quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PEQUENA CARTA PARA MEUS IMENSOS MESTRES

Carlos Correia Santos

Hoje, subindo o elevador do prédio em que moro, coincidentemente encontrei minha Professora de Português no ensino médio (acho que nem se chama mais assim). Professora Amélia. Tão temida e tão respeitada quando eu era um garoto. Também por coincidência, eu trazia comigo um exemplar de VELAS NA TAPERA. Tive, então, uma das mais belas oportunidades da vida.

- Professora (sim, eu para sempre vou chamá-la desta linda forma), este é um dos meus livros...

- Eu sei, Carlos. Vi no jornal matéria a respeito.

- Pois bem, eu já lancei essa obra aqui, em outras cidades, em Portugal.

O riso amplo da mestra e sua confissão:

- Eu sei também. Fico tão feliz. Sempre que vejo notícias suas na mídia, falo: ele foi meu aluno. Tem gente que não acredita.

- Pois eu faço questão de sempre dizer para todo mundo: a sintaxe da minha literatura tem o carimbo da fantástica Professora Amélia.

Ela se emociona. Eu me emociono. Chega meu andar. Vou saindo. E ela:

- Parabéns por tudo, Carlos. Tenho muito orgulho mesmo de ter colaborado com tua história.

E eu:

- Obrigado por tudo, Professora Amélia. Infinito e imenso obrigado por tudo.

Por tudo... Por cada sílaba que me ensinou a escrever melhor. Por cada bronca em prol do melhor de mim. Por cada nota que deu para que hoje eu pudesse orquestrar meus textos. Por tudo.

Meus amados professores, obrigado a todos vocês. Permita-me Deus ainda encontrar um a um e agradecer. As mãos de todos vocês acarinham e dão rigor e precisão a minha quando escrevo. Sou um pouco do muito de vocês que segue páginas afora. Obrigado. Muito obrigado.

domingo, 18 de dezembro de 2011

APLAUSOS PARA O ESPETÁCULO DO TROPEÇO!




Carlos Correia Santos

Chegue-se. Tome seu lugar nessa vã e imensa casa de espetáculos que sãos os tempos atuais. Valha-se de seus doces porque o açúcar sempre atenua a dor. Acomode-se plenamente a contento e prepare-se para aplaudir, pois o espetáculo vai começar.

Espetáculo?

Qual?

O tropeço.

Sim, o tropeço. Eis o grande espetáculo que tanto ganha ovações, aplausos e fãs nos dias de hoje. O tropeço.

Prostram-se as massas diante de seus famigerados twitters e facebooks para ver quem caiu, quem desabou, quem ruiu. E assim se ri. O que se quer é rir. Gritar aos ventos todos dessa nau insanidade chamada internet. Gritar: aquele imbecil ali tropeçou. Caiamos como abutres sobre ele. Sim, façamos do clique bico de corvo para furar a carne daquela calma, afligir aquela alma. Lancemos o mouse sobre aquele que tropeçou e, qual ratos a despedaçar lixo (Ave, Chico Buarque), espalhemos tristeza e crueldade.

Em pensar que houve um tempo no qual compartilhar era apenas etimologia: partilhar com. Dividir o que de bom, o que de bem. Agora... Num compartilhar, compraz-se a infâmia. Compra-se intolerância. Vende-se a dignidade. Acha-se o pouco caso. Perde-se a paz de espírito.

Na plateia, o ávido espectador do tropeço, quando não encontra, caça. O fantoche da sanha geral, que baila sobre o fio da navalha diante da turba coberta pela burca do anonimato, tem que se estatelar, tem que se esborrachar. Ah, ele não fará seu número? Pois a turba o leva à lona. Assim, feito perdigueiros das bordas do apocalipse, os espectadores do tropeço dedicam-se a criar dramaturgias que derrubem.

E, nos meios dias, que se retuite a canalhice. Vivas. Milhões de vivas ao RT da bestialidade.

No entanto...

Tão no entanto...

Dos saltos ninguém fala. Para os saltos aplausos tão poucos... Não interessa festejar o que põe para frente. Aos acorrentados à mediocridade, pouco interessa celebrar o ir adiante.

E segue, desta feita, em cartaz o show do tropeço. O irônico é que as plateias se esquecem de algo divinamente poético. O espetáculo da vida é democrático. Você está aí nessa fétida plateia aplaudindo quem cai? Caindo na gargalhada? Aplausos para você. Amanhã o papel de protagonista, bebê, certamente há de ser seu.

