cadê o suporte? Cadê a segurança? Já não incentiva como deveria e quando os artistas bravamente constroem a arte não vai lá nem pra proteger os atores, familiares e o público de modo geral? Alguém tem gritar aqui...BASTA!!!BASTA!!!BASTA!!!

A peça é linda, os artistas deram um show e o Carlos, sem palavras está de parabéns, pela garra, pela coragem, pelo afinco e pelo amor à arte - que é , sem dúvida o que lhe move e faz seguir a diante!!!

MUITO, MUITO, MUITO LINDO!!! Tenho o MAIOR ORGULHO EM SABER, MEU NÊGO, QUE EXISTEM NESTE MUNDO PESSOAS TÃO ESPECIAIS COMO VOCÊ!!!...

Me chame sempre, chorar com seus textos, me emocionar com a sua arte me faz maior...melhor e muito mais paraense!!!

PARABÉNS!!!





Foi assistindo à peça Ludique que tive a honra de conhecer um dos atores e que me contou uma das mais belas histórias da vida real. Chama-se Ronald Lima, ele é um dos malabaristas da peça teatral, ator do projeto Curro Velho, mas no dia-a-dia faz um trabalho bem diferente: é policial do grupo da ROTAM, um dos serviços especiais da polícia!!!

Me chamou a atenção aquele homem de sorriso curto mas de conversas largas e emotivas. Ele é policial durante o dia e faz a arte dos palcos à noite. Me disse que é um orgulho fazer parte do projeto e também da polícia. Se dedica aos dois com o mesmo afinco mas que sente diferente na hora de executar ambos.

Afirmou que o stress e o corre- corre da ROTAM é superado pelo riso das crianças diante do palco. "Todo dia eu me emociono de forma diferente, passo o dia correndo atrás de bandidos pra proteger a sociedade e à noite é ela que me protege quando me doa um sorriso na plateia dos espetáculos que apresento.

Ludique é de um dramaturgo tipicamente paraense, encenado por um grupo que é a cara do estado do Pará, por isso esse efeito tão colorido e especial...Tem coisa mais parecida conosco que isso?




quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

EU MINTO COM ELOY EM SÃO PAULO



Material de divulgação do espetáculo EU MINTO, com o ator e cantor Eloy Nunes. Trabalho em cartaz na cidade de São Paulo. O texto de abertura da montagem é assinado por Carlos Correia Santos.

ÓPERA PROFANO - BASTIDORES

CURRO VELHO APRESENTA A MAGIA DE "LUDIQUE"



Vencedor do Prêmio Funarte de Dramaturgia 2005, espetáculo será encenado no anfiteatro da Praça da República.

Arrisque, pratique, ludique! Você conhece essa expressão? Sabe o que ela significa? Se as respostas forem não, aceite o convite para compreender esse sortilégio assistindo o novo espetáculo que o Grupo Cênico da Fundação Curro Velho apresenta a partir desta quinta, dia 09, às 20h, no Anfiteatro da Praça da República. A trupe de jovens atores traz para a arena pública o fascínio de duas artes na peça “Ludique”, obra de Carlos Correia Santos, vencedora, em 2005, do Prêmio Funarte de Dramaturgia, categoria infância e juventude. Teatro e circo são as grandes protagonistas do enredo que chega aos espectadores paraenses com direção de Soraia Pinheiro e assessoria artística de Marluce Oliveira. A montagem seguirá em temporada nos dias 10, 11,15 e 16 no anfiteatro da Praça da Republica. No dia 11, a sessão será realizada às 19h. No dia 17, a peça ganha apresentação especial no prédio sede da Fundação Curro Velho, às 20h.

O Grupo Cênico da Fundação Curro Velho, com sete anos de existência, em 2010, continua trabalhando com jovens na perspectiva do protagonismo, usando a arte como elemento impulsionador de conquistas socioculturais. O grupo surgiu em junho 2003, a partir do anseio de jovens oriundos dos projetos de iniciação artística que descobriram, através do teatro, da dança e da música, uma possibilidade de formação cênica mais continuada. Dessa forma, por meio de montagens de espetáculos foi proporcionado a esses jovens uma experiência de amadurecimento no trabalho com a linguagem criativa enquanto veículo de fomento pessoal, artístico e social. O grupo montou, no início do ano, a peça Bento Bruno, também de Correia Santos, uma homenagem ao poeta Bruno de Menezes. Nesta nova jornada, o grupo entrou na viagem de magia chamada “Ludique”.

Além de ter como convidados Adilson Pimenta e Luis Acácio, a produção traz em seu elenco 22 jovens que estão fazendo do palco um território ímpar para descobertas. Dão vida aos incomuns personagens da trama os atores Diemerson Freitas, Luan Benjamim, Kevim Braga, Erika Mayane, Paula Nayara, Clívia Leitte, Hellen Castilho, Mayara Moura, Sirneide Reis, Paula Oliveira, Wagner Costa, Alexandre Ramos, Priscila Araújo, Jefferson Silva, João Carlos, Karina Lima, Nando Azevedo, Clicia Melo, Ronald Lima, Eric Bonifácio, Alex Melo e Rosa Pereira.

ENREDO

Dois Autores Confusos precisam criar uma peça infantil. Mas eles estão em apuros, pois o público já chegou e nada está pronto. Eles simplesmente perderam a memória, esqueceram de como se mostra, na ribalta, uma bela história. Na platéia, duas Meninas e dois Meninos misteriosos decidem ajudar o autor usando uma encantada palavra: Ludique! Coisas surpreendentes passam a acontecer e a peça vai nascendo. Surgem criaturas fantásticas como as Luzes Acrobáticas, os Magos do Figurino, os Malabaristas de Coração, o Senhor Cena Cenário e seus Construtores.

Já montado em Natal, o texto de Correia mergulha no próprio fazer artístico. E para a Fundação Curro Velho, este mergulho acontece em dois níveis. O primeiro é a aposta numa obra criada para estimular a preservação da encantaria que gira em torno do próprio teatro. “Ludique” é um espetáculo metalingüístico que explica como nascem as peças teatrais. E os personagens que conduzem a trama são inspirados no universo surreal. Um hibridismo de linguagem que resulta em encantamento. O segundo nível no qual o espetáculo investe é também estratégico. Trata-se do interesse em oferecer empreendimentos culturais de qualidade para o público infantil. A arte-educação é premissa que precisa ser defendida. Cumprir esse papel junto às crianças e adolescentes significa formação socialmente responsável de platéias futuras.