CATIMBAS, CURIMBÓS E CANALHICES























Em dezembro, estreou em Belém meu primeiro espetáculo teatral escrito em parceria com o grande dramaturgo, diretor e ator Hudson Andrade. CATIMBAS, CURIMBÓS E CANALHICES faz uma bem humorada releitura sobre a chegada da família real ao Brasil. A primeira montagem tem assinatura do Grupo de Teatro da Unipop e direção de Alexandre Luz. Em janeiro, a comédia ganha nova temporada.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ESCOLA SANTA SOFIA - UM DIA PARA SEMPRE













Hoje, dia 16 de dezembro de 2011, vivi um dia que vai durar para sempre. Na minha alma, na minha verve, na minha emoção. Carro, barco, mais um pouco de carro e chego à Escola Santa Sofia, em Barcarena, cidade na região das ilhas em frente a Belém. Colégio com estrutura simples, necessitada de muito amparo. Mas um lugar com uma viga mestra capaz de sustentar o mundo: amor. Chego ao colégio pelas mãos da professora Izanhe Trindade e sou recebido por dez, quinze, vinte crianças iluminadas. Anjos que me cercaram, abraçaram-me com poesia e beleza e simplesmente não queriam mais me largar. Milhões de beijos, milhões de “eu te amo”. A escola inteira pára. Tenho que ficar na sala de leitura porque a confusão é grande. Todos querem chegar próximo, conversar com o primeiro escritor que os visita, que eles conhecem de perto. Sim, tudo isso, toda essa enxurrada de afeto foi iniciada graças aos meus contos infanto-juvenis. Os guris passaram meses lendo meus textos. Conhecem quase todos de cor. Meu Deus, Minha Santinha de Nazaré, minha Santa Eulália... Foi uma manhã para sempre. Dessas de realimentar a alma. Muito, muito amor. Amor vindo do mais puro porto: o coração da infância.

FÃS, AUTÓGRAFOS, MOMENTOS LINDOS





























Registros de algumas lindas vivências que a carreira literária tem me dado. Já são 25 anos de caminhadas como escritor. Sim, 25 anos. Comecei aos 11. Aos 36, tantas e tão intensas são as alegrias.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

LETRA PARA ELOI IGLESIAS - FAUNO SAGRADO

E eis que encontro com Eloi Iglesias no elevador da Fundação Tancredo Neves e ele me diz: "Queria que escrevesses uma letra para mim, para um próximo CD. Não sei como ela seria. Tenho só em mente um título FAUNO SAGRADO. Topas?". Eu tanto topei que aí abaixo está a letra:

FAUNO SAGRADO

Carlos Correia Santos

Eu,
semideus,
sobre os meus,
sob os teus,
sou só carne e luz.

Sou belo, alado.
Sou fel e sou fado.
Sou sombra e cruz.

Eu,
fariseu,
tão ateu,
todo teu,
mas só
meu
ser
exalto

És alto,
sou céu.
Sou fogo,
escarcéu.
Se ficas,
eu salto.

A minha dor é meu mito,
o meu prazer minha lenda.
Nasci para brilhar no grito.
Se te cego, ponha a venda.

Venda o real que eu minto.
Sou, enfim, cruel e delicado.
Fique calmo que é bonito,
mas eu voo desesperado

Sou flora fadada, sou não.
Um anjo, um adeus deflorado.
Sou santo, sou vil e sou são.
Sou, assim, teu fauno sagrado.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

MENÇÃO NA REVISTA BRAVO!



Estou muito honrado e feliz por ser citado na matéria da revista Bravo que está nas bancas (edição dezembro/2011). Um belo trabalho, assinado pela sempre compentente Luciana Medeiros, sobre o grande Cláudio Barradas. O texto já adianta a estreia de BATISTA, que acontece em maio de 2012, no Sesc Boulevard. O monólogo com o grande Barradas revisita o legado do célebre Cônego Batista Campos, mentor da Cabanagem. A direção é de Hudson Andrade. Com a dramaturgia de BATISTA, ganhei o prêmio IAP 2008. A matéria está num encarte especial da Bravo sobre a atual cena cultural paraense. Confiram: está um primor. Realmente uma honra poder estar numa publicação relevante, (por que não?) histórica, que mostra ao Brasil os grandes valores de vários segmentos artísticos do Pará.

CAPA DE "PERFÍDIA QUASE PERFEITA" - O LIVRO



A Giostri Editores, de São Paulo, lança mais uma publicação de dramaturgia minha: PERFÍDIA QUASE PERFEITA. O texto, que agora chega a livro, tem trilhado uma boa história. Em 2007, foi um dos escolhidos para participar do edital nacional Seleção Brasil em Cena, promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil. A Cia. Fé Cênica, de São Paulo, montou a obra. O grupo já fez temporadas em Curtiba e na capital paulista. No elenco, Viviane Bernard, Geraldo Machado e Cláudio Marinho. A direção é de Cláudio Marinho.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O DOCE SABOR DE UMA SALADA COM FILÉ DE FRANGO

A situação é adoravelmente curiosa. Lá estou eu, sentado a uma mesa da praça de alimentação do supermercado (concentrado na filosófica tarefa de comer salada com filé de frango) e a voz, tímida, indaga: “você me desculpa se eu perturbar um pouquinho?”. Ergo a cabeça e me deparo com aquele senhor desconhecido, cesta de compras em punho, ar notoriamente constrangido. Respondo, sorrindo: “Fique à vontade”. Ele prontamente se senta junto a mim e vai sapecando: “Olha, desculpa mesmo. Você é escritor, não é? Já te vi na televisão várias vezes. Quando percebi que era você que estava aqui, fiquei nervoso, mas disse para mim mesmo: não vou perder a oportunidade de falar com ele. Tem certeza que eu não incomodo?”. A salada e o frango para mim deixaram de existir totalmente. Tão tenso quanto meu interlocutor, afirmo com total alegria: “Você não me incomoda de forma alguma. Muito pelo contrário. É uma satisfação”. E o senhor me fala que sonha em se tornar escritor, que toda vez que vê ou lê alguma matéria comigo sente que podia ser ele também. Que ficaria enormemente feliz se eu pudesse ler os escritos dele e emitir uma opinião. Repasso meu email, afirmo que será um prazer ler o que ele escreve. Ele se ergue, animado, exultante. Diz que só de receber esse meu retorno já se sente bem mais confiante. E parte, garantindo que me mandará em breve seus parágrafos. E eu? Encabulado, feliz, eu fico ali, alma refeita. Pensando em como sempre valem a pena todas as lutas que travamos para sermos o que o nosso âmago nos manda ser. Penso em mim, lá atrás, vendo meus ídolos da arte de longe. Sonhando em conhecê-los. Hoje, quase todos são meus amigos. Salomão Larêdo, Alfredo Garcia, Nilson Chaves. A salada e o frango tornam-se, então, iguarias com sabor sem par.

domingo, 27 de novembro de 2011

OBRA DE CARLOS CORREIA CHEGA AO POVO DO TIMOR LESTE



Registro emocionante e marcante em minha carreira. Meu representante na Europa, Fercy Nery entrega meu romance “Velas na Tapera” e meu poema “O Mais Leste dos Timores” a embaixadora de Timor Leste, Dra. Natália Carrascalão. O evento aconteceu em Lisboa. Foi a culminância da campanha realizada pela ONG portuguesa EpDAH para arrecadar livros que serão doados ao povo timorense. Minha obra será uma das que chegarão aos nossos irmãos de tão longínquas paragens. Também participaram do encontro os engenheiros membros da EpDAH Rita Pestana, Pedro Carvas, Ana Fonseca, Ruth Vieira, Adorinda Lourenço, Nuno Pedro (representante parceiro da Associação Solidariedade Imigrante-Solim). Conforme conta Fercy Nery, a embaixadora já conhecia meu poema, o que faz a honra ser ainda maior. Os meus versos foram lidos pela engenheira Adorinda Lourenço , antecedendo a entrega da relação simbólica dos livros reunidos pela EpDAH. Foram 2.390 exemplares arrecadados para o povo timorense. Nery relata: “A embaixadora recebeu das minhas mãos o Velas na Tapera, exemplar que fará parte do acervo da embaixada. Seu poema mexeu com todos. Pude sentir uma emoção especial na embaixadora e no Adido da Educação da Embaixada, também escritor, o senhor João Aparício. Todos aplaudiram a leitura no final”.

POESIA-MIM



E assim me fita,
como quem desfia a fita
que uniu o belo à bonita,
que uniu o crer ao acredita,
que criou a união do não a todo sim.

E assim me espreita
com a desfeita mais que enfeita,
com a indimensão que mais estreita,
com a equivocada mais direita,
com o direito de ser não ser sem fim.

E assim e assim
assina-se viúva de minhas mortes,
um existido que me assassina os cortes
e me deixa vid’escrito em nanquim.

E assim, assim
gesta-me anjo na madrugada,
ala-me com pétala delicada
e me torna rosa-querubim.