A montagem tem concepção de figurinos assinada por Cecel Costa e Jorge Cunha. Confecção de Figurinos de Nete e Izabel Ribeiro. Produção de Ester de Souza. Assistente de produção, Kayo Costa e Luiz Acácio. Cenografia e adereços, Jorge Cunha e Luiz Santiago. Pintura de cenário de Anderson Pimentel. Sonoplastia de Jefferson Cecim. Operador de sonoplastia, Renan Mota. Iluminação de Luiz Otávio (Faísca). Contra-regragem, Maridete Daibes e Ester de Souza. Concepção de Maquiagem feita por Alixandre Ramos e Kevin Braga. Criação gráfica de Alex Pegorelli. A coordenação geral é de Maridete Daibes.

Serviço: “Ludique”, de Carlos Correia Santos. Obra vencedora do Prêmio Funarte de Dramaturgia 2005. Com Grupo Cênico da Fundação Curro Velho. Anfiteatro da Praça da República. Dias 09, 10, 11, 15 e 16. Às 20h. Menos no dia 11 (19h). Apresentação especial no prédio sede da Fundação Curro Velho, dia 17, às 20h.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

MAIS UM ACORDE DA CRÍTICA DO MESTRE HELDER


Helder Bentes presenteia toda a equipe de ÓPERA PROFANO com mais um artigo crítico sobre a peça. Abaixo:

ÓPERA PROFANO: A EXPERIÊNCIA DE UM GRANDE ESPETÁCULO TEATRAL

Por Helder Bentes
Professor e Crítico de Literatura

Desde que o teatro renascentista e humanista italiano rompeu com as tradições do teatro medieval, a montagem de espetáculos teatrais experimenta de evoluções cênicas a mecanismos de infraestrutura, permitindo maior versatilidade nas representações. Mas toda essa dinâmica só acontece em função da cena, isto é, da ação que dá vida às personagens.

Frutos da imaginação criadora do premiado dramaturgo paraense Carlos Correia Santos, as personagens Baby, Tota, Mira, Lucas e Ângelo, do musical Ópera Profano, receberam, pela primeira vez, o “sopro da vida”, sob a direção de Guál Dídimo e Haroldo França.

Ao lado do fantástico representado pela Misteriosa (Cacau Novaes) e seus conselheiros (Marlene Silva e Haroldo França), essas personagens dão o recado contra o preconceito sexual e religioso que impera em nossa sociedade.

O espaço cênico é o Cine Ópera, “um cinema sujo, dedicado ao prostituir-se” – como afirma um dos conselheiros da Misteriosa, representando a voz da sociedade que, a despeito de todos os avanços da pesquisa humanista e da antropologia teológica cristã, ainda cultivam preconceitos e julgamentos que certamente seriam muito mais condenáveis para Jesus do que a prática da prostituição em si. Digam-no as Marias Madalenas da vida. Só elas sabem a dor e a delícia de serem o que são.

A personagem evangélica que seria vítima de apedrejamento, não fosse a sabedoria divina de Jesus, na peça de Carlos Correia Santos, é representada por Baby, Tota, Mira (três travestis) e Lucas, um garoto de programa que ganha a vida no Cine Ópera.

Baby é vivida pelo ator Léo Meneses, para quem a personagem não deve ser engraçada, pois se trata de uma travesti contaminada pelo HIV, cujo último desejo é ver a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. A travesti começa a agonizar na véspera do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, bem na hora da saída da trasladação (procissão que leva a imagem da Virgem à Catedral de Belém, donde sai a procissão do Círio de Nazaré, no segundo domingo de outubro). As condições psicológicas da personagem, alvos da investigação amorosa da Misteriosa, e a dimensão espaço-temporal de Baby, ao longo da trama, justificam a preocupação do ator que, para dar vida a Baby, precisou contextualizá-la tal qual fazia Fernando Pessoa com seus heterônimos. “Imaginei Baby em três momentos de sua vida. Aos 13 anos, um menino humilde, um adolescente homossexual afetado. Depois aos 20, já se prostituindo, numa vida marginal. E finalmente aos 30, já doente” – explica o ator, que exerce sua especialidade em canto lírico no espetáculo e atua pela primeira vez no transgênero gay.

Tota é a travesti que se solidariza com o último desejo de Baby e comete a estupidez de roubar a santa da capela do Gentil Bittencourt, um tradicional colégio de freiras da capital paraense, donde tradicionalmente sai a trasladação. Representada pelo ator e diretor teatral Dário Jaime, Tota rouba a imagem da Virgem e a cena da peça em vários momentos, pela irreverência e simpatia que Dário lhe imprime. O ator é paraense da Vigia, faz teatro há 12 anos e não é a primeira vez em que atua na montagem de um texto literário. Professor de Língua Portuguesa, ele entende perfeitamente bem a fortuna literária que é o texto de Ópera Profano. Também contextualizou Tota, com a ajuda do próprio Carlos Correia Santos, e mergulhou no processo caótico da personagem, o que o ajudou bastante a lhe dar vida. Questionador e ousado, Dário Jaime parece haver feito uma Tota meio à revelia da direção do espetáculo, no exercício pleno de sua liberdade artística.

O também professor e ator Fábio Tavares é quem vive a personagem Mira, travesti cinquentona que representa, ao lado de Nossa Senhora, o papel social das mães. Só que Mira é o lado ideologizado desta função materna, que tanto fora combatido pelo saudoso psiquiatra José Ângelo Gaiarsa. Formado em teatro desde 2008, Fábio Tavares vive, na verdade, três personagens em cena. Em dois deles exerce sua formação em canto lírico pela UEPA. Além da travesti Mira, ele vive a mãe de Baby, num retrocesso temporal, e o lado masculino de Mira, que não pudera exercer seu lado materno na paternidade. Trata-se de personagens tranquilos e equilibrados, mas Mira tem um lado malicioso e uma habilidade de dançar que também encantam o público.

O garoto de programa Lucas é vivido pelo ator Rafael Feitosa, estudante da Escola de Teatro e Dança da UFPA e dançarino da Banda Cheiro Verde, Rafael tem um corpo escultural e protagoniza duas das mais polêmicas cenas da peça, a do beijo gay e a do nu frontal masculino. Apesar disso, Rafael explica que o mais difícil é cuspir na imagem de Nossa Senhora de Nazaré em cena. Ele se declara católico e desabafa o quanto é difícil, sendo devoto de Nossa Senhora, fazer um personagem que considera mais santas as angústias que tem na alma. Apesar dessa dificuldade, desde a primeira cena, em que Lucas apresenta-se ao público como o corpo que é “cama para se deitar qualquer”, Rafael Feitosa demonstra realmente que cultivou a alma do personagem.