E assim, por fim, me versa
com uma conversa de quem não vai nem ia,
fita-me com o afã de um tal sorria,
deita-me na boca um não choraria
e se confessa poesia-mim.


Carlos Correia Santos

in POETICÁRIO (RKE, 2005)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

TRINOS TITÃS



Aqui, a capa de TRINOS TITÃS, livro que reúne meus textos teatrais em torno das figuras de Ismael Nery, Adalgisa Nery e Murilo Mendes. A edição é um compêndio com as dramaturgias Nu Nery, Alma Imaginária, Uno Diverso e Ismael em Três Traços. O prefácio é assinado pela musa Dira Paes. Uma publicação da Giostri Editores, de São Paulo. Série Dramaturgia Brasileira.

terça-feira, 22 de novembro de 2011



Em dezembro, estreia a primeira peça de Carlos Correia Santos e Hudson Andrade. Montagem da Unipop.

domingo, 13 de novembro de 2011

VERSOS PARA A GAROA FRIA DE SÃO PAULO


EUSEMMIM.COM.BR
(Carlos Correia Santos, in Poeticário)

Em qualquer canal de TV, madrugada.
Até o último beijo do último filme dos anos 50.
Em qualquer @ roubo d'alma teclada,
em que site minha noite afora entra?

Quem está aí que aqui não está?
Muito prazer! Que prazer há de haver?
Meu nome, na verdade, não é de verdade.
Mas talvez o poema que sou não chegue a te comover.

Na TV, chuva. Lá fora, chove. Dentro de mim: gotas
Na outra tela, a espera por outra tela que o irreal erre.
Mas o virtual é um virtuoso tornar passado o presente
e eu aqui só fico nesse eusemmim.com.br

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

REESTREIA EM SÃO PAULO PERFÍDIA QUASE PERFEITA



Volta ao cartaz de 11 de novembro a 03 de dezembro o espetáculo PERFÍDIA QUASE PERFEITA, de Carlos Correia Santos. A montagem poderá agora ser vista na Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363, Bom Retiro. São Paulo-SP). Uma realização da Cia Fé Cênica. Direção: Cláudio Marinho. Com Geraldo Machado, Viviane Bernard e Cláudio Marinho. Trilha sonora original: Cláudio Hodnik. Iluminação: Sônia Lopes. Cenário e figurinos: Geraldo Machado e Viviane Bernard. Fotos: Lenise Pinheiro. Design gráfico: Reinaldo Elias. Produção: Geraldo Machado e Cláudio Marinho.

SOLO DE MARAJÓ VOLTA AO CARTAZ NO SESC BOULEVARD



terça-feira, 8 de novembro de 2011

DIRA PAES ESCREVE SOBRE OBRA DE CARLOS CORREIA SANTOS



Queridos amigos,

Como eu já havia divulgado aqui, a querida Dira Paes me deu a honra de aceitar escrever o prefácio para o meu livro TRINOS TITÃS, que será publicado pela editora Giostri, de São Paulo. TRINOS TITÃS reúne os meus quatro textos teatrais resultantes da extensa pesquisa que, durante anos, fiz sobre as figuras de Ismael Nery, Adalgisa Nery e Murilo Mendes. São quatro espetáculos teatrais independentes, mas interligados. Obras que já me renderam muitas alegrias. Já recebi vários prêmios regionais e nacionais com essas dramaturgias. TRINOS TITÃS será lançado dentro da série DRAMATURGIA BRASILEIRA, em que dramaturgos são apresentados ao grande público nacional sob as bênçãos de relevantes nomes da arte cênica. Ganho agora mais um prêmio com esse trabalho. Quem me dá essa benção, portanto, é essa pessoa iluminada e que tanto orgulho traz para nós os nortistas. Com vocês, então, a joia de texto que a tão querida Dira compôs sobre meus escritos...

Carlos Correia Santos

O PREFÁCIO

A PRECIOSA TINTA DE UMA MUSA DAS CENAS

O que inspira um poeta?

Qual a sua fonte primeira?

Um mergulho na própria existência?

Trino Titãs convoca Carlos Correia Santos à carpintaria de dramatizar a paixão e a poesia das biografias dessa trinca de artistas que marcaram a História com a sua arte e seu poético, intenso e excitante caso de amor.

O paraense Ismael Nery, a carioca Adalgisa Nery e o mineiro Murilo Mendes são personagens reais e irresistíveis para quem busca uma prática de montagem teatral que penetre profundamente na questão do amor a três. As angústias, os ideais, seus afetos, vão além do que o comum dos mortais vive. São deuses de carne e osso e genialidade.

Cabe dizer que poderíamos reconhecê-los na sociedade contemporânea, pois eram pessoas a frente de seu tempo. Talvez aí morasse a fragilidade destes personagens, que não cabiam dentro de si e de sua época. O autor revolve a desconstrução da estrutura do humano de cada personagem, revelando o convívio angustiante e silencioso com as suas dores e amores.

Em "Nu Nery", Ismael, senhor de seu tempo e da sua inquietude artística, instiga a uma interpretação de um personagem vigoroso. Mesmo em seus últimos suspiros, esbraveja contra os céus: " Meu Deus, para que pusestes tantas almas em um só corpo?... Dai-me, como vós tendes, o poder de criar corpos para as minhas almas... Ou levai-me deste mundo que já estou exausto...", dada a multiplicidade de sua personalidade e a dificuldade de reconhecer-se entre tantas facetas. Ao contrário de sua magnífica obra e de sua impecável formação intelectual.

A estrutura cênica proposta sabiamente pelo autor, na troca de figurinos dos atores em cena, faz com que cada personagem experiencie o jogo cênico da também troca de interpretações. Como se cada ator pudesse se vestir do objeto e sujeito de seus estímulos dramáticos. Desafiando os atores a se apropriarem de todos os personagens com a mesma entrega.

Em "Alma Imaginária", Adalgisa contracena consigo mesma. Ela selou o seu destino. Condenada a conviver com as suas lembranças até a sua maturidade. Isolou-se para que pudesse vivenciá-las sem dispersão: "O que fiz?... Fiz daquela dor meu poema de mortalha... Envolvi com tamanha morte o meu corpo de fêmea eterno luto... E segui..." Sua exuberância física e intelectual eram tão imponentes que não a deixavam passar despercebida. Marcada pela perda de muitos filhos, ela traduz a oca sensação de ser uma mulher maculada pela volúpia e suas perdas irreparáveis.

No monólogo "Uno Diverso", Murilo Mendes se revela: "...Às vezes, penso que conheci Ismael e Adalgisa mesmo antes de me conhecer..." O mineiro é a memória e a consciência de quem se apaixonou por um amor que já existia. E foi fiel a ele. Deixando o legado que permitiu esta pesquisa.

Em "Ismael em três traços", Carlos aproveita para exercitar a alta qualidade dos diálogos entre os vários "Ismaéis", permitindo a falta de linearidade do pensamento. O resultado é um jogo dinâmico do universo dos nossos musos modernistas.

A obra de Carlos Correia Santos ousa para além do exímio jogo cênico proposto aos atores e direção. Sem dúvida, proporciona a possibilidade de grandes voos de interpretação e montagem, dada a riqueza e singularidade em que se deram os fatos e o texto teatral em si.

É impossível desassociar essa tríade como o nosso dramaturgo nos prova. Sua inspirada busca em desvendar cada ponta desse irresistível triângulo de gênios resulta em textos irretocáveis na sua plenitude de prosa e verso. Percebe-se que o nosso premiado autor foi incansável na pesquisa que transcende o papel e que só se enriquece nas entrelinhas. Poeta também, desatou cada nó dessa trama, para depois enlaçar-nos nas redes de uma primazia teatral só encontrada nos textos de grandes dramaturgos.

DIRA PAES
Atriz
Rio de Janeiro, 7 de novembro de 2011

domingo, 30 de outubro de 2011

FEIRA DO LIVRO DE BARCARENA - EMOÇÕES - LINDO CASO Nº 1: LEONARDO



A professora me apresenta: “Leonardo, esse aqui é o Carlos Correia Santos, que você tanto estudou para fazer a apresentação da Gincana Literária aqui em Barcarena”. E o menino de oito anos, que até então sorria largamente, fica pálido, perde toda a ação e me encara, perplexo. Silêncio. Somente seu olhar sobre mim num misto de completa incredulidade e encantamento. E a professora insiste: “É ele, sim, Leonardo. Pode acreditar. Eu não disse que ele vinha. É ele”. Eu sorrio. Estou talvez mil vezes mais encantado que ele. O olhar de fascínio sobre mim é de me fazer comover por mil séculos. Então, pergunto: “Posso dar um abraço em você e tirar uma foto?”. A resposta de Leonardo sai numa voz embargada: “Sim, claro que sim”. Ele olha de novo para professora. Ainda parece não acreditar. E ela repete: “É ele, Leo. Eu não disse que ele era de verdade? É ele!”. Assim, sob a redoma de toda aquela emoção, eu e Leonardo tiramos essa foto ultra mega bela.