A grande revelação desta primeira montagem de Ópera Profano é o ator Tiago de Pinho, que vive Ângelo, um gay no armário, apaixonado por Lucas. Estudante de classe média que representa os puros que querem “gozar rápido e sem compromisso”, Ângelo reproduz o discurso hipócrita de quem depende da aprovação dos outros, é dominado pelo medo e por uma insegurança devastadora que corroi sua auto-confiança. O ator que vive Ângelo não tinha experiência teatral nenhuma, inscreveu-se para participar dos testes de seleção para a formação do elenco e ganhou o papel. Seu desempenho em cena e o feedback empático do público não só testificam a sacada de Carlos Correia Santos em se inspirar na realidade, para reproduzir esses tipos sociais, como também derruba por terra o mito das sistematizações acadêmicas como pré-requisito único para a práxis.

Com a devida autorização do autor, os diretores da montagem defendem um teatro musical, uma coexistência entre poesia e música, bem ao modo do que aconteceu na literatura lusa até meados do século XV e que a indústria cultural contemporânea, sobretudo a paraense, parece ignorar. Os atores entoam 17 canções em cena, assessorados pela sonoplastia de Ramón Rivera e Armando de Mendonça, que chegaram a um consenso no processo de criação de melodias, a partir de formações clássicas em instrumentos de corda. O espetáculo também conta com a participação especial da companhia Mirai, na composição das coreografias, e estará em cartaz até domingo, sempre às 20h00, com entrada a 10,00 (dez reais).

O TOM CARINHOSO DE JOANA VIEIRA











Abaixo, artigo publicado por Joana Vieira, professora de um dos maiores centros educacionais do Pará, sobre ÓPERA PROFANO.

TEATRO DE QUALIDADE AQUI EMBAIXO DAS ÁRVORES DE MANGAS...

Fui ao teatro na maior expectativa do mundo depois de ter lido e ouvido tantas “críticas” e comentários sobre a peça teatral “ÓPERA PROFANO”. Gosto de teatro e desde sempre sou apaixonada pela cultura de palco paraense, pena que tão poucas peças sejam divulgadas e tantos lugares fiquem vazios, deixando o trabalho dos artistas locais perderem um pouco do seu brio. Já conheço todos os palcos e cortinas da capital, assisti a uma dezena de peças e nunca sai de uma tão chocada e pensativa. Quem é esse menino que escreveu este texto tão ousado e desafiador? De onde surgiram aqueles atores todos tão certos e perfeitos em seus papéis? Que grupo era aquele que entoava ao vivo e tão belo em sua sintonia com a voz cortante e doce dos atores cantores da peça? Que teatro é esse no seio da capital paraense que, de tão profissional, faz a gente ir às lágrimas num êxtase tão humano e irreal?

ÓPERA PROFANO mexeu comigo. Me fez tremer por dentro. Uma catarse geral. Um clímax extremo... uma ânsia de vômito danada! ÓPERA PROFANO foi a peça mais sinestésica que já assisti – é uma encenação com gosto – de ira – com cheiro – de dor - e provocou em mim uma sensação terrível de que eu havia perdido tempo – por que não estive aqui antes? Como eu consegui perder a primeira temporada? A peça – sinceramente – IMPERDÍVEL! SURPREENDENTE e ABSURDAMENTE ENGRAÇADA!!! Dá orgulho em saber que aquele trabalho é papa chibé. Causa uma felicidade extrema saber que os participantes são nossos e que vivem aqui entre nós por entre galhos de mangueiras. Estou sem palavras e quando algo cala uma professora de língua portuguesa é porque realmente valeu a pena.

Sem contar que fui muito bem recebida por lá. Cheguei ao Schivasappa às sete para tentar fazer as entrevistas e os atores e diretores já estavam todos com a mão na massa. A peça tem um cenário simples, mas uma maquiagem impecável. Tive acesso ao processo todo e conversei com todo mundo lá no camarim.

ÓPERA PROFANO conseguiu selecionar um conjunto de nomes jovens e bons da dramaturgia paraense como Tiago de Pinho, Fábio Tavares, Dário Jaime e Cacau Novais e outros mais conhecidos e experientes como Marlene Silva, Leonardo Bahia e o meu querido amigo Léo Meneses, que, além de ator, é cantor competentíssimo da noite belenense.

A direção geral tem a assinatura do Guál Dídimo, um menino muito jovem e com um currículo abarrotado de boas críticas e excelentes trabalhos e a assinatura da criação do texto – que por sinal é impressionante, metafórico e ambíguo – é de autoria do Carlos Correia Santos, um jovem dramaturgo que coleciona elogios até da mídia nacional e que atualmente está com duas peças em cartaz – esta e outra encenada no CCBBEU – É mole?!

O texto, cantado em forma de ópera popular, é de uma sutileza e criatividade absurda. A começar pela ambigüidade do termo ÓPERA PROFANO, que gera um duplo sentido de pura intencionalidade – não se sabe se é ópera porque é cantado, porque é trágico, porque é cômico ou porque, de forma criativa e paradoxal – o termo faz uma referência direta ao Cine Ópera – uma alusão à pura cultura paraense e à história patrimonial e predial do nosso Estado. É preciso ser paraense pra se encantar, mas é necessário também ter pulso pra engolir que o texto é fictício, porém adentra as nossas entranhas particulares – quer pelo sentimento de repulsa aos que são contrários ao culto da Virgem de Nazaré, quer seja por esse nó engasgado na garganta daqueles que sofrem a lástima da homofobia. O profano, metaforizado pelo cinema que se tornou famoso pelas sessões de filmes pornográficos, foi contrastado pelo religioso metaforizado na imagem da Virgem, que foi roubada em pleno momento do Círio, e outras vezes pela citação da Basílica retomada várias vezes na voz de guilhotina afiada dos atores-cantores. UM ESPETÁCULO aos nossos olhos, um recado certeiro aos que têm ou não fé na Santa e na vida – na salvação do corpo na excelência da carne. ÓPERA PROFANO é revoltante e ao mesmo tempo estimulante – um jogo de imagens entre a vida real e a inventada nos palcos que faz a gente, no mínimo, sair do teatro com aquela sensação de que o texto por si só já disse absolutamente tudo.
Aí, meu DEUS!!!

Uma observação que preciso fazer, porque realmente também mexeu muito comigo foi a participação do cantor, ator, funcionário público e amigo Léo Meneses. Gente, pelo amor de Deus, o que foi aquilo? O Léozito arrasou na sua atuação na pele do travesti Baby – aidético em fase terminal e que é o centro das peripécias da trama. O Léo se entregou ao papel com um afinco de orgulhar qualquer pessoa que o conhece...

FICOU LINDO! Espetacular, irreconhecível... Aquilo não era uma personagem era um grito de realidade, um exemplo de que a vida se confunde com a arte e que a vida é a própria arte!!! Já acompanho o Léo desde muito tempo e fiquei super feliz em vê-lo ali tão doado, tão gigante tão abrilhantado... TE AMO, meu anjo, e não é puxasaquismo, não, é só uma consideração de uma das pessoas que estava na plateia e viu que você fez a diferença!