FEIRA DO LIVRO DE BARCARENA - EMOÇÕES - LINDO CASO Nº 2: VITÓRIA



A professora me alerta: “Não podes ir embora sem ouvir a Vitória. Está nervosíssima. Vai demorar um pouquinho porque os pais me ligaram dizendo que ela está escolhendo a melhor roupa para vir te ver”. Meu coração? A ponto de explodir. Então, chega a jovem Vitória. Linda. Acima de tudo, vestida com pura alma. A professora informa: “Ela se preparou para dizer um poema teu”. Vamos para um lugar sossegado. A princesa toma fôlego e se entrega a dizer, com a mais bela melodia que já ouvi, meus versos: “Pois eu sou feito alguém / que só está de passagem, / com beijo nas faces, / com passagem marcada. / No olhar, um “além da paragem”. / Flor na garganta trincada. / Alguém esperando por chuva / na estiagem... / Feito alguém que, só, / está de passagem. / Que não fala: diz. / E não fala nada. / Que não quer e quis. / Que só se quer estrada. / Pois eu sou feito alguém / que só está de passagem, / com passagem marcada”. Eu? Como não chorar? Inclino-me, beijos as duas mãozinhas e afirmo: “Agora, sim, esse meu poema faz sentido”.

domingo, 16 de outubro de 2011

VELAS NA TAPERA GANHA VERSÃO E-BOOK



Eis a capa do meu primeiro e-book, editado pela Pubon Comunicação. Trata-se da versão on line do meu querido e premiado Velas na Tapera, obra vencedora do Prêmio Dalcídio Jurandir 2008, da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. O e-book estará disponível nas quatro lojas virtuais da Amazon Store (EUA, Alemanha, França e Reino Unido). Até o início de novembro será também disponibilizado na loja virtual da Pubon (LikeStore no Facebook).

Dica: para ler o meu e outros e-books, baixem o programa Adobe Digital Editions (http://www.adobe.com/products/digitaleditions/#fp)

sábado, 17 de setembro de 2011

NOVO ROMANCE DE CARLOS CORREIA SANTOS GANHA PRÊMIO IAP 2011




Livro é narrado por personagem que costura histórias familiares do autor a fatos históricos do nordeste e da Amazônia


O livro “Senhora de Todos os Passos”, do escritor Carlos Correia Santos foi um dos vencedores do Prêmio IAP de Edições Literárias 2011, na categoria romance (Prêmio Haroldo Maranhão). A obra será editada e lançada pelo próprio Instituto de Artes do Pará. Esta é a terceira vez que o autor ganha o Prêmio IAP. Em 2003, ele venceu a categoria dramaturgia com o texto da peça “Nu Nery”. Em 2008, outra peça sua foi laureada: o texto “Batista”. “Senhora de Todos os Passos” é o segundo romance escrito por Correia. O primeiro, “Velas na Tapera”, venceu o Prêmio Dalcídio Jurandir, promovido pela Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, em 2008, e foi lançado em Lisboa, em junho deste ano.


O romance “Senhora de Todos os Passos” conta a saga da ousada e espirituosa Maria Xavier, personagem inspirada na avó de Carlos Correia Santos, uma nordestina que, segundo o escritor, fez o anti-êxodo. “Numa época em que a maioria do povo do Nordeste partia rumo ao sudeste, ele veio para o Norte. Foi uma mulher fantástica, que teve uma vida cheia de lances espetaculares. Testemunhou o voo do Zepelim, viveu a comoção do assassinato de João Pessoa, esteve perto do universo do cangaço. Foi muito rica e extremamente pobre. Cresci ouvindo as narrativas fabulosas que ela contava. E, justamente por isso, tornei-me escritor. Prometi que, um dia, transformaria os incríveis passos dela em um romance e, para minha grande honra, agora cumpro a promessa”, afirma o autor, emocionado.


A narrativa faz um imenso passeio por episódios importantes da História nordestina e nortista. Das ladeiras de Olinda ao barro da Transamazônica, seres fictícios e várias personalidades reais cruzam o infindável caminho de Maria Xavier. Correia transforma em personagens do livro figuras como Catulo da Paixão Cearense, Irmã Dulce, Corisco, Dadá, Dulcina de Moraes e até Dorothy Stang. “O enredo vai misturando realidade e fantasia. Exatamente como fazia minha avó. É bem aquilo de contar um conto aumentando os pontos”, diverte-se Carlos. Mas ele completa: “Há, porém, muitas vivências de fato experimentadas por minha família. Uma família de negros que tiveram que lutar muito e muito para que a sorte se transformasse e as coisas pudessem melhorar. É uma obra que respira e transpira muitas dores e alegrias reais”.


ANO BOM


O ano de 2011 tem sido produtivo para Correia. Além do recente prêmio do IAP, de ter lançado “Velas na Tapera” em Lisboa, na FNAC Chiado (o escritor é representado na Europa pelos produtores Fercy Nery e Rita Pestana) e de ter duas peças suas apresentadas com bastante êxito em São Paulo (“Perfídia Quase Perfeita” e “A Fábulas das Águas”, montadas pela Cia. Fé Cênica), Correia conquistou o segundo lugar geral da quarta edição do concorrido Seleção Brasil em Cena, edital de fomento à nova dramaturgia brasileira, promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro (CCBB). Carlos foi o único autor da região Norte escolhido para o projeto. O certame selecionou também um escritor do Nordeste. Os demais foram das regiões sul e sudeste. A obra com que Carlos Correia foi destacado é o monólogo “Um é Multidão”. Essa foi a segunda vez que o paraense participou da iniciativa. Em 2007, o escritor também foi selecionado para o concurso justamente com sua comédia “Perfídia Quase Perfeita”.


Criado para propiciar o contato do público com novas dramaturgias e estimular o intercâmbio entre autores, atores e diretores contemporâneos, o Seleção Brasil em Cena permite com que os 12 textos selecionados em cada edição ganhem leituras dramáticas dirigidas por grandes nomes da atual cena teatral brasileira. O texto de Correia foi dirigido por Gilberto Gawronski, ator e diretor vencedor de importantes prêmios, como o Mambembe e o Sharp. Em 2007, a obra do nortista foi dirigida por Stella Miranda, que viveu a síndica do humorístico Toma Lá Dá Cá, exibido na Rede Globo.


Apresentadas no próprio CCBB Rio, as leituras dramáticas foram realizadas por alunos formandos em escolas de teatro da capital carioca. Ao final de cada leitura, o público atribuiu notas. Os espectadores deram a Correia o segundo lugar geral na competição.

TRECHO DA OBRA


A PRIMEIRA PARTE DESSES IDOS


Ainda no Nordeste...
Quando era por volta de 1920...

Como nasci? Da poeira. Costumo repetir e repetir: nasci da poeira. Sim, houve o parto. Houve o vir do ventre. Mas para a vida inteira que me gestou, nasci da poeira. Guardo como certidão de tal fato o dizer daquele que me criou e me fez pronunciar a palavra pai. João Xavier. Era ele quem contava. Foi quando baixou o poeiral seco sem fim, ocre-carmim... Foi quando baixou aquele pó do sem tempo que ele viu vindo pela estrada a velha negra, cabelos nuvados de tão brancos. A velha com a criança no colo. Menina bronze nua. Uma estrada qualquer no entorno perdido entre a pernambucana cidade de Garanhuns e o desconhecido... Contava ele: o carro que dirigia – o Ford de Bigode – pareceu ficar mais lento sem desaceleração qualquer. Ele grudado ao volante. Alma grudada num inexplicável nó na garganta. E, por entre a poeira, aquela imagem, a imagem daquelas duas tão cheias de nada. A velha e uma menina no colo. Feito fosse uma dessas estátuas de procissão. A menina? A menina era eu. A velha? Minha avó. É só o que sei. Não foi o carro que se aproximou daquelas duas lassidões. Foi o destino que estreitou o afastamento. Estreitou, estreitou. Até que o automóvel lento freasse. Lento parasse rente à velha com a menina no colo.

- Está indo para onde, minha tia? – Foi a pergunta do motorista que mais tarde muito de minha vida dirigiria.

O que sei é que a resposta da mãe de minha mãe se fez seca:

- Oxi... – Penso que o enxergar preso na inexatidão – Tô pra num sabê dadonde vim, moço... O que dirá pra donde vô...

- E o que foi que houve, senhora?...

- Minha fia... – Suponho... Apenas suponho que o sol infindo tenha feito cintilar o resto de choro que havia nos olhos da negra anciã – Minha fia, mãe dessa menina... A bichinha morreu parindo, moço... Eu tô que num sei de mais nada... Num sei que caminho tinha atrás de mim... Num sei pra donde leva o caminho que vai pra acolá...

Sei também que ali, dentro do carro, João Xavier sentiu – de algum modo sentiu – que a vida lhe estava abrindo as pernas e dando à luz algum novo.