MUITO LINDO!!!Parabéns, gente! Só agora entendo porque quando pus o nome da obra no Google vieram tantos comentários...

SEM MAIS... O resto? Só indo ao teatro hoje que é o dia da última sessão dessa segunda temporada em cartaz.

Valeu, gente. Obrigada, Guál. Parabéns, Carlos! E um forte abraço aos demais...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

CONVITE - CELINA...




Ofício: POESIA.

No dia 11 de dezembro, às 18h, no Instituto de Artes do Pará (IAP), a poesia será o centro de um acontecimento voltado à sua celebração. O lançamento do livro “celina...”, do poeta e artista plástico Marcílio Costa.


“celina...” recebeu o prêmio da Academia Paraense de Letras (categoria: poesia). O livro chamou a atenção de grandes nomes da literatura brasileira, dentre eles: Paulo Henriques Britto(poeta e tradutor de Elisabeth Bishop e vencedor do Prêmio Portugal Telecom), Antônio Moura (poeta e tradutor de jean-Joseph Rabearivelo), João de Jesus Paes Loureiro (poeta que recebeu o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA) e Vicente Franz Cecim ( escritor e vencedor do Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA) e Amarlís Tupiassu (crítica literária, professora da UFPA e UNAMA).

Marcílio Costa é um dos mais expressivos nomes da atual poesia feita em nossa região. Seus poemas já foram publicados em várias antologias e revistas de poesia por todo o Brasil. Em 2009 o poeta foi comtemplado com a Bolsa FUNARTE de Criação literária, o mais importante e concorrido prêmio para a criação no território nacional, pelo projeto da obra poética “Todas as Ruas”. Recentemente ganhou o Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura – 2010(categoria: poesia) pelo livro “depois da sede” e Menção Honrosa na última edição do Prêmio Escriba de Poesia (Piracicaba - SP).

Como artista visual, Marcílio deixa sua marca como poeta nos trabalhos que realiza ou participa. É o caso do curta de animação “Muragens: crônicas de um muro” de 2008, em que Marcílio co-dirigiu e escreveu o roteiro final. Dirigido por Andrei Miralha, o filme foi o primeiro curta de animação paraense selecionado para a mostra competitiva do ANIMA MUNDI e já correu o mundo sendo, também, selecionado para festivais como o ANIMAZIVO no México e o MONSTRA em Portugal.

Atualmente vem desenvolvendo projetos de intervenções públicas com o artista plástico Ednaldo Britto e estão preparando para o próximo ano a exposição de gravura-instalação entitulada “TRAMPO”.

ÓPERA PROFANO - O Musical (maquiagem)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ÓPERA PROFANO VOLTA AO PALCO ENGAJADO A AÇÃO SOCIAL


Metade da bilheteria obtida no primeiro dia da nova temporada do musical será doada ao Comitê Arte pela Vida para tratamento de soropositivos

A idéia de unir provocativamente num mesmo altar travestis, garotos de programa e Nossa Senhora abriu portas para debates e encontrou reações das mais diversas no público. Tudo isso graças ao espetáculo musical “Ópera Profano”. Depois de uma bem sucedida primeira temporada em plena quadra nazarena, a obra criada pelo dramaturgo Carlos Correia Santos e dirigida por Guál Dídimo e Haroldo França volta ao cartaz a partir desta quinta-feira, 25, às 20h, no teatro Margarida Schivasappa, no Centur, e poderá ser vista até o domingo, dia 28. A produção retorna ao palco engajada a uma campanha social. Graças a uma parceria firmada com o Comitê Arte pela Vida, metade da renda obtida com a bilheteria do primeiro dia desta nova temporada será doada a ações de auxílio no tratamento de portadores do HIV. Além do comitê, o espetáculo conta com o apoio de Pink Android, João Ramid, Nelson Borges Make Up, Ponto Zero e Pará Diversidade.

As primeiras apresentações do musical, em outubro, despertaram tanta curiosidade que renderam, em poucas semanas, mais de quatro mil e quinhentas citações no Google e se tornaram um dos assuntos mais comentados por internautas paraenses no Twitter. A repercussão também inspirou o professor e crítico literário Helder Bentes a montar, com alunos da rede pública de ensino, uma versão da peça com cunho pedagógico, adaptada para menores e idealizada para ser apresentada em escolas e eventos estudantis.

CONJUNTURA

O retorno do espetáculo aos holofotes coincide com um período em que vários casos de intolerância contra homossexuais têm sido denunciados na mídia. Para o elenco da montagem, “Ópera Profano” pode servir de ferramenta capaz de manter o debate aceso e auxiliar o público a encarar seus preconceitos. “Acredito que a arte tem o papel fundamental de 'ajudar a ver'. O espetáculo trata com naturalidade de questões que ainda parecem estranhas aos olhos de grande parte da sociedade. Sinto-me feliz de participar de uma iniciativa artística que pode ajudar a mudar isso”, afirma a cantora e atriz Cacau Novais, que vive Nossa Senhora de Nazaré.

Na trama de Carlos Correia Santos, o travesti Tota furta a imagem da Santa antes do início da Trasladação e a leva para um tradicional cinema de filmes pornográficos que, ironicamente, fica bem em frente à Basílica Santuário. Tota quer realizar o sonho de sua colega travesti Baby, que luta, dentro do cinema, contra as complicações decorrentes do HIV e sonha em se aproximar de Nossa Senhora. Também fazem parte do drama o ríspido garoto de programa Lucas, o jovem de classe média Ângelo, o decadente travesti Mira e três misteriosas figuras.

Intérprete de Tota, o ator Dário Jaime acredita que o grande mérito da peça é dar uma perspectiva nova para os dilemas da religiosidade: “Acima de tudo, falamos do sagrado e de como nós nos relacionamos com ele. A maior problemática nesse sentido é que, ainda hoje, as pessoas não respeitam a individualidade, as particularidades de cada um. A sociedade ainda quer padronizar a fé. Tudo o que está fora dos parâmetros ditos aceitáveis é motivo de incomodo e é isso que, pessoalmente, me motiva como cidadão a estar nesse trabalho”.

“O enredo é libertador, provocativo, intenso, reconfortante. Fala de valores tradicionais que poucas vezes questionamos. Impossível não se chocar com a cena em que sombras violentam um personagem. E tem ainda as canções. Versos fortes, doces, sobre a vida e a morte”, explica o ator e cantor Tiago de Pinho, que encarna Ângelo, um estudante que freqüenta o Cine Ópera sem que sua conservadora família suspeite.

O ator Rafael Feitosa não esconde que ficou tenso ao aceitar o convite para participar do musical. “Quando li a obra, tive medo do meu personagem. Faço um garoto de programa chamado Lucas que foi machucado e perdeu toda a fé. Sou de família muito religiosa e a dramaturgia mexeu comigo. Para que se tenha uma idéia, não acho difíceis as cenas de nudez e beijo gay. As cenas mais árduas para mim são aquelas nas quais o Lucas blasfema”.

Responsável por dar corpo ao travesti Mira, o cantor e ator Fábio Tavares defende uma visão humanista: “Minha personagem mostra, acima de tudo, que os travestis são seres humanos. São pessoas que amam, têm suas crenças. Penso que conseguimos fazer a platéia ver que a questão da homossexualidade é simplesmente um segundo plano. Não é determinante para o caráter de ninguém. O foco principal é a fé. Que pode estar em toda e qualquer pessoa”.

Léo Meneses, que faz o personagem Baby, já intuía os frutos que a montagem poderia colher: “Consigo perceber claramente a diferença entre o Léo de antes e de depois desse trabalho. Mas isso não me espanta. Desde a primeira leitura do texto, nós do elenco já tínhamos um indicativo do que o público sentiria. É muito bom estar num projeto que pode auxiliar a humanizar e desembrutecer. Vida longa ao Ópera Profano!”.

Serviço: Ópera Profano – O Musical. De 25 a 28 de novembro, às 20h, no Teatro Margarida Schivasappa, no Centur. Ingressos: R$ 20,00 com meia para estudantes. Apoio: Comitê Arte pela Vida, Pink Android, João Ramid, Nelson Borges Make Up, Ponto Zero e Pará Diversidade. Mais informações em www.operaprofano.com.br

HELDER BENTES E O BRADO PELOS AUTORES VIVOS


Cena da montagem escolar de Ópera Profano, dirigida por Helder Bentes


Reproduzo aqui artigo do professor e crítico literário Helder Bentes publicado em sua coluna no Portal ORM

Os autores devem ser reconhecidos em vida

Dentre os muitos comentários maldosos que ouvi por ocasião da estreia de minha versão de ÓPERA PROFANO para adolescentes, houve um que merece resposta. Ei-la:

Além de venerar a obra do escritor Carlos Correia Santos, sou seu amigo. Amizade esta que nasceu da paixão comum que temos pela literatura. Não tenho culpa se há autores paraenses que não divulgam seu trabalho. Desde que assino esta coluna no Portal ORM, recebo trabalhos de escritores (e pretensos escritores também!) do mundo inteiro. Mas, por incrível que pareça, daqui do norte do Brasil, Carlos Correia Santos é o único que me mantém informado a respeito de sua produção.

Penso que os escritores paraenses são muito espertos para escrever, mas muito acomodados para divulgar suas produções. Depois ficam curtindo ciuminhos sem sentido. Parecem alguns professores da academia que produzem conhecimento e ficam em suas cátedras, esperando que a imprensa vá até lá. Como, se eles não mostram nem seus trabalhos, nem suas caras?
Cada vez mais a imprensa está se popularizando por causa da falta de iniciação artística e intelectual do povão, e a elite letrada do Estado fica se deleitando em devaneios de titulação acadêmica e ciuminhos que nada têm a ver com os efeitos purgativos da arte.

Penso que artista de verdade se envaidece com sabedoria. Uma vaidade saudável de quem tem consciência do bem que faz à humanidade com sua arte e sabe administrar esta vaidade até a zona que a separa do ridículo, pois vaidade é não ter falsa modéstia. Ser humilde é o oposto de humilhar, e o orgulho saudável é o de se saber útil. Afinal, ninguém foi criado para a inutilidade.

Seria por isso que a gente sofre de um câncer cultural que só reconhece a utilidade de quem já morreu? Outro dia fui convidado por uma emissora de TV a dar uma entrevista sobre a vida e a obra do poeta Haroldo Maranhão. Ao me preparar para esta entrevista, revirando meus arquivos sobre o poeta, lembrei-me de que a primeira obra que li de Haroldo Maranhão foi a novela Miguel Miguel, quando esta foi leitura obrigatória de vestibular.

Haroldo Maranhão morreu em 2004, mas começou a publicar em 1968, e posso apostar minha modesta biblioteca, sem medo de perdê-la, que o povo paraense ouviu falar mais de Haroldo Maranhão depois que ele morreu. Nada contra as homenagens póstumas, pois todo escritor imortaliza-se pelo legado literário produzido em vida, mas por que nossos autores parecem ter uma autoestima tão baixa a ponto de não ousarem divulgar seus trabalhos? Parece haver uma dinâmica contrária à leitura como pano de fundo desse elogio póstumo.

Em 1968 não havia recursos digitais que facilitassem o acesso à informação, e as condições políticas do Brasil também não facilitavam este acesso, mas a arte era a válvula de escape contra a censura.

Certa noite, ouvindo Chico Buarque sob o efeito de um bom vinho, pensei que a ditadura foi um bom mote para o desenvolvimento da veia artística. Até viajei! Já pensou se a elite intelectual e artística deste país fizesse uma ditadura contra a indústria cultural que censura a arte verdadeira? Muita gente que se pretende artista seria artista de fato e de direito.

Em 1968, algumas pessoas liam. A maioria não. Será que o processo educacional acompanhou a tecnologia? Se o acesso à informação é mais fácil hoje, por que a maioria continua não lendo? De quem é a culpa?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

TEATRO LUTA CONTRA PRECONCEITOS EM ESCOLA PÚBLICA



Como parte de projeto pedagógico, alunos montam espetáculo teatral que aborda temáticas delicadas

Uma peça de teatro cujo enredo expõe os preconceitos e vulnerabilidades a que estão sujeitos travestis e garotos de programa, a hipocrisia de quem os discrimina, mas explora a baixa autoestima dessas pessoas e as condições criadas para que não lhes reste outra escolha além da prostituição. Tudo isso como culminância de pesquisas sobre dramaturgia, trabalhando o respeito às diferenças, em uma escola pública de ensino fundamental.

No próximo dia 17 de novembro, a Escola Nedaulino Vianna da Silveira, localizada em Ananindeua, realizará sua Feira da Leitura 2010, com o tema Contação de histórias: lendo o mundo através de histórias reais ou fictícias. Todas as turmas da escola são coordenadas por dois professores que decidiram democraticamente um sub-tema, a partir deste tema gerador, e fizeram pesquisas cujos resultados serão mostrados à comunidade na Feira da Leitura. Trata-se de um evento de difusão do conhecimento produzido na escola pelos próprios alunos.

Para este ano, os professores Helder Bentes, de Língua Portuguesa, e Enilce Chagas, de Matemática, coordenando uma turma de adolescentes da 8ª série, propuseram o sub-tema Ópera Profano – a dramaturgia como leitura de fatos sociais ignorados pela ideologia dominante. Os alunos estudaram a origem e evolução do teatro, a cosmovisão teatral e as peculiaridades de uma composição dramática, tendo como recurso a obra do premiado dramaturgo Carlos Correia Santos.