- Quer alguma ajuda, minha tia?

Suponho... Apenas suponho: houve a poeira do infinito no olhar que a velha deu para o motorista...

E, num ato mecânico, gerado talvez pela dor do oco... Num ato mecânico, ela estendeu os braços e ofereceu a menina para o homem. Eu... para aquele que me fez pronunciar a palavra pai... Dando olhar de infinito para o estranho, minha avó me deu.

Tudo isso assim conto porque suponho...

Imagino que João me recebeu em seus braços muito mais por desentendimento que por querer intentado. Ele em seu colo me recebeu. Diria mais tarde que me amou como filha naquele instante exato. Naquele instante exato...

Nada disseram. A velha e o motorista. Nada. Fitaram-se um pouco mais e o resto veio. Minha avó foi. João Xavier ficou. A poeira a subir e a velha de brancos cabelos – nuvados – a ir. A partir. Engolida pelo coisa alguma. Devorada pelo ocre-carmim. Foi-se ela. Foi-se. Sumiu.

E aquele que, a partir dali teria que ser meu pai, tomado pelo não se entender. Ele não entendia a si mesmo. Por que aceitara receber aquela criança? Por quê?

Foi-se minha avó. Para nunca, nunca mais.

E para a casa de João Xavier eu fui.

Eu?

Esse eu quem sou?

Sacudo-me a rir...

Estou com a cabeça apoiada no colo de minha filha, as costas esparramadas no chão frio... Ao meu redor, uma procissão. Um Círio a esperar que eu lembre... De tudo...

Então, explico. Essa quem sou?...

Maria. O nome que receberia de João. Maria. A do rumo dessa história que já iniciei a lhes conceder...

Maria.

Dos mil caminhos... Senhora de todos os passos...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

BAITA VITÓRIA






Caros amigos,

Como vocês têm acompanhado por aqui, entre mais de uma centena de inscritos, meu texto UM É MULTIDÃO foi escolhido para participar do Edital Seleção Brasil em Cena, realizado pelo Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio de Janeiro. A obra foi uma das 12 finalistas do projeto. Fui o único autor da região Norte elencado. Os demais eram do Rio e de São Paulo e apenas um representava o Nordeste. A proposta do concurso é a seguinte: os textos finalistas ganharam leituras dramáticas dirigidas por grandes nomes do teatro nacional (o meu foi dirigido pelo fantástico Gilberto Gawronski). As leituras foram apresentadas no Teatro III, do CCBB Rio. O público que assistiu teve direito de dar notas de 0 a 10 para as dramaturgias. Entre os textos que recebecessem melhores notas do público e dos diretores, seriam escolhidos os três grandes vencedores. Primeiro, segundo e terceiro lugar.

É com muita honra que divulgo para vocês que é UM MULTIDÃO ficou em segundo lugar no resultado geral do concurso. Para um autor nortista, concorrendo com excelentes dramaturgos do país inteiro, sendo apreciado e votado pelo público carioca, segundo lugar é o mesmo que vencer. Estou muito feliz, comovido, emocionado. Sem utopias quaisquer, essa não é uma vitória só minha. Partilho-a com vocês, meus amigos, com minha infalível família, com minha leoa-mãe, com meu amor. Obrigado ao Teatro, a Dionísio, a minha amada Santa Eulália. Obrigado aos amigos paraenses que lá estiveram. Obrigado aos lindos atores cariocas que tão intensamente defenderam meu/nosso texto. Obrigado a Gilberto Gawronski pelo presente da direção. Obrigado ao Centro Cultural Banco do Brasil.

OS VENCEDORES

1° lugar - NÃO ME DIGA ADEUS - autor Juliano Marciano ( São Caetano do Sul -SP)

2° lugar - UM É MULTIDÃO - autor Carlos Correia Santos (Belém - PA)

3° lugar - QUERIDOS CONVIDADOS - autora Marcela Moura ( Rio de Janeiro RJ)

UM É MULDITÃO está sendo editado em livro pela Giostri Editora.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

UM É MULTIDÃO TRANSFORMADO EM PÁGINAS



Em primeiríssima mão, eis a capa de UM É MULTIDÃO. Explico: o meu texto (escolhido para participar do projeto Seleção Brasil em Cena, do CCBB, Rio) está sendo publicado em livro pela Giostri Editora, de São Paulo, sob a coordenação de Alex Giostri. Esse é, na verdade, o primeiro lançamento de uma série de publicações que a Giostri fará das minhas dramaturgias.