A peça Ópera Profano é um musical e sua primeira montagem profissional estreou em Belém em outubro deste ano, sob a direção de Guál Dídimo e Haroldo França. O cenário da trama de Correia é o Cine Ópera, um cinema que exibe filmes de sexo explícito e que é ponto de prostituição frequentado por travestis, garotos de programa e homossexuais de classe média. O mote da peça é o sonho de uma travesti contaminada pelo HIV, que agoniza na véspera do Círio de Nazaré, na hora da trasladação, e não quer morrer sem antes ver a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Uma outra travesti rouba a imagem da Capela do Colégio Gentil Bittencourt e a leva para dentro do Cine Ópera, onde a santa tenta entender o porquê das causas da vida pregressa de cada uma das personagens e descobre que os traumas e complexos sofridos ao longo de suas vidas foram os grandes responsáveis pelos condicionamentos que os levaram à prostituição.

A primeira versão da montagem – que estará novamente em cartaz, de 25 a 28 de novembro, no teatro Margarida Schivasappa, sempre às 20h00 – é imprópria para menores. Mas, na versão montada pelos alunos da Nedaulino Vianna, com a devida autorização do autor, foram cortadas as cenas impactantes, em obediência às determinações do ECA.

“O texto é literário e tem um forte potencial didático” – explica o professor Helder Bentes, que também é colunista de literatura do portal ORM e autor do prefácio da primeira publicação em livro de Ópera Profano, quando o texto foi contemplado com o prêmio literário Cidade de Manaus, em 2007, pela editora Muiraquitã. “Procuramos nos concentrar nas questões relativas à dramaturgia, não como um fenômeno literário separado de outros gêneros e muito menos ultrapassado. Também por isso quisemos explorar o potencial de transversalidade temática desta obra do paraense Carlos Correia Santos, já que a LDB amplia em vários acontecimentos da vida social os processos formativos e prevê uma educação inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana”, explica o professor.

Helder Bentes afirma que não se pode falar em desenvolvimento pleno do educando e seu preparo para o exercício da cidadania, se a escola não discutir também as questões propostas no texto de Ópera Profano. “Bullying, violência, abuso e desorientação sexual, uso de drogas, alcoolismo, homofobia, síndromes, transtornos e conflitos, que geralmente têm origem na família, fazem parte do cotidiano de nossos alunos e, de alguma maneira, se refletem negativamente no rendimento escolar e na qualidade de nosso trabalho”, afirma.

Segundo ele, a escola precisa sair dessa inércia e substituir os recursos ingênuos e ideologizados por outros que possam competir com os atuais recursos de comunicação digital que exercem influência desordenada e maléfica sobre os alunos. “E o pior é que, numa época em que alunos adolescentes fazem vídeos pornôs nos banheiros e até nas salas de aula de escolas públicas, ainda temos pais e professores que, sem sequer conhecerem o enredo da peça, acham a temática de Ópera Profano muito ‘pesada’ para adolescentes, só porque ouviram falar que há personagens travestis na trama”, desabafa o professor, que precisou negociar a participação de alunos em atividades de outras turmas, para atender a tutores que se negaram a autorizar seus filhos a participarem de uma peça sobre gays, a despeito de todo o trabalho de conscientização, baseado no ECA e na LDB, que foi feito junto à comunidade escolar, para justificar a pertinência da atividade. Trabalho este que, segundo o professor, seria desnecessário, se a escola e a familia educassem para a cidadania e o respeito às diferenças.

A iniciativa dos alunos da Nedaulino Vianna mobilizou o elenco da primeira montagem de Ópera Profano, que se solidarizou com a causa e foi pessoalmente à escola conhecê-los e lhes ministrar gratuitamente oficinas de formação de atores. Também o autor da peça os recebeu em sua casa, e os professores Helder Bentes e Edivaldo Andrade os levaram ao teatro, para assistirem a Bento Bruno, outra peça de Carlos Correia Santos, montada pelo grupo cênico da Fundação Curro Velho. A Escola Isabel Amazonas, também de Ananindeua, apoiou a iniciativa emprestando equipamentos de iluminação e instrumentos musicais, além de estudantes das oficinas de percussão do Projeto Mais Educação, para ajudarem na composição da sonoplastia, e a turma da 8ª série do Nedau, como é popularmente conhecida a Escola Nedaulino Vianna na Cidade Nova, foi dividida em equipes de figurino, cenário, iluminação, sonoplastia e infraestrutura, para garantir a montagem do espetáculo, que já tem outras apresentações agendadas para depois da estréia, às 16h30 da próxima quarta (17), no teatro da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, na Cidade Nova IV.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

PALCO DO CCBEU VIRA SOLO DE MARAJÓ

O espetáculo teatral “Solo de Marajó” estreia no teatro do CCBEU nesta sexta-feira, dia 12, para uma nova temporada de três finais de semana, que prossegue até o dia 28, sempre de sexta a domingo, às 21 horas. Em cena, o ator Cláudio Barros narra sozinho, e com um mínimo de recursos cênicos, cinco pequenas histórias extraídas do romance “Marajó”, o segundo da saga amazônica escrita pelo paraense Dalcídio Jurandir.

O espetáculo estreou no ano passado durante a Feira Panamazônica do Livro e depois fez temporada no Cine Teatro Líbero Luxardo, do Centur. A montagem tem direção de Alberto Silva Neto, dramaturgia de Carlos Correia Santos, assistência de direção de Papi Nunes, cenografia de Nando Lima, iluminação de Tarik Coelho e produção executiva de Sandra Condurú.

No início do processo, Cláudio, Alberto e Carlos resolveram escolher fragmentos do romance que possuíssem estrutura narrativa e personagens interessantes. De nove trechos selecionados inicialmente, cinco compuseram a dramaturgia final do espetáculo. São histórias que transitam do lirismo à crueldade, revelando um retrato multifacetado das relações humanas de quem vive mergulhado nos confins da Amazônia.


“Solo de Marajó” é um espetáculo simples, no qual a cenografia, a iluminação e o figurino são neutros e buscam ressaltar a presença do ator, o elemento mais importante desta encenação. Para criar este solo e narrar as histórias ficcionais de Dalcídio, Cláudio Barros partiu de um repertório de ações físicas que resultaram do ato de contar histórias pessoais e também gerou ações e sonoridades induzidas por descrições de lugares, sons e cheiros contidas na obra.
DALCÍDIO JURANDIR – Criador do Ciclo do Extremo Norte, conjunto de romances que retratam a realidade social do homem da Amazônia, Dalcídio Jurandir nasceu na Vila de Ponta de Pedras, Ilha do Marajó (PA), em 10 de janeiro de 1909, filho de Alfredo Pereira e Margarida Ramos. Em 1927, viajou para o Rio de Janeiro, a bordo do navio Duque de Caxias. Na capital carioca, enfrentou várias dificuldades. Foi lavador de pratos no Café e Restaurante São Silvestre. Conseguiu, após um breve tempo, o lugar de revisor, sem remuneração, na revista "Fon-Fon". Voltou a Belém no mesmo navio, tendo aproveitado a viagem para ler livros de clássicos portugueses e de poetas nacionais.


Em 1940, foi agraciado com o Prêmio Dom Casmurro de Literatura, concedido pelo jornal de mesmo nome e pela Editora Vecchi, com o romance "Chove nos Campos de Cachoeira". Faziam parte do júri, entre outros, Oswald de Andrade, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Álvaro Moreira. Em 1945 e 1946, fez parte da redação do jornal “Tribuna Popular” e colaborou nos periódicos “O Jornal”, “A classe operária” e na revista “O Cruzeiro”. No ano seguinte, o livro “Marajó” foi editado pela Livraria José Olympio Editora. Em 1972, a Academia Brasileira de Letras concedeu ao autor o Prêmio Machado de Assis de Literatura, pelo conjunto de sua obra, que lhe foi entregue por Jorge Amado. No dia 16 de junho de 1979, o escritor faleceu na cidade do Rio de Janeiro.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

UM POUCO DAS CONFISSÕES DE ENEIDA...






ENEIDA: A única coisa que posso, quero e vou confessar é que não nasci com amarras nos pés nem na alma... Sempre tive despejada dentro de mim a imensidão do mundo... Eu não cabia num só lugar e por isso jamais admitirei ser condenada...

As posturas das outras duas mudam. Elas se tornam pesarosas.

LEMBRANÇA: Não te dói pensar no que deixaste para trás?

ENEIDA 03 (lutando para controlar a emoção): A vida toda eu só tive dentro de mim a dor imensa de querer o que estava a minha frente...

MEMÓRIA: E a tua frente, em momento algum, projetava-se a imagem do que havias abandonado...

ENEIDA 03: Eu nasci abandonada à condição de romper prisões...

LEMBRANÇA: E, ainda assim, a vida só te destinou grades...

MEMÓRIA: Grades e mais grades...

ENEIDA 03 (tapando os ouvidos e baixando a cabeça): Não... Fere-me lembrar...

Numa nova mudança de postura, as outras duas tiram de seus bolsos algemas e partem de novo para cima de ENEIDA. Elas tentam pegar os punhos da personagem principal, mas ele resiste se esquiva

MEMÓRIA (impiedosa): Foi o que viveste... Tens que descer a esse porão...

ENEIDA (lutando para escapar): A dor ainda é muita... Não quero...

LEMBRANÇA: Querer? O querer não é liberdade que te pertença mais. Tua cadeia é o ter... Ter que reviver...

ENEIDA (debatendo-se): Não quero... Não quero...

MEMÓRIA: Mas tens...

As duas torturadoras põem as algemas nos punhos de ENEIDA 03 e nos seus próprios. As três, então, ficam atadas uma a outra. A atriz que faz ENEIDA 03 fica no centro. As luzes baixam e se inicia um novo jogo. Numa dinâmica angustiante, as atrizes que estão nas extremidades começam a puxar ENEIDA ora para um lado, ora para o outro. Letárgica, ela se deixa ir para lá e para cá. Parece alguém que apanhou e está enfraquecida. Inicia-se, portanto, uma sequência inspirada na crônica COMPANHEIRAS:

LEMBRANÇA: Éramos vinte e cinco mulheres presas políticas numa sala da Casa de Detenção, Pavilhão dos Primários...

MEMÓRIA: 1935, 1936, 1937, 1938...

LEMBRANÇA: Quem já esqueceu o sombrio fascismo do Estado Novo com seus crimes, perseguições, assassinatos, desaparecimentos, torturas?

MEMÓRIA: Vinte e cinco mulheres, vinte e cinco camas, vinte e cinco milhões de problemas...
TRECHO DA DRAMATURGIA DE "EU ME CONFESSO ENEIDA", OBRA VENCEDORA DO PRÊMIO CLÁUDIO BARRADAS. EM BREVE NOS PALCOS.

domingo, 24 de outubro de 2010

A RIBALTA JÁ PEDE AS CONFISSÕES DE ENEIDA



Registros do ensaio aberto do espetáculo EU ME CONFESSO ENEIDA.



Dramaturgia minha. Direção geral de Edson Chagas.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O PONTO DE VISTA DIRETO E CONTUNDENTE DE MATEUS MOURA

Segue abaixo texto sem rodeios do jovem cineasta Mateus Moura. Opinião nua e crua sobre o nosso Ópera.

Esses viados são uns filhos da puta!

Mateus Moura

Sempre pra escrever de teatro eu penso 2 vezes, não conheço muito da História da Crítica ou mesmo da História do Teatro. Mas decidi pelo menos registrar minha admiração pelo musical que assisti na semana passada no Teatro Cláudio Barradas.
Esse blog pode parecer meio machista às vezes, e às vezes realmente o é, mas que fique registrada a minha admiração pelos gays, no campo da arte principalmente, mas também em todos os outros campos. Tem uns viados que são fodas.

O Dirty Harry falava que ele não tinha preconceito: ele odiava todo mundo... ensinou o meu caminho da libertação: desconfio de todo mundo. Outro dia, de frase em frase, chegou-se no dito, que em breve será popular, que “toda relação é bissexual”. Duvido alguém discordar – é fato: todo mundo é masculino e feminino.

O OPERA PROFANO, dramaturgia do Carlos Correia Santos, dirigido pelo Haroldo França e o Guál Dídimo, só não deve ter os músicos de homossexuais – entretanto sabemos que a música é a mais feminina das artes, e como o Ramon Rivera e o Armando Mendonça fizeram uns arranjos geniais, temos certeza que este lado é realmente aflorado neles, não há dúvidas.

Não me entendam mal os aponta-dedos da sociedade, não to mal-falando ninguém, pelo contrário, to tentando estabelecer o lugar cínico da arte na guerra dos sexos.
Quem tentar procurar defeito no OPERA é um enrustido! Um diamante é lapidado a cada ensaio. Um diamante concebido por Carlos Correia, dirigido por Haroldo e Guál, musicado por Ramon e Armando, e encenado por um grupo de atores iluminados.
To falando de inteligência de construção, sensibilidade poética, trabalho coletivo – é quase como o Círio: profano, sagrado, erótico, sublime, vulgar, belo, pesado, leve, tradicional, revolucionário, poderoso, suave. É uma opera!

Atmosferas.

As cenas cômicas são extremamente bem colocadas (corajosas). Mas foram as dramáticas que me marcaram: o estupro das sombras foi uma das coisas mais lindas que eu já vi, e a mise-en-scène do imenso bloco final me fez levantar da cadeira de tão esplendorosa: o quadro de Baby – o profano ser – nos braços – como Pietá – da escória; a santa com foco de luz próprio em primeiro plano, a entrada da Trindade, o ritual de benção; o que tenho a dizer é uma só palavra: Conseguiram.

OPERA PROFANUM.

No epílogo: a navalhada.

Se esse espetáculo não rodar o mundo, ele é realmente injusto. Vida longa...

A VISÃO DE ORLANDO SIMÕES PARA O PROFANO SER

Abaixo, novo texto sobre o espetáculo ÓPERA PROFANO. A opinião crítica agora é de Orlando Simões e foi baseada na apresentação de estreia da peça. O texto foi publicado no site Ponto Zero

Ópera Profano: Redenção...

É impossível existir um paraense que não viva os dois lados das celebrações do Círio de Nazaré, uma das maiores manifestações da fé católica no mundo todo. Claro que falo do lado sagrado e do lado profano da manifestação, não só de fé, mas de cultura também. No teatro não poderia ser diferente.

Vamos por partes. A primeira delas é desmistificar a palavra profano como sendo algo ruim, péssimo e pervertido. Profano é tão somente aquilo que está fora do templo religioso, em frente ao local de adoração, um assunto que não é religioso simplesmente é profano, não é ruim, amaldiçoado, só não é religioso como falar de moda, de sexo, de futebol, de festas, de dança, simplesmente profano. Claro, ao longo dos anos a palavra se impregnou de mais sentidos e todos pejorativos e carregados de carga negativa, entretanto profano é tudo aquilo que fazemos que não está dentro do sagrado, dependendo do que seja esse sagrado.

Talvez a melhor síntese para descrever o espetáculo teatral-musical Ópera Profano seja a síntese representada pela palavra metáfora. Metáfora entre vida e morte, luz e trevas, salvação e perdição, pecado e redenção, sagrado e profano. Eis aí a revelação que todos nós procuramos a vida toda e só nos chega nos momentos finais. A vida desperdiçada com os excessos da carne, com o corpo, com a matéria e com o excesso de profano... Veja: não só o profano pelo profano, mas o excesso de tudo que separa o corpo e a alma do sagrado, do santo, do divino, da luz, da salvação.

Em cena, a iluminação dramática cai como um fardo sobre o elenco que se rasteja abatido por ser composto de seres marginalizados, não criminosos, mas aqueles que vivem à margem da sociedade, do mundo, à margem de qualquer possibilidade de redenção, de perdão ou de auto-salvação. Luz e som são outros dois personagens em cena, sobem ao palco e dão seu show em cada pequeno ato que conta a história íntima e secreta das vidas desses personagens que já perderam tudo e todos e apenas uns nos outros se encontram e se identificam. No espetáculo não há a personificação do herói clássico e sua perfeição, só há personagens comuns, frágeis, imperfeitos, pecadores, marcados pelo peso da vida, pelas angustias e erros do passado e cada pequena história deste passado é uma resposta para o presente sórdido que se desenrola no cine Ópera, palco da trama e que abriga os personagens Tota, Baby, Mira, Lucas e Ângelo. Cada um derramando seus pequenos mundos e revelações sobre o público.

Em uma jogada de mestre, o próprio título da peça é uma grande metáfora entre a encenação musical da ópera e o cinema de filmes eróticos, Ópera, exatamente em frente à Basílica de Nazaré... Lembrem-se, profano, do lado de fora: Ópera Profano.

Luz e som são outros dois personagens em cena, sobem ao palco e dão seu show em cada pequeno ato que conta a história íntima e secreta das vidas desses personagens que já perderam tudo e todos e apenas uns nos outros se encontram e se identificam

Encontros e desencontros A solidariedade é uma das lições deixadas para nós...

O local onde o divino deveria se ausentar é onde se faz ainda mais presente a necessidade de salvação, onde há o pecado e a perdição, lá reside a necessidade de haver o encontro com o divino para expurgar pecados na superfície das almas ou nas suas mais escuras profundezas. É na presença inevitável da morte do travesti Baby que Tota furta a imagem da Virgem de Nazaré antes da transladação no sábado que antecede o Círio, deste ponto em diante tudo em cena é sagrado e profano, é pecado e redenção para cada pequena vida que se apoiava na luxúria, na raiva, na cobiça, na vaidade. Personagens à margem sim, mas que estão sempre ao alcance de nossa visão e tão humanos quanto qualquer um de nós. Demasiado humanos.

Redenção e salvação é um direito inegável para todos nós...Não há em Ópera Profano alivio para o peso dramático da morte que se aproxima do travesti Baby, sempre pontuada por visões do passado de cada criatura em cena, mas é na figura de Tota que reside alívio cômico, esperança, glamour e a vida resistente e persistente para roubar a imagem sagrada, levar até o local profano num gesto de amor e piedade pelo amigo, é na figura do deus ex machina das três personificações e seus questionamentos que entendemos o que levou tudo isso a ocorrer numa joga de mestre que desnuda de leve para o espectador a razão de se adentrar o Ópera Profano.

Brincar com as metáforas da luz e da música, jogar com o sagrado e o profano na festa do círio, é levar para onde está tudo perdido a oportunidade de salvação e deixar pairando sobre nós o fato de que a salvação é, sim, para todos nós, principalmente para aqueles à margem de todos os mundos.

No choque das histórias, das palavras, das ofensas e da violência contra o corpo e a alma o espetáculo se estende em suas melodias e sem percebermos toda essa violência dá lugar ao melancólico, ao triste, ao vazio e descobrimos que é no passado que habitam as respostas e as perguntas de cada infeliz criatura sob o teto do Ópera Profano. De história em história até chegarmos ao fim derradeiro de uma história que se repete diariamente nas vidas de milhões de devotos que são esquecidos pelo mundo carnal, mas eternamente lembrados pelo mundo do espírito e da alma. A lição que fica é a de que o perdão e a paz de espírito não são para uns poucos privilegiados, ambos são para todos.

Sobrevoa-se tanto o belo que se esquece que o horror também necessita de sobrevôos. Metáforas, ao contrário da salvação, não são para todos.

Fecham-se as cortinas.

Orlando Simões

É Designer de produtos e gráfico, desenhista e amante de Semiótica. Colunas de Design, Games, Quadrinhos, Literatura, Artes Cênicas, Cidade, Tecnologia e Cinema.


(http://www.pontozero.net.br/cenicas_operaprofano.php)